As Forças Aéreas dos E.U.A. ativadamente investigou aparições de OVNIs baseada num projeto chamado Projeto Livro Azul (Project Blue Book). O programa começou em 1947 e terminou no dia 17 de Dezembro de 1969. O Projeto Livro Azul investigou 12.618 aparições de OVNIs e 701(5.6%) destas aparições continuam não-identificadas. Críticos acham que as investigações feitas das aparições de OVNIs eram de feitas de forma errada e não científicamente. Os críticos acreditam que o Projeto Livro Azul foi criado como uma mera campanha de relações públicas pelas Forças Aéreas americanas para acalmar o medo do público em relação aos OVNIs. Os críticos ainda acreditam que a principal meta do projeto era esconder a verdade sobre os OVNIs.
Os resultados finais do Projeto Livro Azul foram:
Nenhum OVNI encontrado, investigado e distinguido pelas Forças Aéreas nunca foi indicação para o uso de nossa segurança nacional nunca houve evidências encontradas ou descobertas pelas Forças Aéreas as aparições "não-identificáveis" representam o desenvolvimentos tecnológicos ou princípios que passam pela marca de conhecimento científico moderno nenhuma evidência indicou que as aparições possam ser consideradas como veículos extra-terrestres.
O Projeto Livro Azul determinou que as aparições de OVNIs foram o resultado de: uma leve forma de paranóia em massa indivíduos que inventam tais relatos apenas pela publicidade pessoas psicopatológicas erro na identificação de vários objetos comuns
Projeto Livro Azul foi a continuação de antigos projetos militares para a investigação do fenômeno OVNI - como o Projeto Sign e Projeto Grudge. O quartel general do projeto era em Wright-Base da Força Aérea de Patterson. A missão do Projeto Livro Azul era investigar o alarmante número de aparições de OVNIs e tirar uma conclusão que consistisse na resposta de pergunta: "Qual é a origem dos OVNIs?".
O Secretário das Forças Aéreas dos E.U.A. Robert C. Seamans, Jr., terminou o projeto porque as Froças Aéreas dos E.U.A. não conseguia mais justificar o projeto para o departamento de segurança nacional nem para departamento de estudos científicos. Depois de fechar o Projeto Livro Azul as Forças Aéreas dos E.U.A. não demonstra mais o mínimo interesse nas aparições de OVNIs.
Críticos acreditam que os membros do Prjeto Livro Azul esconderam a verdadeira estória sobre s OVNIs. Desde que o documento divulgado foi o de número 16, eles se perguntam o que aconteceu com o número 15. O programa utilizou pobres métodos de procura e os seus investigadores eram muito impulsivos para marcar uma aparição misteriosa como um 'fenômeno identificado'. O objetivo do Projeto Livro Azul era de explicar cada caso como 'identificado'mesmo que não houvesse nenhum tipo de evidência suportando a explicação. Os críticos acreditam que os membros do Projeto Livro Azul foram pressionados para 'identificar'as aparições de OVNIs para deixar o público calmo. Esta teoria foi comprovada com a recente divulgação de documentos atravéz da CIA. Eles também dizem que qualquer relato que não fosse explicável de qualquer forma e que fosse causar a atenção do público nunca foi incluído no Projeto Livro Azul. Eles dizem que estes relatos foram tranmitidos para uma autoridade superior que nunca divulgou estes resultados para o público.
Os críticos acreditam que mesmo assim o Projeto Livro Azul, sendo uma campanha de relações públicas das Forças Aéreas dos E.U.A., foi incapaz de identificar 5.5% dos casos. O que era o OVNI nestes casos? Será que estes casos deveriam receber um estudo mais aprofundado? Será que algum destes casos possa selar a maior descoberta do ser humano?
O Prjeto Livro Azul era suposto por um fim no debate sobre OVNIs, porém apenas intensificou a controvérsia.
Investigar OVNIS
O Projeto Livro Azul foi criado em 1952 para investigar as constantes visões de OVNIS que ocorriam nos EUA naquela época. Ele é considerado um dos maiores projetos criado para investigar fenômenos de natureza extra-terrena. Durante as décadas de 50 e 60, o Projeto Livro Azul investigou e relatou centenas de casos ufológicos. Contudo, nenhum de seus relatórios mostrou que os métodos de pequisa podiam ser seguros para negar a existência de OVNIS, senão para gerar dúvidas sobre aqueles casos em que houve uma perspectiva excelente de contato. É neste ponto que se criam as dúvidas sobre o Projeto. Aqueles casos em que ele classificou como possível o contato, não seriam eles verdadeiros? Não seria o Projeto um instrumento para criar confusão entre as opiniões científicas da época? Por que alguns relatórios não foram tornados públicos? Cabe ao internauta, agora, pequisar e tirar suas próprias conclusões, de nossa parte tentaremos recolher o máximo de informações possíveis para o discernimento do amigo. Boa Leitura...
09 OBJETOS NO AR
Em 24 de junho de 1947, um piloto comercial, especializado em vôos de montanha, sobrevoava em seu avião o Monte Ranier, Estado de Washigton EUA,. Eram aproximadamente 15H quando o piloto observou 9 objetos em forma de pratos, de cor prateada a cerca de 9500 pés de altura. Os objetos voavam em forma retilínea. Um após ao outro, formavam algo ao parecido como uma corrente; alguns desses piscavam ligeiramente. O piloto acompanhou-os por cerca de cinco milhas. A classificação data pelo Projeto Livro Azul foi de aparente confiabilidade.
GOWEN FIELD
Por volta das 13H, vários observadores de terra, entre eles três membro do Esquadrão de Caça da Guarda Nacional americana, e um piloto particular avistaram um objeto em forma de moeda e de cor negra por cerca de 15 segundos; o objeto realizou várias manobras ziguezagueando en quanto subia, manobra pouco provável de ser realizada para as aeronaves da época. O piloto da aeronave em vôo pôde filmar por cerca de 10segudos a manobra do objeto. Esses depoimentos foram considerados bons em todos os seus elementos pelos oficiais do Projeto Livro Azul.
BASE AÉREA GOOSE
O piloto da Real Força Aérea Canadense avistou no céu de Labrador (Canadá), por volta 1h28min, um objteo em forma de estrela, de cor branca-azulada e vindo em sua direção. A aproximação foi ao ponto de o objeto plainar verticalmente sobre a testemunha por cerca de 25 minutos. No relatório de investigação da Força Aérea Norte-americana constou que não havia nenhuma hipótese de se tratar de outro avião ou um satélite, pois não havia nenhum registro de aeronave na região no momento do contato e o satélite possível para avistamento não poderia ter-se deslocado na velocidade com que foi vista pelo piloto, pois não existia registro dessa velocidade nos órgãos que controlam os satélites nos EUA. Classificado pelo Projeto Livro Azul como excelente confiabilidade no testemunho do piloto.
BASE AÉREA DE RICHARDS
"Primeiro o objeto apareceu no 'Cinto de Órion' e se delocou em arco até sudoeste, passando a 1 grau ao sul de 'Sírius' antes de sumir no horizonte". Essas são as palavras do major da Força Aérea dos EUA e repetidas pelo engenheiro da Link, ambos astrônomos amadores. Em abril de 1960, no Estado de Missouri, os dois avistaram este objeto por volta das das 8h25 e por cerca de 2min. O Projeto Livrou Azul observou que a velocidade do objeto poderia ser grande devido a distância que separam a constelação e a estrela. Confiabildade do testemunho: excelente.
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terça-feira, 30 de março de 2010
A Experiência Filadélfia - A Verdadeira História contata por um sobrevivente
Por Al Bielek, na conferência sobre Ets e Governo 11-12 de agosto de 1990, Sedona, Arizona, EUA Traduzido por Eustáquio Andréa Patounas Prefácio - Meu nome é Al Bielek. Sou um sobrevivente do Experimento Filadélfia - assim chamado porque sua última fase foi realizada nas docas de Filadélfia, Pensilvânia. Quantos de vocês sabem alguma coisa sobre o que foi o Experimento Filadélfia? Bastante, parece que a história tem circulado. Vocês têm alguma idéia de como começou? Quantos de vocês pensam que começou durante a guerra entre 41- 42? Quantos acham que começou mais cedo? Mais uma vez, vocês estão certos.
Como tudo começou
Essa história teve início muito antes da guerra, em 1936, a partir de um estudo de visibilidade, feito na Universidade de Chicago, no qual estavam envolvidos algumas pessoas muito conhecidas - Dr. Nicola Tesla, John Hutchinson (reitor da Universidade de Chicago) e o Dr. Kurtenauer um físico austríaco da Universidade.
Naquela época, havia uma grande especulação por parte da imprensa sobre a possibilidade de tornar objetos invisíveis e fazê-los ir de um ponto A para um ponto B, instantaneamente.
Foi então que essas três pessoas resolveram ver se podiam fazer alguma coisa a esse respeito e começaram a estudar o que seria necessário fazer para tornar um objeto como - não vou dizer um navio da Marinha, mas quem sabe uma caixa comum, invisível. Aparentemente, rumores começaram a se espalhar e a Marinha começou a interessar-se, passando a fornecer os fundos para a pesquisa.
Em 1934, ainda sem resultados importantes, a pesquisa foi transferida para o Instituto de Estudos Avançados (Institute of Advanced Studies) em Princeton, Nova Jérsei. O Instituto que havia sido fundado em 1930, só começou a funcionar de verdade a partir de 1933 quando pessoas de peso, como Albert Einstein, foram convidadas a dele participar. Einstein partira da Alemanha em 1930 e ensinara em Cal-Tech durante 3 anos. Com a novo emprego, mudou-se para Nova Jérsei, onde morou até sua morte em 1955. O Dr. John von Neumann entrou na equipe em 1933; também havia deixado a Alemanha em 1930, tornando-se um professor adjunto no Instituto - para ser mais exato, na pós-graduação da Universidade de Princeton. Juntou-se ao Instituto, em1933.
Nikola Tesla
filadelfia6Todo mundo sabe alguma coisa sobre Tesla, mas quase nada sobre sua história, porque muito pouco foi publicado a esse respeito. Quantos de vocês já viram um filme Iugoslavo chamado O Segredo de Nikola Tesla de Xavier Productions? Poucas pessoas o viram. É um filme excelente, bem feito, com mais ou menos duas horas de duração. Mostra sua infância e o início de sua vida de adulto nos EUA, como se envolveu em pesquisas e as armadilhas e tribulações que enfrentou. Tesla nasceu em 1863 em Smoljian, de pais pobres; o pai era pastor e a mãe, apesar de analfabeta, possuía bastante habilidade como inventora. Tesla queria ser engenheiro, porém seu filho preferia que se tornasse pastor. Quando Tesla ficou gravemente enfermo, seu pai reconsiderou a questão, consentindo que fizesse engenharia. Matriculou-se em 1879 e cursou um ano, até seu pai morrer (tudo está nos arquivos públicos). Sem poder pagar seus estudos, Tesla continuou freqüentando a universidade como ouvinte. Nunca recebeu um diploma, mas era muito estimado por seus professores. Trabalhou algum tempo na companhia telefônica iugoslava e depois, uns dois anos na divisão européia da Companhia Edison em Paris.
Em 1884, com a idade de 21 anos, embarcou para os EUA. Tendo perdido sua bagagem durante a viagem, apresentou-se ao Serviço de Imigração dos EUA somente com “um livro de poesias, quatro centavos no bolso e o conhecimento de onze línguas.” Mas talvez o mais importante, fosse uma carta de apresentação para Thomas Alva Edison, escrita pelo diretor da European Works.
Tesla trabalhou no que aparecia, inclusive cavando fossas, até conseguir ver Edison. Os dois não se entenderam muito bem no início. Na Europa, Tesla havia desenvolvido o sistema polifásico de corrente alternada (CA), usado hoje em dia. Desenvolveu a teoria para a qual requereu patente nos EUA. Acabou por fazer vinte. Quando apresentou sua idéia a Edison, que defendia a corrente direta (CD), esse, um novato na matéria, disse: “Entendo muito sobre o assunto e acho que corrente direta é melhor. Funciona; eu mesmo o provei”. O que havia feito de fato, mas naquela época, ninguém estava preocupado com transmissão de força a longa distância. De qualquer maneira, após uma discussão sobre dinheiro, Tesla deixou o emprego que tinha com Edison, voltando a cavar fossas.
