quinta-feira, 15 de março de 2012

O lado negro de ser doador de órgãos


O blog Paranoia Sociedade Anonima, quer deixar claro que não é contra a doação de órgãos e que tem total conciencia da importância desse procedimento para salvar vidas, mas defende acima de tudo que seja de forma correta humanitária e digna a família e ao doador.
Não é fácil ser doador de órgãos. Mesmo que você autorize, ainda em vida, que os médicos aproveitem o que puderem do seu corpo para transplante, o sucesso depende de como você morre.
Muitos tipos de óbito são causados por falência do coração ou da respiração, o que deteriora os órgãos rapidamente e os torna imprestáveis. Por isso, a maioria das legislações (incluindo a do Brasil) define que a retirada de partes do corpo de um paciente só pode ser feita após o diagnóstico de morte encefálica, ou morte cerebral. Mas será que esse critério é preciso?
Se houver assinatura prévia sua ou de seus parentes, a sua família perde os direitos sobre o seu corpo assim que você for declarado morto. E a declaração é feita com base na morte cerebral. Por essa razão, tem havido muitas discussões para determinar o que pode ser considerado morte encefálica e o que não pode.
Na rotina dos hospitais, o exame que se usa para chegar a uma conclusão é rudimentar. O médico checa os reflexos corporais com testes simples, tais como espirrar água gelada nos ouvidos para ver se os olhos tremem. Quando um doutor precisa de uma resposta mais exata, geralmente recorre ao teste de apneia, ou seja, a suspensão da respiração.
Este experimento, feito em pacientes que respiram por aparelhos, é simplesmente desligar a máquina e ver se ele continua respirando. Se não, a morte cerebral é registrada. O problema é o seguinte: depois que o paciente “reprova” no teste de apneia, os médicos recolocam os aparelhos nele. Ele volta a respirar, o coração volta a bater, a temperatura e as funções vitais se mantêm. Tudo lembra um ser humano vivo, exceto o fato de que a morte cerebral foi declarada.
Muitos médicos não gostam da ideia de considerar morta uma pessoa que ainda conserva todas as funções vitais, mesmo que com ajuda da tecnologia. Mas os órgãos já podem ser retirados de um paciente nestas condições se houver autorização.
Como se trata de operar um corpo “morto”, não se usa anestesia. Já houve muitos relatos em que o “cadáver” reagiu aos cortes com bisturi, apresentando pressão arterial elevada e batimentos cardíacos crescentes. Em 1999, houve até o caso de um paciente que teria se mexido durante a retirada de órgãos. Neste caso o “morto” disse em entrevista que chegou a ouvir o médico declará-lo como tal.
Geralmente, tais reações são classificadas como reflexos naturais. Mas a ciência ainda não comprovou que um paciente nestas condições está realmente morto e não sente dor.
Por essa razão, as autoridades médicas haviam determinado, no passado, que a morte cerebral só pode ser declarada se o encéfalo não emitir mais ondas cerebrais. Até 1971, era obrigatório constatar que o cérebro não emitia mais ondas (o que é um sinal de falência do córtex), através da eletroencefalografia (EEG, na sigla em inglês).
Desde então, esta checagem foi considerada desnecessária, apesar de vários estudos indicarem que muitas das vítimas de morte encefálica ainda emitiam ondas cerebrais.
Não é nada barato receber um órgão em um país como os Estados Unidos, onde todo o sistema de saúde é privatizado. O custo total de um transplante (incluindo os procedimentos antes e depois da cirurgia) por lá fica em 750 mil dólares (o equivalente a R$ 1,35 milhão).
Cada doador pode fornecer em média 3,3 órgãos, ou seja, seu corpo “vale” mais de dois milhões de dólares (algo em torno de 3,6 milhões de reais). Mas nenhum hospital compra órgãos de voluntários, a doação é realmente uma doação. Esta situação incentiva diretamente o tráfico de órgãos.
Considerando este panorama desigual, aumenta o número de pessoas que lutam pelos direitos dos doadores de órgãos, ainda que (supostamente) mortos. Alguns cientistas pedem por maior cuidado na hora de diagnosticar um óbito como “morte cerebral”. Além disso, defendem que deve haver uma leve anestesia mesmo no caso de morte encefálica comprovada, já que há estudos indicando que pode haver dor, mesmo neste estágio. [WallStreetJournal, Foto]
Fonte: http://hypescience.com