Foi “descoberto” pelo chefe da Western Union, que vendo-o um dia, perguntou-lhe: “O que você está fazendo aí, nesse buraco?” “Estou cavando.” respondeu. “ Que tal desenvolver um motor de CA, que ouvi dizer que você projetou?” Tesla respondeu: “Sim, mas não tenho dinheiro nem laboratório”. Ficou combinado então que a Western Union patrocinaria o projeto com U$30.000 dólares e isso foi o sinal de partida para o Sr. Tesla.
Ele construiu seu primeiro motor e sistema gerador; tornou-se também um palestrante famoso no Instituto de Engenharia Elétrica de Nova Iorque. Em uma dessas palestras conheceu George Westinghouse, diretor-presidente das Indústrias Westinghouse. Westinghouse ofereceu-lhe jantar e U$1 milhão em dinheiro em troca de suas vinte patentes, o que era muito dinheiro naquela época. Westinghouse também disse, “ Pagarei um dólar por unidade de força (horsepower), para cada unidade de força gerada pelos seus sistemas”. Tesla não estava levando a sério a oferta, mas Westinghouse, sim. Fizeram um acordo e a partir daquele momento, as coisas começaram a progredir.
Tesla naturalizou-se cidadão americano em 1887. Teve sua audiência com Edison. Conheceu também, um certo J. Pierpont Morgan, que passou a figurar proeminentemente em sua vida financeira, assim como na de Edison e outros. Aconteceu então, talvez, a virada mais importante de sua vida - a concorrência para construir a maior usina hidrelétrica dos EUA, em Niagara Falls. Edison pensava ganhar com seu sistema de circuito duplo (CD). Pierpont, investigou o que havia sido feito na Europa usando o sistema Tesla e deu-lhe o projeto.
Tesla construiu o sistema com grande sucesso. Em seguida, em 1893, iluminou a Feira Mundial de Chicago além de mostrar ao público, o modelo de um barco controlado por rádio (isso, dez anos antes do anúncio da invenção do rádio por um certo Sr. Marconi, na Itália, que mais tarde, figurou proeminentemente em batalhas legais). De qualquer maneira, Tesla repetiu a demonstração em 1898 no Madison Square Garden, para satisfação de todos, inclusive do Sr. Morgan. Em 1899, decidiu fazer mais pesquisas e foi para Colorado Springs, onde construiu um laboratório famoso, onde durante dois anos fez diversas coisas interessantes. Construiu uma espiral Tesla gigante, que ainda consta como um recorde (se procurarem nos livros certos).
Descobriu muitas coisas, dentre elas, aparentemente, ser possível comunicar-se com Extraterrestres. Fez uma declaração nesse sentido para a imprensa, quando já estava no final de seu trabalho em Colorado Springs, fato que não foi bem recebido por seus colegas cientistas.
Tesla continuou a explorar outras áreas. Queria desenvolver um sistema de força sem fio, além de ter idéias sobre comunicação sem fio, rádio e televisão. Morgan estava totalmente convencido e patrocinou a construção da famosa torre Warden Cliff em Long Island. A construção foi interrompida em 1906, quando Tesla procurou o Sr. Morgan e disse: “Sr. Morgan, o objetivo dessa torre é construir um sistema para demonstrar a transmissão de força sem fio, de maneira que qualquer um possa captar força em qualquer lugar.” O Sr. Morgan que era um homem prático e visava os dólares, disse: “Sr. Tesla, o sr. está querendo me dizer que com esse seu projeto, uma pessoa poderá enfiar uma vara no chão, outra no ar e captar toda a força que quiser grátis, sem que eu possa colocar um medidor? Eu lhe direi quando estiver pronto para isso”. Obviamente, esse foi o fim do projeto.
O trabalho na torre foi abandonado em 1911, e essa foi dinamitada por desconhecidos; ainda existem fotografias. Em 1917, a Primeira Grande Guerra começou.
Tesla vai para Washington
filadelfia7Na ocasião, Franklin Delano Roosevelt era sub-secretário da Marinha e convidou Tesla para ir a Washington oferecendo-lhe um trabalho na Marinha. Mesmo com a guerra, Tesla respondeu: “Certamente.” Naquela época, ele fazia parte da Companhia Marconi Americana (American Marconi Company), na área de Nova Iorque. Durante a guerra ela foi ocupada pelo governo americano, por ser considerada um possível ninho de sabotadores, espiões, etc. - numa demonstração típica da histeria de guerra. O Sr. Tesla permaneceu na organização e trabalhou muito. Entre outras coisas, Tesla desenvolveu o sistema de comunicação Rogers, que foi mantido secreto e registrado sob o nome Rogers e não Tesla. Ele possibilitou, durante a I Guerra Mundial, uma comunicação verbal com a Europa, livre de estática, coisa inédita na época. Foi uma operação militar, que veio a conhecimento público em 1923, quando Hugo Gernsback, ou alguém de sua equipe escreveu um artigo a respeito. O sistema desapareceu. Porém, foi patenteado em nome de Rogers, funcionou e ainda é usado. Em 1919, decidiram formar uma nova empresa com o que havia sobrado da Companhia Marconi (Marconi Company) - RCA - Corporação Radiofônica da América (Radio Corporation of America). Foi incorporada em 12 de agosto de 1919 tornando-se uma entidade operacional em dezembro de 1919. Tesla era um de seus melhores engenheiros; mais tarde, tornou-se diretor do departamento de engenharia. Em 1935, tornou-se diretor mundial de pesquisas em engenharia além de vice-presidente, cargo do qual aposentou-se em 1939.
Dificilmente era o recluso que foi apresentado no filme; uma das razões era seu cargo executivo. Houve uma grande festa por ocasião de sua aposentadoria em Cherry Hill, Nova Jérsei, o que está nos arquivos. A fotografia de Tesla aparecia no jornal interno da RCA; não cheguei a ver, mas amigos meus viram .
O Projeto de Invisibilidade de Tesla
Em 1931, Tesla envolveu-se com o projeto de invisibilidade que havia sido transferido para o Instituto em 1934, mas também trabalhava em outras coisas, como um sistema de armamento de raios feito de partículas, que foi desenvolvido em meados dos anos trinta. Foi oferecido a vários governos ao mesmo tempo - EUA, Grã-Bretanha, Canadá, que o recusaram, com exceção da Rússia que comprou um modelo operante por U$25.000, assim me disseram.
Outra coisa em que trabalhou, foi um sistema de raio-mortal - na verdade, um laser extremamente potente - em 1938/39 e que foi demonstrado em White Sands, Novo México. Algumas pessoas testemunharam o evento. O raio desintegrou tudo o que havia em seu caminho, inclusive o topo de um morro. O governo considerou a arma um exagero e mandou destruí-la, para evitar o risco de que caísse em mãos inimigas.
O primeiro teste parcialmente bem sucedido do projeto de invisibilidade do Instituto de Estudos Avançados, realizou-se em 1936. Conseguiram tornar um objeto do laboratório parcialmente invisível. Todos pensaram que, pelo menos, essa era uma confirmação parcial do trabalho teórico; estavam trabalhando na direção certa. A Marinha aumentou seu patrocínio financeiro. Encontraram-se de posse de uma boa soma para gastar e certamente, Franklin Delano ficou muito contente com os resultados. Mais algumas pessoas entraram na equipe. O Instituto, por sinal, não estava vinculado somente a esse projeto; estava envolvido em muitos outros, e seus programas de pesquisa cobriam uma boa gama.
O projeto não era considerado secreto naquela época. Em 1940, conseguiram seu primeiro sucesso total, utilizando um navio tênder - um pequeno navio da Marinha - no estaleiro do Brooklyn. Colocaram o equipamento no navio; não havia funcionários, pela simples razão que não queriam correr riscos, no caso de algum problema. O tênder ficou posicionado entre outros dois navios onde estava colocado o equipamento que ligava as espirais no tênder; a força passava através de longos cabos. O equipamento foi ligado tornando o navio invisível; foi um grande sucesso. Lembrem-se de que não havia ninguém a bordo. Fizeram funcionar as ferragens.
Bem, a Marinha estava extasiada. Decidiram ir fundo pedindo fundos ilimitados, tornando o projeto secreto e dando-lhe um novo nome - Project Rainbow (Projeto Arco-Íris). Obviamente, todos que estivessem trabalhando nele tinham que ser aprovados pela segurança.
Minha História Pessoal
Suponho que a essas alturas eu deva explicar como entro nessa história. Foi mais ou menos em 1940.
Nasci em 4 de agosto de 1916, Bayshore, Long Island, filho de Alexander Duncan Cameron Sr. e meu nome era, originalmente, Edward A. Cameron II. Meu pai era uma figura estranha e enigmática; engajou-se na Marinha em 1913, creio eu. Não conseguimos encontrar nenhum registro oficial que mostrasse quando se alistou. Há uma foto dele em uniforme, de antes ou do início da I Guerra Mundial. Sem dúvida, serviu os 20 anos de praxe e aposentou-se, porque nunca mais trabalhou. Adotou como hobby a construção de veleiros e competir em regatas; ainda existem algumas taças de ouro. Também foi um homem de muitas mulheres - cinco esposas seguidas e quem sabe quantas amantes. De qualquer maneira, éramos uma família grande. Há indicações de que mantinha ligações com o serviço secreto, enquanto estava engajado. Novamente, não há nenhum registro para mostrar o que fazia. Tudo foi removido dos arquivos e dos registros familiares. A única coisa que restou foi um álbum de retratos e ainda assim incompleto.
Tenho um meio-irmão (para ser franco, nem sei quantos meio-irmãos), Alexander Duncam Cameron Jr., que foi o segundo a nascer, em maio de 1917 e o mais próximo a mim. Fomos criados por tio Arnauld na “casa grande” em West Slip, Long Island. A família era suficientemente abastada, contávamos com a fortuna das lojas de departamento Arnold/Constable e pudemos cursar as melhores universidades. Cursei Princeton e em seguida fiz meu doutorado em física em Harvard, formando-me em 1939. Meu irmão também recebeu seu doutorado em física pela universidade de Edinborough, Escócia. Diante da insistência de meu pai, alistamo-nos na Marinha em setembro do mesmo ano e fomos enviados para um treinamento de 90 dias em uma escola em Providence em Rhode Island. A seguir, fomos enviados ao Instituto de Estudos Avançados em Providence, Rhode Island, para trabalhar no que viria a ser o Experimento Filadélfia.
O que foi que fizemos então? Aprendemos, antes de mais nada, a respeito do projeto, o que deveria realizar e conhecemos o Dr. Von Neumann, naquela época, assistente de Tesla. Ocasionalmente, víamos um certo Albert Einstein correndo pelos corredores; uma espécie de chefão, consultor de todos os projetos do Instituto. Se alguém tinha um problema, procurava Albert - o General, como às vezes era chamado. É claro, que Tesla, como diretor do projeto, comandava o show.
Após o sucesso do teste de 1940, nos estaleiros do Brooklyn o projeto foi rebatizado de Projeto Rainbown e tornou-se secreto. Abriram escritórios nos estaleiros de Filadélfia e ficamos entre essa cidade e Princeton. Animado com os resultados, Roosevelt deu a Tesla um navio de guerra tripulado para utilizar em seus experimentos de invisibilidade. Com isso, Tesla atingiu um certo status; encomendou mais equipamento e projetou um sistema maior. Devo admitir que seu ponto-de-vista era muito interessante, muito especial: usava uma combinação de campos magnéticos de alta potência, além de campos “rf”. Isto estava relacionado com um outro trabalho mais antigo. Logo antes da II Guerra Mundial, os alemães haviam desenvolvido uma mina magnética que não dependia do contato do casco do navio para explodir, mas sim da concentração dos campos magnéticos da Terra pelo casco do navio, para fornecer uma grande assinatura magnética, que detonaria o mecanismo responsável pelo detonamento da mina. A Marinha, muito preocupada, resolveu fazer algo.
T. Towsend Brown
Esse trabalho precedeu em um ou dois anos o Experimento Filadélfia e foi realizado no Instituto e nos estaleiros da Marinha em Filadélfia. T. Towsend Brown, responsável pelo projeto, também tem um passado interessante: é muito conhecido pelo efeito Beifield - Brown, além de ter pesquisado o sistema de propulsão eletrostática para discos voadores, durante toda sua vida. Em 1938, era da Reserva da Marinha e voltou à ativa para trabalhar num projeto sobre minas magnéticas e como limpar campos das minas e partir daí, desenvolveu-se um outro projeto - o Experimento Filadélfia.
O sistema utilizado inicialmente teve muito sucesso e consistia em envolver todo o casco do navio em serpentina de fio de grosso calibre. Um equipamento especial a bordo seria ligado, gerando pulsações magnéticas de alta potência ao longo do casco, o que daria a impressão de um grande navio aproximando-se da mina magnética, detonando-a a uma distância segura do mesmo. Mais tarde, Towsend também deu sua contribuição ao Experimento Filadélfia.
Creio ser importante fazer uma pequena descrição matemática: há muita história precedendo estes acontecimentos. O Sr. Tesla, era um homem bastante incomum. Não tinha diplomas, mas possuía uma intuição incrível, não só em relação à natureza como também à matemática. Era um auto-didata; aprendeu 11 línguas e livros de poesia inteiros. Estava acostumado a passar muitas horas acordado estudando por conta própria, assim como na universidade onde era um aluno excelente. Porém, sua matemática era de 1880, ou seja, do século passado.
Há outras pessoas que são importantes na história deste projeto. Darei um breve relato.
David Hilbert
O Dr. David Hilbert, nasceu em 1862 na Alemanha, onde fez o doutorado em matemática e foi professor; pelo o que eu saiba, nunca deixou o país. Aposentou-se em 1930, mas não sem ter antes desenvolvido um número incrível de novos sistemas matemáticos, sendo o quinto deles conhecido como O Espaço Hilbert, considerado o mais importante, por oferecer uma descrição matemática de universos e de realidades múltiplas, o que foi de grande valia para o que no futuro ficou conhecido como Experimento Filadélfia.
John Von Neumann
Von Neumann, filho de um rico comerciante judeu, nunca teve problemas financeiros. Nasceu na Iugoslávia e tinha dois irmãos e uma irmã. Estudou em várias universidades, diplomando-se em 1925, com um doutorado em química e outro, vejam vocês, em matemática. Lecionou em diversas universidades da Alemanha durante quatro anos, quando então, foi para os EUA. Antes de partir, estudou o trabalho do Dr. Hilbert, e conheceu o Dr. J. Robert Oppenheimer, que mais tarde se envolveu no desenvolvimento da bomba atômica. Parece que todos foram para os EUA.
Von Neumann, partiu do trabalho de Hilbert e em 1940, havia desenvolvido sistemas matemáticas completamente novos - a nova álgebra - seu trabalho dentro do projeto tornou-se muito importante.
Equação do Tempo
Outro matemático pouco conhecido, mas muito importante no projeto, formou-se não se sabe onde, mas foi professor em MIT, Massachussets Institute of Technology (Instituto de Tecnologia de Massachussets). Trabalhou como assistente de professor de matemática até 1955 quando tornou-se catedrático, cargo que ocupou até a sua morte em 1976. Contribuiu com muitos livros sobre matemática, mas seu trabalho mais importante foi as Equações do Tempo, intricados meios matemáticos para desenvolver um sistema envolvendo tempo e sua relação com nosso universo, algo pouco conhecido ou apreciado pelos leigos. Não vivemos em um universo tridimensional, mas sim de cinco dimensões. A importância desse fato não pode ser suficientemente enfatizada.
Em 1931, um matemático russo, P.D. Ouspensky, escreveu um livro chanado Tertium Organum, Um Novo Modelo do Universo, no qual afirma a mesma coisa - vivemos em um universo de cinco dimensões. A quarta dimensão, conforme afirmou Einstein, é o tempo. Ouspensky, não foi nada claro a respeito da quinta dimensão, o que não foi o caso com nosso cavalheiro das Equações do Tempo que foi bastante enfático sobre sua importância e descreveu o tempo como um vetor bidimensional: um vetor linear, que é a quarta dimensão e um vetor rotativo ou cone de hélice, na dimensão linear (se considerarmos o tempo como uma função linear). Para nós, o tempo é linear, fluindo continuamente e tudo o mais com ele. De outro modo, os coisas estariam aparecendo e desaparecendo dentro do nosso continuum. Não estou me referindo à OVNIs, mas à nossa vida diária. Isso tornou-se muito importante para a função que estávamos tentando desenvolver no Instituto - uma estrutura de cinco dimensões.
Após 1940
filadelfia2O que aconteceu após 1940? A teoria foi desenvolvida. O sr. Tesla decidiu qual seria sua abordagem: campos magnéticos de alta-potência, emitidos a partir de quatro bobinas do tipo- Tesla, colocados no deck do navio e quatro grandes transmissores “rf”, de aproximadamente meio megawatt cada, modulados de forma análoga, o que quer dizer, uma modulação contínua com ondas de formato muito complexo - tudo baseado no trabalho que já havia realizado no estaleiro da Marinha no Brooklyn. Estávamos lá durante parte do projeto e ajudamos a construir parte do equipamento. Muita coisa foi construída fora: os geradores principais foram feitos na Westinghouse e os transmissores “rf”, pela Federal Electric. O projeto progredia. Enquanto isso, Tesla havia desenvolvido na RCA, receptores “rf” de longo alcance, poderosos e muito sensíveis, utilizados pela RCA em sistemas de comunicação global aparentemente. Duas pessoas que conheceram-no em sua velhice, garantiram-me que com esse equipamento, mais seus próprios transmissores, Tesla mantinha comunicações com Extraterrestres. Viram o equipamento, mas não entenderam o que viram.
Tesla possuía muitos laboratórios, fato ignorado por muitos. Morava no último andar no Hotel NewYorker, onde estava instalada parte de seu laboratório, com seus receptores. Os transmissores estavam instalados no Waldorf Astoria, outro hotel muito conhecido, no qual possuía o último andar e as torres gêmeas. A maior parte da conta era paga pela RCA (uma pesquisa rápida desvendou esse detalhe). Ele não podia colocar todo seu equipamento no mesmo local, por causa da interferência dos transmissores nos receptores. A comunicação, aparentemente, era muito importante, crucial mesmo, para esse projeto. O hardware foi projetado e construído por Tesla: com “receita caseira”, terrestre, baseado em nossos conhecimentos e ciência e nossa matemática. Não falei com ele a esse respeito, mas em algum momento, Tesla recebeu informações de extraterrestres. Soube que teria que enfrentar problemas com funcionários, que fariam parte do experimento e pediu mais tempo para a Marinha. Isso foi no fim de 1941. a guerra tinha estourado em 7 de dezembro do mesmo ano e a Marinha pressionou-o: “Estamos em guerra. Não modifique nada. Faça com que funcione - você tem um prazo”. Esse prazo era março de 1942.
Tesla se Retira do Projeto
Àquela altura, Tesla tinha duas opções: arriscar-se na esperança de que o problema não fosse tão sério quanto previsto, cancelar o teste ou sabotá-lo. Escolheu a última. Recusou-se a aceitar a responsabilidade pelo que poderia acontecer às pessoas e sabotou o teste, tirando o equipamento de sintonia, assegurando-se de que parte dele não funcionaria direito, ou não ligaria, ou que os campos não se desenvolveriam. Assim, quando os interruptores foram ligados, nada aconteceu. A coisa foi um grande desastre. Então, Tesla disse: “Sinto muito senhores, o teste foi um fracasso. Estou de saída. Tenho outras coisa a fazer. Há um homem muito bom que pode ficar no meu lugar, o Dr. John Von Neumnn. Ele pode ser o novo diretor.” Von Neumann foi designado como novo diretor no dia seguinte.
O que foi então que Neumann fez? Primeiro disse à Marinha: “Tenho que estudar o problema”(o que era óbvio e lógico). Como não forneceu um prazo, a Marinha não teve escolha. Após considerar a questão, Neumann decidiu que queria um navio especialmente construído para o projeto. Entrou em contato com diversas pessoas da Marinha e selecionou um navio que estava sendo projetado - o DE173 (um contra-torpedeiro-escorte), um pequeno navio de 1560 toneladas americanas - a tonelagem pode variar de acordo com o peso e tamanho do navio. Decidiram fazer modificações ainda na prancheta: a torre número dois não foi construída e os dois geradores principais para as bobinas magnéticas foram colocados no deck, sob uma coberta que era, na verdade, uma sala disfarçada. O DE173 foi construído no seco e levado depois de pronto, a uma doca secreta no porto da Marinha
Escolhendo a Tripulação - Estivemos embarcados, passamos algum tempo em São Franciso e voltamos ao final de 1941. Retornamos ao projeto em 1942 quando foi decidido que era necessário uma tripulação voluntária, portanto, uma pedido para “voluntários” foi expedido. Foram escolhidas umas 33 pessoas que foram enviadas a uma escola de treinamento especial da Guarda Costeira de Groton, Connecticut. Isso foi em setembro e a partir de dezembro eles já se encontravam no estaleiro naval. Existe uma foto dos formandos. Eu não a tenho, mas algum dia conseguirei uma. Adivinhem quem era o diretor da turma? O meu pai, em seu uniforme da guarda costeira! Da marinha para a guarda costeira não é uma mudança muito grande. Um dos documentos que ainda existem sobre sua vida, é uma carta de louvor da guarda costeira, elogiando sua assistência à mesma e ao governo durante a segunda guerra mundial, o que quer dizer que ele estava bem enfronhado nessa história.
Por alguma razão, a guarda costeira foi escolhida para manter algumas dessas operações em segredo. No fim de 1942 o navio estava no porto. Colocaram todo o material a bordo e iniciaram os testes, que se estenderam até a primavera de 1943. Em março de 43, von Neumann estava começando a ficar nervoso, dizendo que “poderia haver algum problemas com os funcionários”. Eu e meu irmão havíamos insistido nessa questão desde o início. Aparentemente ele decidiu (depois de superar o desprezo que sentia em relação a Tesla, apesar de respeitá-lo muito profissionalmente) que havia um problema. Procurou a marinha que lhe disse:” Faça o que puder, mas você tem que respeitar o prazo”. Utilizou um terceiro gerador, o que além de não funcionar, provocou ferimentos em um dos assistentes que trabalhava conosco junto ao equipamento, que foi hospitalizado em estado de coma.
A partir daí, meu irmão e eu tornamo-nos os únicos responsáveis pelo funcionamento do equipamento, que em sua versão final possuía uns 3000 6L6 tubos em renque; tínhamos um sistema gerador de impulsos e outros equipamentos exóticos. Tudo isso estava no porão e sob nossa responsabilidade. Eram necessárias duas pessoas para operar o equipamento na seqüência certa (na época não havia computadores, tudo tinha que ser feito à mão). Eventualmente, chegou o dia em que acharam que estávamos prontos para um teste prolongado. Era o dia 22 de julho no porto de Filadélfia.
O Primeiro Teste
Saímos à baia, com a certeza de que tudo iria funcionar. As ordens de Von Neumann viriam pelo rádio do navio de observação. Deram-nos ordens de ligar o equipamento e assim o fizemos. Tudo correu bem durante uns 20 minutos. Parecia que tudo estava funcionando normalmente. Conseguiram a invisibilidade total, óptica e em radares.
Devo dizer que em 1943, tínhamos um sistema de radar muito bom, melhor do que qualquer coisa que existisse em 1940 e 41. Quando Pearl Harbor sofreu o ataque, o sistema de radar que captou os bombardeiros japoneses era muito tosco e o comandante ou seja quem fosse que estivesse no comando naquela hora, ignorou o aviso. Não era um radar muito bom ou eficiente. Dois anos fizeram muita diferença.
O navio ficou totalmente invisível e 20 minutos depois, recebemos ordens de desligar o equipamento e voltar ao porto. Naquele momento, percebemos que tínhamos problemas com o pessoal no deck do navio. Haviam sido colocados lá deliberadamente, para testar os efeitos. Os indivíduos estavam totalmente desorientados e abalados, digamos que não estavam “normais”. Eu, meu irmão e todo o pessoal que ficou sob o deck foi protegido pelo aço. A Marinha disse: “Bem, dar-lhe-emos uma nova tripulação.” Ao que Neumann retrucou: “Não! Sei que temos um problema.” Pediu à marinha uma extensão no prazo. “Não, estamos em guerra, faça o que puder.” E deram-lhe um prazo final - 12 de agosto de 1943.