O MERCADO NEGRO DE TRAFICO DE ORGÃOS


Um antropólogo da Universidade Estadual de Michigan, que passou mais de um ano infiltrado no mercado negro de rins humanos, publicou o primeiro estudo de campo que descreve as terríveis experiências que as pessoas mais pobres passam, devido ao tráfico de órgãos.
Monir Moniruzzaman entrevistou 33 pessoas que venderam seus rins, em Bangladesh, e descobriu que eles tipicamente não recebem o dinheiro prometido e ainda carregam sérios problemas de saúde, que os deixam deprimidos, envergonhados e algumas vezes sem poder trabalhar.
Moniruzzaman comenta que as pessoas que vendem seus órgãos são exploradas por pessoas desonestas. A maior parte dos receptores dos órgãos são pessoas de Bangladesh que vivem em locais como os Estados Unidos, a Europa e o Oriente Médio. Como esse tipo de comércio é ilegal, os vendedores forjam os documentos para indicar que o vendedor e o receptor são parte da mesma família.
De acordo com Moniruzzaman, médicos, hospitais e empresas relacionadas fecham os olhos para esses atos ilícitos porque acabam lucrando com isso.
A maior parte das 33 pessoas de Bangladesh teve o rim removido na fronteira com a Índia. Geralmente, o vendedor pobre e o receptor rico se encontram em um local médio, e o transplante é realizado no momento.
“Isso é um sério tipo de exploração das pessoas mais pobres. Seus corpos viram negócios para prolongar a vida dos mais ricos”, comenta o pesquisador.
O trabalho inclui as experiências de Mehedi Hasan, um jovem de 23 anos que vendeu parte do fígado para um receptor rico de da capital de Bangladesh, Dhaka. Como muitos dos residentes pobres do país, Hasan não sabia o que um fígado era. O vendedor explorou isso, e disse que faria Hasan rico.
O receptor morreu pouco depois do transplante. Hasan recebeu apenas parte do dinheiro prometido, e agora está muito doente para trabalhar, andar longas distâncias e até respirar propriamente. De acordo com Moniruzzaman, ele pensa constantemente em se matar.
Os vendedores de órgãos geralmente conseguem suas “presas” através de anúncios falsos. Um deles, em um jornal de Bangladesh, prometia recompensar o doador de rim com um passaporte para os Estados Unidos. Moniruzzaman coletou mais de 1.200 anúncios similares para o estudo.
O comércio de órgãos está crescendo em Bangladesh, um país onde 78% da população vive com menos de dois dólares por dia (R$ 3,60). O preço médio por um rim é de 100 mil takas (cerca de R$ 2.510), um valor que tem baixado muito devido à intensa oferta.
Uma mulher anunciou que estava vendendo sua córnea para que pudesse alimentar a família. A justificativa era que precisava de apenas um olho para ver. O transplante não aconteceu, mas Moniruzzaman afirma que já houveram casos de córneas sendo vendidas.
Moniruzzaman afirma ser importante notar que a maior parte dos vendedores não fazem “escolhas astronômicas” no preço dos órgãos, pois são manipulados. Ele comenta que o mercado global de órgãos é um fenômeno relativamente recente – tornou-se possível com os avanços médicos dos últimos 30 anos, e representa uma das formas mais grotescas de exploração humana.
Para combater esse tipo de tráfico, o autor recomenda, entre outros passos:
Pressão global. Os Estados Unidos deveriam ter um papel ativo em pressionar os governos estrangeiros a entenderem o problema e acabar com os vendedores, receptores, médicos e pessoas envolvidas no negócio.
Transparência e garantia. O governo deveria garantir que todos os centros tenham registro para transplantes, e verificar a relação entre os doadores e os receptores.
Doação de órgãos após a morte. Países como Bangladesh não possuem um sistema em que as pessoas possam doar seus órgãos após morrer.
Moniruzzaman afirma que, realmente, o tráfico de órgãos não vai deixar de existir. “Mas com esforços colaborativos, podemos reduzir significativamente essa terrível violação dos direitos humanos”, diz. [ScienceDaily]