Von Neumann ficou muito bravo com isso. Eu pensei: “por que um prazo final?” Procurei o diretor do projeto na época, Hal Bowen, diretor do Departamento de Engenharia Naval, organização que precedeu o atual Departamento de Pesquisa Naval, fundado em 1946. Foi o primeiro diretor desse Departamento e o último daquele. Perguntei-lhe o porque daquele prazo, mas ele não sabia. No entanto, comprometeu-se a descobrir a resposta.
Descobriu que a ordem tinha partido do Chefe Naval de Operações (CNO - Chief of Naval Operations), uma pessoa que estava envolvida somente com a operação de guerra e que não podia estar menos interessada em um projeto de engenharia. De qualquer maneira, havia dado a ordem; achamos que havia algum outro fator e que, na verdade, a ordem havia partido de um escalão superior. Na época não conseguimos descobrir.
Fizemos o possível para estarmos prontos no dia 12 de agosto. A marinha também havia mudado de idéia e disse que “uma invisibilidade em relação a radares já seria suficiente. Não precisamos de invisibilidade óptica; na verdade, não a queremos.” Na época, não existia um sistema de navegação mundial como hoje em dia - LORAN (sistema de navegação de longo alcance), SHORAN (sistema de radar e de navegação de curto alcance) e nem, é claro, apoios de navegação como sistemas de radar computadorizados. Assim era necessário manter um contato visual a um navio adjacente, na falta de um radar. Se no caso de uma tempestade ele ficasse invisível ao radar, seria necessário vê-lo!
O Segundo e Fatal Teste
Chegou o dia 12 de agosto: estávamos à bordo do Eldridge, saímos do porto e esperamos pelo sinal para ligar o equipamento. Nos primeiros 60 ou 70 segundos tudo parecia correr de acordo com o plano. O navio tornara-se invisível a radar, mas era possível ver o contorno do casco como que através de uma neblina. Mas aí, o navio desapareceu completamente do porto - sumiu. Houve pânico total no navio observador. Havia dois deles, três, se incluirmos um navio da marinha mercante que estava muito intessada no sucesso do sistema. Se vocês se lembram, naquela época, os submarinos alemães estavam fazendo a festa no Atlântico, afundando 50% dos nossos navios da marinha mercante que levavam mantimentos para a Europa.
O navio desapareceu. Reapareceu umas quatro horas depois, no mesmo local, mas era óbvio que havia algo drasticamente errado. Uma boa parte da superestrutura estava danificada; a antena especial construída por T. Towsend tinha quebrado e ninguém respondia pelo rádio. Tiveram que enviar uma lancha para descobrir o que estava acontecendo. O que viram era devastador - um pandemônio total a bordo. Em uma contagem posterior, soube-se que muitas pessoas haviam desaparecido do navio completamente; quatro homens estavam enterrados, dois no deck - seus corpos presos no aço - e dois nas paredes. Um quinto homem tinha a mão presa em uma parede de aço. Ele viveu, mas teve sua mão amputada. Alguns haviam sumido e o resto dos sobreviventes ficaram insanos.
Aqueles que estavam dentro do navio, sabiam que havia algo de errado e apesar de não enlouquecerem, foram afetados. Todos foram postos em quarentena, o que teria acontecido de qualquer maneira para fazer o famoso “debriefing”. A questão então era: “o que aconteceu?”
O Eldridge havia desaparecido de 3 a 4 horas, voltara danificado, sua tripulação completamente atordoada, além de desfalcada. Éramos quinze, contando comigo, meu irmão e o comandante. Não havia sobrado muitos. Depois de quatro dias de reuniões, decidiu-se abandonar o projeto. Mas logo depois mudaram de idéia e resolveram fazer mais uma teste.
O Terceiro e Último Teste
filadelfia5Não estive presente nessas reuniões. Compareci somente para entregar meu relatório; meu irmão havia desaparecido - falarei disso mais tarde. Decidiram fazer mais um teste como o primeiro, de 1940. Como havia sobrado muito equipamento, pois esperavam ter sucesso, utilizaram-no em substituição daquele que havia estragado. Ligaram o equipamento no controle remoto com uns 35m.de cabo. Em uma noite do final de outubro, levaram o navio fora do porto de Filadélfia, com a tripulação à bordo e ancoraram-no. Desembarcaram a tripulação e ligaram o equipamento. O navio desapareceu e voltou 15 minutos mais tarde. Essa deve ser a causa de uma história apócrifa que relata ter sido visto o navio em seu porto alternativo em Newport News, Virgínia, para desaparecer logo em seguida para retornar ao porto de Filadélfia. O fato é que o navio não estava na ativa antes de 27 de agosto e portanto não possuía um porto alternativo. Quando apareceu, metade do equipamento havia sumido e a sala de controle estava em ruínas. A Marinha desistiu. O equipamento foi retirado e o navio foi utilizado em combate até 1946, quando ficou no estaleiro até ser entregue à Marinha da Grécia em 1951, junto a um destróier e outros navios, que o utilizou com o nome de Lion. Seus novos donos requisitaram o diário de bordo, que leis marítimas, deve permanecer à bordo desde o dia em que o navio entra em serviço.
O Encobrimento
O que encontraram? Todas as páginas do diário de bordo até 01 de janeiro de 1944 haviam sido arrancadas. E o que é que os gregos iam fazer? Reclamar com a Marinha dos EUA? Toda a documentação havia desaparecido, o que quer dizer que toda a história do Eldridge até aquela data foi acobertada. A marinha criou 4 versões diferentes: há uma versão oficial que relata quando o navio foi lançado à água e quando entrou no serviço ativo (que por sinal é o dia correto, 27 de agosto de 1943). Tivemos um capitão temporário durante os testes, o Capitão Engle. Um capitão em sistema permanente assumiu mais tarde, a partir de 27 de agosto (segundo a Marinha), depois do cruzeiro de guerra, para serviço normal no Atlântico - o que não é bem verdade. Foi mais tarde, em 12 de dezembro. Houve um grande acobertamento. Até hoje a Marinha insiste na existência do Eldridge, mas nega tudo sobre os testes. Segundo o livro de William Moore, O Experimento Filadélfia (The Philadelphia Experiment), publicado em julho de 1979, a Marinha, naquela época, havia gasto U$2 milhões de dólares, em suas estimativas, só em cartas-padrão, confirmando a existência do Eldridge e desmentindo qualquer experimento dessa natureza. Gastaram rios de dinheiro acobertando os testes e negando-os. Ainda o negam.
O fato é que os testes foram realizados e há sobreviventes.
Minha Experiência no Teste
Eu e meu irmão estávamos a bordo. Aconteceu conosco. O último teste tripulado foi realizado em 12 de agosto de 1943. Ligamos o equipamento e tudo parecia funcionar normalmente (faço um relato de como nós vimos tudo e não do ponto-de-vista dos observadores do lado de fora), quando começou a haver uma estranha discrepância na maneira pela qual o equipamento estava funcionando: começou a desaparecer de uma maneira esquisita além de outras coisas estranhas. A instabilidade aumentou e chegamos à conclusão de que o equipamento definitivamente não estava funcionando como deveria.
Corremos aos interruptores principais para desligar tudo, mas não funcionavam; haviam travado. A essas alturas, com arcos elétricos disparando por todos os lados dentro da cabine, decidimos que era melhor sair dali. Subimos ao deck onde reinava o caos. Dissemos um ao outro: “vamos pular e nadar até a costa.”
Mergulhando em 1983
Saltamos do navio, mas ao invés de cairmos na baía, aterrissamos em terra firme, em plena noite - soubemos depois que eram 2 horas da manhã do dia 12 de agosto (no início não acreditamos) de 1983, em Montauk, Long Island - uma parte e parcela de um outro projeto chamado Fênix (Phoenix Project). Estávamos dentro do perímetro de uma base militar, uma cerca às nossas costas, que podíamos ver e sentir. Sobre nossa cabeça... o que sabíamos a respeito de helicópteros? (Sikorsky ainda estava tentando torná-los uma máquina militar exeqüível em 1943). Alí estávamos com um helicóptero, seu facho de luz voltado em nossa direção, sobrevoando sobre nós. Os PM chegaram logo e nos levaram até um prédio, onde tomamos um elevador que nos levou vários andares subterrâneos. Muitas portas se abriram e finalmente fomos saudados por um senhor que era obviamente um civil - percebemos que possuía alguma autoridade. Ele disse: “Bem, vocês conseguiram.” Ao que respondi: “O que quer dizer com isso?” “Sou o Dr. von Neumann”. “Você é quem? Acabamos de deixá-lo. Ele é muito mais jovem que você”. “Vocês não estão em 1943, mas em 1983”.
No início não acreditamos, estávamos muito confusos. Porém, à medida que olhava em torno do recinto, vimos computadores incríveis e outros equipamentos totalmente diferentes, monitores de vídeo - coisas que não existiam em 1943. Eventualmente, fomos convencidos de que estávamos, de fato, em 1983 e Von Neumann explicou-nos o que havia acontecido: “Tenho todos os relatórios. Sei o que aconteceu e estava esperando por vocês. Vocês têm que voltar ao Eldridge e destruir todo o equipamento. Criamos um buraco no hiperespaço onde o Eldridge caiu. Vocês pularam e foram atraídos para este lado do experimento. Os dois experimentos cruzaram-se através do hiperespaço, um em 1943 e o outro em 1983” (o de 1983, era o projeto Fênix).
Um Buraco no Hiperespaço
filadelfia3O encadeamento dos dois experimentos criou esse buraco no hiperespaço. Para aqueles de vocês que não sabem o que é hiperespaço, digo que é um simpático termo matemático que quer dizer que você não está em lugar nenhum; está entre universos. O equipamento do navio forneceu campos que geraram uma realidade artificial, na qual todos que permanecessem dentro do navio estariam a salvo. Como escapamos - pulando - foi algo que não conseguimos entender naquele momento. Von Neumann disse: “vou mandá-los de volta para destruir o equipamento. Assim o navio voltará ao seu lugar no tempo”. Perguntei ,”e a tripulação?” “Você já o fêz. Tenho os relatórios aqui comigo”. Ficamos ainda mais confusos. Quem pensa que viajar no tempo fácil, deveria ler algo a respeito, além de ficção científica. Eles tinham o controle total do tempo e espaço no Projeto Fênix e mandaram-nos de volta. Empunhando machados, destruímos todo o equipamento da sala de controle. Eventualmente os geradores foram parando. Subimos ao deck. Os campos estavam se dissipando. Vimos pessoas correndo, berrando e caindo.
Distraí-me com alguém que estava preso no meio de uma divisória e durante esse instante de distração, meu irmão, aparentemente em pânico, jogou-se do navio (descobri mais tarde, que havia voltado para 1987). Permaneci em 1943. Voltamos à baía, e a partir daí, reinou o caos. Fizemos muitas reuniões depois, e Von Neumann costumava coçar a cabeça e dizer: “não entendo o que aconteceu”. Passamos anos tentando descobrir o que havia provocado o incidente. Ele sabia que havia tido um problema com pessoal muito sério, mas não a natureza do mesmo. Com o passar do tempo, a Marinha descontinuou o projeto..
Permaneci na Marinha e casei-me no final daquele ano. Tive um filho, Jess, em fevereiro de 1944, sendo transferido, com minha família, para Los Álamos, Novo México, onde permaneci até 1947, quando fui removido à força e separado de minha família para sempre.
Fui acusado de traição, mas ao invés de ir parar em uma Corte Marcial, fui transferido para Washington, D.C. e todas as acusações foram retiradas. Transferiram-me para uma base militar em Montauk, Long Island, (Fort Hero). Dali, fui enviado através do tempo parra 1987, de volta ao Projeto Fênix onde fui submetido a uma lavagem cerebral profunda: toda minha memória foi removida e fui regredido fisicamente dos trinta anos que possuía, para 1 ano. Nessas condições, enviaram-me novamente no tempo para 1927, e “colocado” em uma família, substituindo um filho que havia falecido. Essa família - Bielek - tornou-se minha por mais de meio século!
No início da II Guerra Mundial, em 1945, fui convocado pela Marinha pela segunda vez em minha vida, agora sob o nome de Al Bielek. Fui desligado em 1946; entrei em negócios que não deram muito certo e então fui para uma universidade em Newark, Nova Jérsei e mais tarde para a Universidade da Califórnia de Los Angeles (UCLA). Finalmente, estabeleci-me como engenheiro eletrônico (1958-1988) até aposentar-me. Com a recuperação de minha memória sobre o Projeto Fênix em maio de 1986 e o Experimento Filadélfia (Projeto Rainbow) em janeiro de 1988, passei a dar palestras e a escrever sobre ambos e suas extraordinárias conseqüências.
Em 1947, veio uma nova administração política e com ela, uma nova administração militar. O Departamento de Pesquisas Navais, passou a ser composto pelo antigo Departamento de Engenharia Naval. Não havia um Departamento das Forças Aéreas, que surgiu três anos depois, mas tínhamos o Pentágono. Só em 1947 é pediram a Von Neumann que voltasse ao projeto para verificar o que poderia ser salvo. Nessa época, eu já não fazia mais parte dele.
Enviado a Montauk
Fui removido da Marinha antes do primeiro grande acidente de OVNI em Roswell, Novo México, em 7 de julho de 1947. Como me recordo agora com detalhes, lembro-me de que tinha acesso completo a todos os arquivos da Marinha, inclusive a uma “caixa preta”, para escrever um relatório sobre o desenvolvimento histórico da bomba atômica. Estava em Los Álamos, quando puseram-me em um trem em direção a Washington. Finalmente acabei em Montauk, em uma base militar e naval anterior à I Guerra Mundial, chamada Fort Hero, na costa leste.
De Volta a 1983 como Al Bielek
Enviaram-me para lá e de repente, estava novamente em 1983. Sei que isso é um pouco surrealista, mas foi o que aconteceu.” Puxaram-me” de volta. Haviam resolvido livrar-se de mim; não queriam matar-me, não sei porquê. Foi, como mencionei mais cedo, passei por uma lavagem cerebral. Não existe nenhum registro sobre a existência de um Edward Cameron, pelo menos, nada que eu pudesse encontrar.
O Projeto Fênix
Antes que me aposentasse, aconteceram algumas coisas. Vou falar um pouco do Projeto Fênix, pois também estive envolvido nele. Foi concebido a partir de um trabalho iniciado depois da II Guerra Mundial, mais ou menos em 1947, ou seja, quando ressuscitaram o Experimento Filadélfia, mas naquela altura, eram separados. O Projeto Fênix começou no Laboratório Nacional de Bookhaven e contava com a participação de cientistas estrangeiros emigrados. As pesquisas versavam sobre controle mental e coisas relacionadas.
Eu já havia sido desligado da Marinha quando ouve o acidente com um OVNI em 1947, em Roswell, Novo México. Uma equipe do governo foi enviada para investigar o acontecimento, depois que a Marinha já havia recolhido a nave e feito um pronunciamento - esses relatórios são públicos. Foram enviados ao jornal de Roswell e até hoje, fazem parte de um documentário feito em Las Vegas, denominado “Ovnis como evidência”, por George Knapp.
Uma das seqüências, conta qual foi a história verdadeira do encobrimento. A nave continha os corpos mortos de alienígenas que mais se pareciam a gafanhotos. Mas o que ocasionou uma grande comoção em Washington, foi o fato de que havia pedaços de corpos humanos em meio os escombros. Chamaram o Dr. Vannevar Bush, o consultor científico do presidente, para conduzir as investigações. Quem era seu assistente? Van Neumann - isso também faz parte dos arquivos públicos.
Houve um segundo acidente em 1947, outro em 1948 e mais um em 1949, sendo que nesse último, foi capturado um alienígena vivo, que não se parecia com os outros; foi encontrado correndo pelos campos e acabaram dando-lhe o nome de EBE. Apesar de ter encontrado algumas vezes com Van Neumann, como Bielek, nunca lhe perguntei se havia conversado com o alienígena, mas assumo que foi dele que conseguiu as pistas para saber o que tinha dado errado no Experimento Filadélfia.
Trancas no Tempo
O problema parece muito simples em teoria, mas é muito complicado na prática. Todo o indivíduo que nasce nesse planeta, a partir do momento da concepção, tem o que podemos chamar de “travas no tempo”: a alma está presa a um ponto no correr do tempo, relativo a seu momento de concepção e assim, tudo flui em uma velocidade normal na função tempo, principalmente a quarta dimensão. Quando o indivíduo acorda, o faz na hora certa, com a certeza de que todos e tudo continuam iguais e que não escorregou para uma nova realidade durante a noite. Está trancado em um período de tempo.
Essas trancas permanecem por toda a vida. Ao morrer, elas desaparecem e o indivíduo fica livre, por assim dizer, para ir aonde quiser no tempo. Pode reencarnar em qualquer época, anterior ou posterior. Essas travas ou trancas foram rompidas pela extrema força dos campos gerados pelo método do Dr. Van Neumann.
Ele utilizou quatro bobinas Tesla gigantes. Não eram as ordinárias, mas em forma de cones, ativadas em dupla por cada um dos geradores de 75w, operando a uma moderada baixa freqüência (impulsos). Tinha quatro transmissores “rf” de dois megawatts cada (cw), a 10% de ciclo ativo de impulso. A força era equivalente a 80% de megawatts (impulsos). A tripulação estava no deck perto da antena, que por sua vez, estava presa ao mastro do navio. Jamais na história, alguém havia sido submetido a campos de força de tal intensidade e muito menos a tais campos magnéticos. Ninguém tinha a menor idéia do que poderia acontecer e ninguém havia pensado nisso, a não ser Tesla, que sabia que algo aconteceria.
Finalmente, Von Neumann concordou com o óbvio, mas então, já era tarde. Acabaram com um punhado de pessoas enlouquecidas e outras, que ao perder suas travas de tempo, andaram através do nada e desapareceram para sempre.
Inventando um Computador para Resolver o Problema
Von Neumann teve que ir buscar na metafísica as respostas para prevenir tais tipos de acidente, coisa que deve ter sido bastante difícil para um matemático holandês, teimoso e profundamente materialista.
Decidiu que necessitava computadores complexos e como esses ainda não existiam, pôs-se a trabalhar. Em 1952, tinha um computador completamente operacional, construído especialmente para a Marinha, dando uma nova abordagem ao projeto. De alguma maneira, havia resolvido o problema de trancas-do-tempo.
O Quarto Teste e o Projeto Fênix
Fizeram um novo teste em 1953 - um novo navio, uma nova tripulação. Foi um grande sucesso; ninguém saiu andando através de paredes ou aparecendo em algum bar inexistente no centro de Filadélfia (essa é uma das histórias). Tudo funcionou como planejado. O que fizeram então? Tornaram-no parte do Projeto Fênix, que criou toda a hardware que deu origem à Stealth Hardware, o bombardeiro Stealth. Hoje em dia, contamos com campos de invisibilidade e escudos para porta-aviões. Há o caso, por exemplo, de um deles que sumiu dos radares e visão ótica para reaparecer três dias depois, a 3.000 milhas de distância.
O problema havia sido resolvido e Von Neumann desligou-se do projeto. Na realidade, tornou-se um consultor até o fim do mesmo em 1983, quando aposentou-se, anunciando que não queria ter mais nada a ver com o governo ou qualquer projeto por ele patrocinado. “Estou me aposentando”, disse. Nos arquivos públicos, consta que ele faleceu de câncer em 1957. Isso é de domínio público, houve até um funeral, mas nada pode ser mais longe da verdade. Von Neumann permaneceu no projeto como seu diretor até 1977, quando começou a sofrer de um problema de dupla personalidade. Foi então que tornou-se um consultor. E ainda está vivo, pelo o que eu saiba, pois tive a oportunidade de falar-lhe em 1989, sob o efeito dessa personalidade dupla, em sua casa ao norte do estado de Nova Iorque.
O interesse primordial do Projeto Fênix era controle mental, e as pesquisas estavam sendo desenvolvidas nos laboratórios do governo em Brookhaven. Como em outros casos semelhantes, a apresentação de um relatório mensal era obrigatória. Esses foram enviados para o Congresso e Senado e lá ficaram, em algum lugar, até que, por volta de 1958, alguém resolveu lê-los. A reação foi imediata. “Controle mental? Quem precisa disso? Eles podem usar em nós! Cancelem o projeto”. E assim foi feito.
O Monstro Criado pelo Projeto Fênix
Em 12 de agosto de 1983, o Experimento Filadélfia interligou-se ao Projeto Fênix. Esse último teve seu fim nessa mesma noite, quando surgiu um monstro do tipo abominável monstro da neve, com 4 ou até 10 metros de altura, dependendo do pânico de quem descreve, que começou a destruir edifícios e pessoas. O diretor, Jack Pruett, entrou em pânico também. Como no Experimento Filadélfia, os computadores não seguiam o comando e de nada adiantou cortarem os cabos que alimentavam o sistema. Como disse Einstein, se alguém criar uma máquina de alta complexidade e fornecer-lhe energia suficiente, ela criará inteligência própria. Aparentemente, esse foi o caso. O projeto, na verdade, compunha-se de um imenso complexo de computadores, que conseguiu acessar uma fonte de energia - o mar Dirac - e alimentar-se diretamente. Para neutralizá-lo foi necessário destruir todas as suas partes.
Meu Irmão 46 Anos Mais Jovem
Meu irmão morreu em 1983, momento no qual tornou-se um entrante, no corpo de nosso irmão mais jovem, nascido em 12 de agosto de 1963 de Alexander Cameron Jr. e sua quinta esposa. Todas suas lembranças datavam a partir daquele momento.
Minha memória começou a retornar quando vi um filme de ficção, baseado no Experimento Filadélfia, realizado por EMI Thorn e lançado nos EUA em agosto de 1984, chamado O Experimento Filadélfia. O início do filme é bastante fiel à realidade, chegando a mostrar dois personagens jogando-se do navio (eu e meu irmão), voltando para destruir o equipamento e um deles retornando para 1983.
Meu irmão não chegou a ver o filme, nem a ler os dois livros sobre o Experimento. Foi no processo de uma regressão hipnótica em que ele voltou até agosto de 1963 e de repente viu-se a bordo do Eldridge em 1983. E eu estava lá.
O Significado do 12 de Agosto
A importância do significado dessa data só se tornou clara em 1988. É um fato estabelecido que o ser humano tem três biorritmos. A Terra, porém, possui quatro, fato descoberto por um amigo meu nos anos 80, ao fazer uma pesquisa com receptores “rf” e interferências. Com sua descoberta inicial, conseguiu fundos governamentais para desenvolver seus estudos. Verificou, assim, que a Terra tem quatro biorritmos e que estes têm um momento de pico sempre na mesma data, 12 de agosto de 1943, 1963, 1983, em qualquer direção ao passado ou ao futuro, ad infinitum. O dia pode variar, mas sempre com uma aproximação de 24 horas. Aí estava a sincronização entre os dois experimentos, que geraram energia suficiente para causar a interligação.
O livro, “Como Explorar Dimensões Superiores no Espaço e no Tempo”, de T.B. Pawlicki, 1989, oferece alguns aspectos teóricos importantes. Nele, Pawlicki fala do toro (círculo) do tempo. Baseado nessa teoria, é possível a começar a entender o que aconteceu, isto é, se você tiver uma boa cabeça para a matemática ou para visualizar. Einstein afirmou que, em nosso universo não existe uma linha reta. Se começarmos de um ponto (não importando a direção) e mirar um ponto adiante em linha reta, acabaremos formando um círculo, seremos atingidos nas costas. O mesmo aplica-se ao tempo - um circuito fechado, ao qual chamamos toro do tempo - uma representação matemática de uma estrutura de imensas dimensões. No centro dessa rosca, desse toro, o tempo flui com um coeficiente linear, mas também flui em espiral em torno da periferia, falando matematicamente. Se a pessoa afastar-se do centro em direção à borda exterior, encontrar-se-á em uma realidade alternada. Ao progredir ao longo dessa borda, o indivíduo entrará em realidades alternadas, paralelas à dele.
O Eldridge moveu-se no tempo, mas também entrou no hiperespaço, quando a intenção era que somente girasse o campo do tempo para tornar-se invisível. Com a hardware adequada, é possível atingir uma rotação do tempo, criando-se um campo energético de sexta-ordem, coisa que o Eldridge foi capaz de fazer. O Projeto Fênix, criou um campo de oitava-ordem. Eram necessários 12 campos para entrar no hiperespaço, então, de onde vieram os outro quatro?
Segundo relatórios, o Projeto Montauk estava inativo em 22 de julho de 1983. Em 01 de agosto, receberam uma ordem incomum de reativar o projeto e mantê-lo em operação ininterruptamente. O sistema gerado pelas funções do Montauk em conjunto com a energia, era capaz de ser direcionada para mais ou para menos no infinito em termos de tempo. Em outras palavras, elas poderiam circunavegar completamente o toro do tempo em menos de 24 horas. Ao fazer isso, adicionaram uma ordem de realidade que ficou impressa nas redes formadoras de impulsos e nos bancos especiais que possuíam para o sistema modulador. Uma nova ordem de realidade foi acrescida por dia e após cinco dias, podiam penetrar na décima-segunda ou qualquer outra ordem que desejassem. Com isso, mais a data crítica de 12 de agosto em 1943 e em 1983, os sistemas, em operação naquele momento, interligaram-se. Abriram um buraco no hiperespaço do tamanho de quarenta anos.
O Projeto Permitiu a Invasão dos Greys
Houve uma invasão maciça de Greys a partir de 1950. Ela só terminou porque eles já estão aqui. Há indicações de que aqui chegaram vindos de um outro continuum tempo-espaço, de um universo diferente do nosso. Hoje em dia, penso que esses dois projetos foram criados com o propósito específico de criar um buraco no espaço para permitir uma invasão na Terra. Pelo que eu saiba, não haviam extraterrestres envolvidos no Experimento Filadélfia, ao contrário do Projeto Fênix. Em 1970 já possuíamos as máquinas, mas não a capacidade de criar “buracos no espaço”, como Dr. Sagan denominou-os - a capacidade de viajar não só através do tempo, como também do espaço. Essa era a função do Montauk e para tanto, exigia uma tecnologia gerada e fornecida por um grupo de alienígenas que trabalharam durante dez anos convertendo seus dados tecnológicos para nosso formato 360 IBM, porque na época, as conversões tinham que ser feitas à mão para nossos computadores. Hoje em dia, temos computadores à altura dos deles, como o Cray 3, que não existia na época. Eles quiseram vir e criaram uma maneira de entrar em nosso universo. Acreditem-me.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Pirâmides de 11 mil anos submersas Japão podem confirmar Terceira Raça
Ocimar Barbosa - Nos últimos anos, novos e impressionantes achados arqueológicos trazem fortes luzes sobre tempos imemoriais e estão fazendo com que a ciência da antropologia dê sobressaltos de calafrios nas últimas décadas. Se antes, pensávamos apenas em Atlântida como sendo um continente perdido no Oceano Atlântico, bem como o mítico Continente de Mu no Oceano Atlântico, e as terras de Rama no Oceano Índico, precisamos lembrar que os povos amarelos também tem suas lendas. E essas lendas podem estar sendo corroboradas por impressionantes descobertas. Um tema mitológico muito conhecido no Japão, Taiwan , China e Filipinas descrevem a antiga busca por uma civilização perdida naquela região do planeta. Esse folclore cita através de lendas a probabilidade de um reino submerso nas Águas do Oceano Pacífico, com uma linha costeira que unia várias terras e onde os fragmentados arquipélagos da Malásia, da Indonésia, das Filipinas e do Japão não seriam mais do que partes de um grande continente.
Pirâmides submersas no Japão
Alguns pesquisadores o denominam de Lemúria, mas no Japão, é chamado Hori. E foi em 1985 que mergulhadores japoneses fizeram surpreendentes descobertas. Ao estudarem uma região no Arquipélago de Ryûkyû, a 480 km a sudoeste de Okinawa – Japão, o mergulhador Kihachiro Aratake estava com sua equipe procurando melhores lugares para turistas praticarem mergulho quando encontrou um conjunto de misteriosas ruínas magalíticas. Era uma plataforma com escadarias, as quais cada uma tem mais ou menos 1 metro de altura, assemelhando-se com um altar em pedras cortadas com precisão.
São restos de uma cidade antiqüíssima submersa próxima ao território japonês. A área tem 28,88 km² que tem uma população de menos de 2.00 moradores. Muitos historiadores, arqueólogos e outros cientistas foram atraídos até o sítio arqueológico, onde realizaram estudos geológicos para o cálculo da idade destes monumentos.
Chegaram a uma estupenda conclusão: os monumentos têm perto de 11.000 anos de idade
Isso coloca as edificações como sendo as mais antigas do planeta. Mais oito grandes estruturas feitas pelo homem foram encontradas no decorrer de 10 anos de exploração e pesquisas, com destaque para um enorme platô com mais de 200m de comprimento, e para deixar os arqueólogos ainda mais atônitos, descobriu-se uma pirâmide igual às pirâmides Aztecas e Maias (5 andares e alinhadas de acordo com pontos cardeais), além de um conjunto de ziguraes.
Construções mais antigas do planeta
Considerando que após re-datarem a idade da Esfinge de Gizé para cerca de 12 mil anos de idade (muito mais antiga do que assegura a arqueologia ortodoxa), calcula-se então que esse conjunto de construções no mar japonês tenha sido construído na mesma era em que sugiram as colossais pirâmides do Egito.
E mais surpresas estavam por vir. Não muito longe do local, outras ruínas vieram ao conhecimento, sendo uma delas, uma caverna rodeada de grandes pilares e uma estátua de cabeça humana um tanto gasta pela erosão das águas, submersa a cerca de 18 metros abaixo da superfície. Essa obra megalítica, segundo os arqueólogos, é muito parecida com os Moais da Ilha de Páscoa, na costa do Chile, também no Oceano Pacífico.
São escadarias, entalhes na rocha , rampas, terraços, pilares, desenhos de animais feitos em pedras única e a perfeita indicação de que Yonaguni pode ser o mais antigo sítio arquitetônico da história de uma humanidade desconhecida, principalmente depois que foram encontradas ferramentas de entalhe.
Para completar ainda mais a surpresa dos pesquisadores, outra descoberta: uma parede onde estão gravadas inscrições em estranhos caracteres, chamada Okinawan Rosseta Stone. Esses hieróglifos confirmam que o achado tem tudo pra ser obra de seres humanos, de uma civilização altamente evoluída que habitou o local há vários milhares de anos.
As pesquisas prosseguem através do Masaaki Kimura e sua equipe da Universidade de Ryûkyû. Os cientistas confirmam que essa formação retangular de pedras que foi encontrada submersa na costa do Japão é a evidência de que pode ter existido uma desconhecida e fantástica civilização, anterior a Idade da Pedra.
Seria provas de que o Continente de Mu realmente existiu?
Lendas que se tornam palpáveis
Diante das mais gritantes e incontestáveis evidências, nos dias de hoje muitos cientistas, arqueólogos e pesquisadores estão plenamente convencidos que em tempos muito remotos grandes e evoluídas civilizações, tais como a Atlântida e a Lemúria, ocuparam a face da Terra.
Bem ao contrário dos ortodoxos e dos tradicionalistas que insistem em afirmar que tudo não passa de meras lendas
Buscar a verdade acima de qualquer coisa deveria ser a meta do ser humano mas parece que há uma onda envolvente de ceticismo que embaça até mesmo as mentes mais brilhantes na tentativa de descobrir o que a história pode estar escondendo.
Mesmo assim, acreditam os místicos de que antes da raça ariana atual, existiram quatro raças anteriores, sendo que algumas delas chegaram a um conhecimento muito além do que hoje conhecemos.
Premeditadamente ou não, a comunidade acadêmica despreza qualquer sugestão de que tenhamos tido em um passado remoto, civilizações avançadas que teriam deixado espalhados em vários locais do mundo os indícios de sua existência.
"Atlântida? Lemúria? Hiperbórea? Isso é lenda!", dizem os céticos, que preferem manter protegida a idéia de progresso científico contemporâneo do que admitirem que possa ter havido na face da Terra, povos mais evoluídos em conhecimentos.
A Cidade Perdida da Bahia
Formações rochosas da Chapada Diamantina Setentrional, próximo da Vila de Santo Inácio - Município de Gentio do Ouro, Bahia. A região já foi uma das maiores produtoras de diamantes no mundo, mas hoje está reduzida à exploração em pequena escala. As formações rochosas, muito parecidos com os moais da Ilha de Páscoa, não lembram em muito vários semblantes humanos? O maior mistério na história do Brasil ou, como diríamos, o mais famoso mito arqueológico brasileiro é a “cidade perdida da Bahia”. O local é incerto, mas as afirmações coincidem com os detalhes de antigos viajantes que falavam de ruas calçadas e muros altos de pedras. A lenda teve início nos tempos do império, quando o governo português mandou prender Robério Dias, o Muribeca, por não querer revelar a localização de ricas minas de prata na Bahia. Há indícios, aliás, registros muito contundentes que deixam a impressão que “algo muito sério” está sendo escondido propositalmente durante vários anos.
Documentos
cperdida1A cidade perdida do sertão baiano passou por uma pesquisa minuciosa entre os anos de 1840 e 1847. Tudo porque, um ano antes, fora encontrado pelo naturalista português Manoel Ferreira Lagos um documento envelhecido, esquecido num canto da Livraria Pública da Corte (Atual Biblioteca Nacional). Era um velho manuscrito carcomido pela passagem do tempo que hoje é catalogado com o número 512, de 10 páginas com o título: “RELAÇÃO HISTÓRICA E OCCULTA, E GRANDE POVOAÇÃO ANTIQUÍSSIMA SEM MORADORES”. A região é inóspita. Os depoimentos nem sempre coincidem mas há vários pontos que confirmam relatos de uns e outros sobre ruínas espantosas. Apesar de não haver comprovação da realidade, os intelectuais e entusiastas acreditam que todos os esforços devem ser dedicados, pois que esses vestígios podem conduzir às grandes descobertas de um passado misterioso, não só do Brasil, mas envolvente para todo o continente sul-americano.
A lenda
Os relatos que falam da “Lenda da Montanha de Cristal” descreve uma montanha muito brilhante. Os bandeirantes não conseguiram escalá-la, mas um negro descobrira o caminho todo calçado de pedras por dentro da montanha. Do alto, dizia o relato, avistava-se uma enorme povoação. O local mostrava-se despovoado, assim, iniciaram sua exploração.
Esse único caminho de pedra levava até a entrada da fantástica cidade (prossegue o relato) até chegar à entrada com um portal que possuía três arcos de grande altura. Havia letras que não poderiam ser copiadas devido à grande altura do portal.
As casas eram construídas de forma simétrica e a cidade parecia uma só propriedade. As coberturas das casas eram, algumas de teto de ladrilho requeimado e outras de laje.
No final da rua, surgia uma praça regular com algo extraordinariamente grande: uma coluna de pedra preta bem ao centro com a estátua de um homem que apontava com o dedo indicador para o Pólo Norte. Em cada canto da praça, ao estilo romano, ficava uma agulha, algumas já destruídas pelo efeito de raios.
O relato continua
Outra grande figura encontrada sobre o pórtico principal da mesma rua, era coroada de louros e despida da cintura para baixo, trazendo estranhas inscrições abaixo do escudo. De ambos os lados da praça, edifícios grandiosos, sendo que o primeiro parecia um templo com figuras em relevo tais como corvos e cruzes. Muitos escombros e ruínas completava o cenário que era encontravado, parecendo que havia acontecido um terremoto.
Um grande rio passava do lado da praça, por onde os bandeirantes navegaram durante três dias até atingirem uma cachoeira. Também foi encontrada uma moeda de ouro desconhecida que trazia a gravura de um homem de joelhos. No verso da moeda, um arco, uma coroa e uma flecha.
A carta fez a lenda
De volta da expedição, os bandeirantes enviaram uma carta ao Rio de Janeiro, o que originou os manuscritos encontrado em 1839.
A autoria do manuscrito, segundo o pesquisador Heman Kruse e o historiador Pedro Calmon, foi conferida ao bandeirante João da Silva Guimarães, que teria percorrido os sertões da Bahia entre 1752 e 1753.
Estranho é que as autoridades brasileiras, depois de todos os esforços dos tempos do império, jamais se pronunciaram sobre essa miragem fantástica que desafia nossa imaginação. Parte dela ainda pode estar lá, envolvida pela vegetação, contando uma história bem diferente do que nos é ensinada nos livros escolares.
Por que seus vestígios teriam desaparecido, ficando apenas o mito?
Mito e Arqueologia no Império
Em um canto esquecido da Livraria Pública da Corte (atual Biblioteca Nacional), um manuscrito muito antigo e carcomido foi descoberto em 1839 pelo naturalista Manuel Ferreira Lagos, e entregue ao IHGB. Tratava-se do documento hoje conhecido como 512, com o título de Relação historica de uma occulta, e grande povoação antiquissima sem moradores. Sem saber, Lagos havia desencadeado o surgimento da mais conhecida fábula arqueológica do Brasil. Uma miragem fantástica, pela qual diversos intelectuais dedicariam todos os esforços para tentar solucioná-la.
Sapiente da enorme importância desse documento, o cônego Januário Barboza logo o publicou integralmente na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Não sem antes realizar um pequeno prefácio, onde apelou para o estudo das antigas tradições, reconstituindo a saga de Robério Dias, o Muribeca ? preso por não revelar ao governo português a localização de ricas minas de prata na Bahia. Mesmo sem nenhuma comprovação da realidade desta cidade, para os entusiasmados intelectuais tal Relação histórica era um vestígio que poderia conduzir a grandes descobertas. É muito importante a análise deste documento na conjuntura de sua época, também para entendermos mais a fundo a receptividade por parte do Instituto no Oitocentos. Inicialmente resumiremos a narrativa, definindo em seguida algumas hipóteses sobre o tema.
A ORIGEM DO MITO
O subtítulo da Relação esclarece o motivo da expedição pelos bandeirantes, a busca das minas de prata de Muribeca, na qual ficaram dez anos vagando nos sertões da Bahia. A estrutura da aventura não possui praticamente nenhum elemento fantástico, típico dos relatos quinhentistas sobre o Eldorado amazônico. Nem seres extraordinários, nem uma geografia pela qual o maravilhoso ditava totalmente as regras.
O início do relato descreve o encontro de uma montanha muito brilhante, devido à existência de cristais. Admirados pelo local, os bandeirantes no entanto não conseguiram escalar a formação rochosa. Um negro da expedição, ao tentar alcançar um veado branco (albino?), encontrou um caminho calçado por dentro da montanha, pelo qual a excursão seguiu adiante. Do alto da montanha, avistaram adiante uma "povoação grande, persuadindo-nos pelo dilatado da figura ser alguma cidade da Costa do Brazil"1. Após certificarem-se de que o local estava despovoado, iniciaram sua exploração.
O acesso para a cidade era feito por um único caminho de pedra. A entrada da urbe era formada por "tres arcos de grande altura, o do meio he maior, e os dous dos lados são mais pequenos: sobre o grande, e principal devizamos Letras que se não poderão copiar pela grande altura". Na cidade, as casas eram feitas com muita regularidade e simetria, parecendo "huma só propriedade de cazas, sendo em realidade muitas, e algumas com seus terrados descubertos, e sem telha, porque os tectos são de ladrilho requeimado huns, e de lages outros". Percorrendo o interior destas habitações, os bandeirantes não encontraram nenhum vestígio de móveis ou qualquer outro objeto. Ao final da rua, depararam com uma praça regular, que possuía em seu interior uma:
(...) collumna de pedra preta de grandeza extraordinaria, e sobre ella huma Estatua de homem ordinario, com huma mao na ilharga esquerda, e o braço direito estendido, mostrando com o dedo index ao Polo do Norte; em cada canto da dita Praça está uma Agulha, a imitação das que uzavão os Romanos, mas algumas já maltratados, e partidos como feridas de alguns raios.
Sobre o pórtico principal da rua, também situava-se uma "figura de meio relevo talhada da mesma pedra, e despida da cintura para cima, coroada de louro" e com inscrições abaixo do escudo. Nos lados esquerdo e direito da praça existiam edifícios imensos. O primeiro parecia, segundo os narradores, um templo com muitas figuras em relevo nas suas laterais, como cruzes e corvos. Outras partes da povoação, jaziam em grande escombro e muita ruína, que teria sido causado por um terremoto. Próximo à praça descrita, também havia um grande rio. Seguindo por ele, os bandeirantes após três dias encontraram uma enorme catadupa (cachoeira). Neste local, ocorriam grandes quantidades de furnas, muitas cobertas com lages e inscrições. Ainda entre as ruínas foi encontrada uma moeda de ouro muito grande, com "a imagem, ou figura de hum moço posto de Joelhos, e da outra parte hum arco, huma coroa, e huma sétta". Após chegarem na região entre os rios Paraguaçu e Una, os expedicionários enviaram uma carta ao Rio de Janeiro, originando o manuscrito original.
Inicialmente, devemos perceber que estas ruínas não pertencem ao modelo urbanístico colonial português ou espanhol. A possibilidade de terem encontrado algum centro de mineração, abandonado após o término da exploração, também é muito remota. Na metade do século XVIII, a maioria dos complexos mineradores ainda estava em atividade na Bahia. Inscrições, templos, pórticos e estátuas nos levam ao encontro de uma origem mediterrânea clássica, portanto, imaginária do relato. O problema principal é determinar como foi o contato com esse modelo europeu. A primeira metade do Setecentos foi marcada por uma grande efervescência clássica na Europa, antecipando uma matriz cultural para a data do manuscrito: a comparação das praças com as construídas pelos romanos; estátuas com coroa de louros; pórticos grandiosos; moedas de ouro e citações de acidentes geográficos ocidentais ("Alpes e Pyrinéos"; "Nillo"). Tudo isso nos leva a crer que o autor do relato estava profundamente inserido no contexto das descobertas arqueológicas e culturais que estavam sendo efetuadas na Europa ao início do séc. XVIII.
Mas existem também dois elementos na narrativa que fazem parte de tradições folclóricas muito mais antigas, advindas do séc. XVI. A primeira é referente aos montes de cristais reluzentes, no início do relato. Aventureiros descreveram pelo interior brasileiro a existência de montanhas e serras resplandescentes, associadas a metais e pedras preciosas. Essa tradição formou, a partir do Setecentos, o fundamento para alguns folclores bandeirantes, como a Lagoa Dourada (Eupana e Sabaroboçu). O historiador Buarque de Hollanda acreditava que essa tradição esteve intimamente relacionada com o mito do Paraíso Perdido, para o qual funcionaria como uma espécie de antecipação do maravilhoso: "da montanha que refulge passa-se muitas vezes sem dificuldade aos castelos, cidades, casas e igrejas de cristal, tão freqüentes nas clássicas visões do paraíso"2. Graças ao avistamento dessa montanha fascinante, os bandeirantes puderam localizar as ruínas baianas. Também muitas narrativas de cidades imaginárias possuíam uma estreita vinculação com montanhas feitas com metal precioso, como por exemplo o Eldorado. Outra tradição de origem colonial diz respeito a certa estátua, encontrada na Ilha dos Corvos (Açores), cujo folclore sobreviveu até o séc. XVIII, em forma literária ou poética. Segundo Damião de Góes, em sua Chronica do Principe D. Joam (1567), durante o reinado de D. Manuel, navegadores em incursão pela mencionada ilha descobriram, no cume de uma serra, uma imensa estátua de um homem vestido de bedém (túnica mourisca), sem barrete, com o braço estendido e a mão apontando para o poente. Abaixo da estátua foram ainda avistadas inscrições misteriosas, sem possibilidades de tradução. Já o poema Caramuru, de José de Santa Rita Durão (1781), também mencionou a célebre estátua: "E na ilha do Corvo, de alto pico (...) Onde acena o país do metal rico (...) Voltado estava ás partes do occidente, d'onde o aureo Brazil mostrava a dedo"3. Na cidade perdida da Bahia também existiria uma estátua central, cujo braço estendido apontava o dedo para o norte, com certas inscrições indecifráveis no mesmo local. Percebemos com essas duas tradições que o autor do manuscrito estava perpetuando um folclore mais antigo, incorporado ao universo dos bandeirantes e exploradores. Mas os elementos da arqueologia setecentista foram muito mais determinantes na estrutura do texto, como já mencionamos.
A descoberta e escavação de Herculanum iniciou-se em 1710, mas foi com a confirmação de seu nome e origem (1738) que estas ruínas romanas tornaram-se muito famosas. Pompéia foi escavada, por sua vez, a partir de 1748, e sua identificação ocorreu apenas em 1768. Podemos também estabelecer uma relação destas ruínas romanas, principalmente Herculanum, com a cidade do manuscrito, ao perceber que o terremoto citado pelo bandeirante é uma catástrofe natural semelhante ao vulcão (no caso, o Vesúvio). A natureza interferindo na obra humana. Outra questão é identificar como essas matrizes foram conhecidas no Brasil. A primeira publicação em larga escala dos vestígios romanos apareceu somente em 1756, com o livro L'antichità romana de Piranese, três anos após a descoberta da cidade baiana. É possível, deste modo, que o autor da imaginária cidade tenha estado anteriormente na própria Europa em contato com esse panorama cultural.
O pesquisador Hermann Kruse e o historiador Pedro Calmon estabeleceram como autor do manuscrito em questão, o bandeirante João da Silva Guimarães. Percorrendo os desconhecidos sertões da Bahia entre 1752-53, ele teria noticiado a descoberta das muito procuradas minas de prata de Robério Dias, justamente na região dos rios Paraguaçu e Una4. Uma similaridade de data e localização com a prescrita na Relação da cidade abandonada. Exames efetuados pela Casa da Moeda dois anos depois, porém, declararam que as minas não passavam de minérios sem nenhum valor. Aturdido, Guimarães foi conviver com os índios, desaparecendo após 1764. A obra de Pedro Calmon nos forneceu outra pista valiosa para a elucidação da origem histórica deste mito. Um dos auxiliadores das buscas de Guimarães foi o governador da província mineira, Martinho de Mendonça de Pena e de Proença. Examinando sua biografia, descobrimos que ele tinha sido bibliotecário, poliglota e filólogo, membro da Real Academia de Lisboa.
Além de ter proferido uma palestra sobre megalitismo português (Discurso sobre a significação dos altares rudes e antiquissimos, 1733), Proença também realizou, em 1730, uma investigação sobre as misteriosas inscrições de São Tomé das Letras, em Minas Gerais. A partir de 1738, estes caracteres se tornaram muito famosos, circulando cópias por toda a província. Ao analisarmos uma dessas reproduções, percebemos grande semelhança de alguns glifos com os da cidade perdida, principalmente cruzes e letras latinas. Além disso, foram interpretados por um dos autores da reprodução, Mateus Saraiva, como sendo caracteres romanos. No período em que circulavam as cópias, o bandeirante João Guimarães abandonara Vila Rica e partira em missão exploratória para as regiões dos rios São Mateus, Doce e Pardo, todos na província mineira. Atacado por índios, foi então auxiliado pelo governador Martinho Proença. Talvez a origem do mito esteja nesse antigo contato, entre um bandeirante ávido por ouro e um acadêmico interessado em arqueologia. Proença tinha todas as condições para criar a imagem de uma cidade em ruínas semelhante às romanas, repleta de inscrições, enquanto Guimarães desejava a todo custo encontrar riquezas sem fim. O acadêmico morreu em Lisboa (1743), e João Guimarães anunciou oficialmente, em 1752, a descoberta de minas de prata pelo interior baiano, escrevendo em seguida o manuscrito da cidade perdida.
O INÍCIO DAS BUSCAS
Os investigadores do Instituto Histórico não conheciam os autores do manuscrito, mas mesmo assim a narrativa foi encarada como um fato totalmente verdadeiro. Ao contrário das tribos indígenas, habitantes de rudimentares choupanas, essas ruínas aventavam a possibilidade de uma antiga civilização muito adiantada ter ocupado a jovem nação. Imediatamente, todos os esforços em encontrar esses maravilhosos vestígios foram efetuados. Em uma reunião do IHGB, o autor da descoberta do manuscrito, Manuel Lagos, oferecera-se para litografar e doar 500 exemplares das inscrições da cidade perdida.
Ao completar uma ano de fundação em 1839, o Instituto Histórico apresentava sob a forma do relatório de seu secretário os resultados obtidos durante esse percurso. Se não eram completos, ao menos revelavam uma franca esperança no cumprimento das suas metas básicas de recuperar as origens da nação. Ao citar estupendas descobertas arqueológicas em países muito próximos do Brasil, como Palenque no México e fortificações no Peru, Januário Barboza deixou claro que tais vestígios também podiam ser encontrados no império. A Europa recentemente maravilhara-se com publicações sobre ruínas maias, como Vues des Cordillères et Monuments deus Peuples Indigènes de l'Amérique (1810, de Humboldt), Antiquites of México (1831, de Lord Kingsborough), e Voyage pittoresque et archéologique dans la province d'Yucatan et aux ruines d'Itzalane (1838, de Jean Waldeck). É claro que os intelectuais brasileiros também esperavam encontrar indícios tão promissores nas desconhecidas florestas do Brasil5.
Advindo o novo ano de 1840, surgiram novas referências sobre o intrigante tema. Dois eruditos, o cel. Ignacio Accioli Silva e A. Moncorvo, residentes na Bahia, enviaram dados baseados em descrições regionais:
(...) sobre a cidade abandonada nos sertões desta província (...) que não parece ser fabuloso, pelas coincidentes noticias de varios antigos moradores, e exploradores dos sertões, pois por tradição se falla em uma grande Povoação, ou Cidade desprezada e que dizem a habitáram Indios e negros fugidos6.
Na tentativa de conseguir informações sobre a antiga cidade, os investigadores acabaram por contatar manifestações do folclore de muitos séculos. Conhecidas pela denominação de cidades encantadas por toda a América Latina, foram metamorfoses de antigos mitos coloniais, como o Eldorado e tradições bandeirantes, formando um rico e elaborado imaginário popular. Muitas destas tradições de cidades encantadas sobrevivem até os dias de hoje por meio da transmissão oral, mas algumas também foram incorporadas à literatura e à poesia, como Maiundeua e Axuí (Pará e Maranhão). Sendo um campo praticamente inexplorado pelos historiadores, é muito difícil elaborar análises sem maiores conhecimentos de fontes. Resta apenas tentar criar hipóteses entre essa aludida entrevista dos eruditos com os populares, ou seja, como as tradições coloniais sobreviveram na forma folclórica do século XIX. Essas cidades encantadas teriam sofrido influências do relato de Guimarães?
Voltamos novamente ao livro de Pedro Calmon.
Nele, o historiador afirmou que após a morte do bandeirante João Guimarães em 1766, rumores sobre ruínas já tinham sido criados por populares. Quando se iniciou a grande extração de diamantes na Bahia, a partir de 1844 na região da Chapada Diamantina, o folclore estava bem consolidado. Mas também não podemos descartar a interferências de outras tradições antigas, como as de redutos indígenas e quilombos pela província, como a própria entrevista dos membros do IHGB deixou claro.
Na Bahia ocorrem diversos vestígios de antigos quilombos, como nas regiões de Bom Jesus da Lapa e Rio das Rãs. Relatos imaginários também são muito freqüentes por toda a região. Em Lagoa Santa (MG), existe a fábula de uma cidade submersa através de uma catástrofe, muito similar ao mito de uma cidade submarina de esmeraldas que ocorre na área do médio rio São Francisco, na Bahia. Percebemos, desta maneira, que o mito popular foi reinterpretado pelo imaginário erudito, reforçando as convicções vigentes sobre um passado grandioso prestes a ser revelado.
cperdida2Nesse início de 1840, para além do entusiasmo dos eruditos filiados ao Instituto, também os estrangeiros estavam profundamente interessados na confirmação das enigmáticas ruínas. Uma expedição naturalista provinda de Copenhague, a bordo da fragata Bellone, teve como passagem o porto de Salvador. Composta pelos militares Suenson e Schultz, além do botânico Kruger, encarregados de examinar a misteriosa localidade. Não chegaram nem a concretizar a expedição ao local, por falta de maiores informações geográficas: "Mais rien ne fut exécuté, et nous en sommes encore réduits aux conjectures sur cette antique cité"7. O grupo também obteria informações do arcebispo da Bahia, Romualdo Seixas, que no ano anterior fora citado como membro do IHGB na categoria de sócio correspondente. Mais tarde viria a ser conhecido como marquês de Santa Cruz. Importante personagem no cenário político daquele momento, como primaz do Brasil, foi quem presidiu em 1841 a solenidade de sagração de D. Pedro II. Ainda durante os anos 40, Seixas seria admitido como sócio na Sociedade Real dos Antiquários do Norte, demonstrando seu grande interesse por assuntos arqueológicos.
Os dados trazidos do interior da Bahia por Moncorvo e Accioli, além do interesse do arcebispo Romualdo, seriam reforçados por uma inesperada carta de Munique, assinada por Carl Von Martius. Constituindo-se na gênese da futura dissertação Como se deve escrever a História do Brasil, o documento foi lido com muito interesse na sessão realizada em agosto de 1840. No periódico da agremiação, publicaram-se determinados trechos do manuscrito, procedimento que segundo nossa interpretação, procurava demonstrar somente as idéias mais importantes para as metas projetadas nesta época.
A primeira imagem esboçada por Von Martius foi a respeito de um passado muito remoto para os primeiros brasileiros. A confirmação das diferenças civilizacionais entre essa povoação e os indígenas contemporâneos se fez através da idéia de contingente populacional e padrões de nobreza. Essa primeira idéia já havia sido levantada, de maneira oposta, pelos deflagadores da inferioridade americana durante o Setecentos. Para Buffon, Raynal e De Pauw, as informações dos cronistas e viajantes sobre as sociedades ameríndias eram falsas, pois a população das cidades pré-colombianas seria muito pequena, com os índios espalhados pelo campo. A concepção geológica de um continente novo contrariava a idéia de uma grande população urbana na América. Com isso, uma remota ancestralidade e uma grande população seriam fundamentais para definir a outrora sociedade que existiu no Brasil.
As provas desse suposto tempo antigo, segundo Von Martius, seriam encontradas na mitologia indígena e em vestígios arqueológicos nesta região central do nosso País. Nada mais conveniente para as metas do Instituto do que essas hipóteses que encaminhavam para uma formidável descoberta em solo brasileiro. Na mesma sessão, o historiador Varnhagen declarou: "uma proposta para methodicamente serem recolhidas pelo Instituto as possiveis noticias sobre essa grande geração decadente"8. Conciliando dessa maneira as pesquisas sobre as inscrições fenícias da pedra da Gávea (dessa mesma época), a cidade da Bahia e as observações do sábio alemão, o Instituto sentia-se seguro para estabelecer um panorama otimista de nossos vestígios, determinando para todos os agremiados a busca dessa geração perdida.
UM VIAJANTE DO MARAVILHOSO
Conscientes de que a glorificação monumental só poderia ocorrer através de explorações, os membros do Instituto nomearam em 1840 o cônego Benigno José de Carvalho e Cunha para encontrar a cidade perdida da Bahia. Quais foram os motivos da escolha deste religioso? As pistas nos levam a um contexto externo ao IHGB. Benigno era professor, poliglota, especialista em línguas orientais e padre subordinado ao arcebispo Romualdo Seixas na Bahia. Suas ligações eram muito profundas, tanto que em 1840 dedicou um de seus livros (A religião da razão) a este arcebispo. As razões para o interesse de Seixas para com a cidade perdida são obscuras. O mais provável é que mantivesse um controle sobre todos os fatos científicos e culturais reinantes em sua província, indicando desta maneira o cônego Benigno para encontrar as tão almejadas ruínas.
Ainda no ano de 1840, em princípios de novembro, Benigno de Carvalho chegou a Salvador em seu período de férias. Neste local, recolheu informações de viajantes que estiveram no interior da Bahia, como o desembargador Mascarenhas de Assis e o dr. Remigio Andrade. O cônego encontrou algumas contestações da legitimidade de sua expedição. A credibilidade da cidade perdida, apesar de sua grande aceitação acadêmica, não era um fato absolutamente genérico. Sem desanimar, negou o caráter fabuloso das ruínas baseado principalmente na estrutura narrativa do documento bandeirante. Percebe-se que Benigno concebia o manuscrito como um autêntico diário de campo, onde os fatos descobertos foram sendo narrados fielmente. Ao mesmo tempo uma história muito simples e ingênua, o documento incluiria detalhes estranhos ao universo bandeirante, como as supostas inscrições avistadas: "como lembrariam a mineiros os caracteres gregos, ou runnos" 9? Essa lógica interna, também percebida pelos outros membros do Instituto e até alguns estrangeiros, constituiu a prova mais tangível da existência do fascinante local.
A primeira problemática colocada em campo por Benigno foi a localização exata do sítio. Concentrando-se no único detalhe geográfico mencionado no documento, que relata a existência de um riacho de frente à cidade, pelo qual os aventureiros desceram e após três dias chegaram aos rios Paraguassu e Una, firmou sua hipótese, na qual o lugar indicado pelo documento seria a serra do Sincorá. Em seguida passou a obter maiores referências sobre essa serra com os moradores das regiões litorâneas. Ainda na cidade de Salvador, o cônego realizou diversos estudos hidrográficos, todos baseados apenas nos mapas do período. Acreditava o cônego que gastaria 14 dias seguindo o mesmo trajeto dos bandeirantes até a cidade, mas como estava no final das férias, começou a abandonar a idéia de concretizar efetivamente a busca no distante recanto. Planejava ir somente até a cidade de Valença, a maior vila da região, onde obteria maiores informações sobre o rio Braço do Sincorá, se possuía cachoeiras e minas ao seu redor, confirmando o relato dos bandeirantes.
Chegando na cidade de Valença em 5 de fevereiro de 1841, o padre foi acompanhado de um rapaz chamado Ordinando, recebendo um salvo conduto do presidente da província. Que não chegou a ser utilizado, pois devido à grande quantidade de chuvas na região, a expedição foi cancelada. O resto de sua estada na cidade histórica de Valença foi ocupado recolhendo tradições orais dos antigos moradores. O primeiro entrevistado foi Antonio Joaquim da Cruz, que tinha viajado pelas regiões interioranas da Bahia. Afirmava que teria subido o Sincorá e que a cidade perdida ficaria localizada em uma mata na direção leste, mas não teve coragem para adentrá-la. Confirmou ainda a existência de uma grande cachoeira e de profundas minas que emitiriam um estranho estampido. De outros moradores de avançada idade recolheu informações sobre uma cidade muito antiga destruída por um
(...) terremoto, outros que por alluvião (inundação): alguns affirmam que ella existe, mas que nella está um dragão que traga quem lá se approxima; outros dizem que quem lá vai não volta; e a este respeito me contaram uma anedocta de certo coadjutor (sacerdote) que foi a desobriga (visita clerical) para aquelles sitios, e nunca mais appareceu, etc. etc.10.
Observamos aqui alguns exemplos de cidades encantadas presentes no folclore baiano. Todos estes aspectos sugerem uma origem muito mais antiga, anterior à bandeira de João Guimarães no séc. XVIII. Isso pode ser conferido, por exemplo, com o desfecho catastrófico sugerido para a cidade. Terremotos e inundações foram muito comuns em outras cidades imaginárias, como a Atlântida grega. Também tiveram grande influência simbolismos bíblicos, a exemplo do dilúvio universal, por sua vez muito populares nas teorias eruditas a partir do Setecentos, explicando a origem da humanidade. O aspecto do desaparecimento de pessoas que visitaram a cidade também é percebido em outras localidades imaginárias sul-americanas, como a Ciudad de los Césares. No Brasil, temos os casos de Maiandeua (Maranhão) e Grozongo (Pernambuco), cidades fabulosas que desaparecem sem deixar vestígios. No Estado da Bahia, o folclore de taperas abandonadas que se afundam no chão ainda é muito comum11.
Todos estes testemunhos colhidos por Benigno reforçaram suas convicções e hipóteses, confirmando a situação da cidade perdida na região do Sincorá. Planejando a futura expedição para o final de 1841, esclareceu em uma carta enviada em fevereiro ao Instituto, que essa jornada seria muito "longa e perigosa por causa das serpentes e onças, em que abundam aqueles sitios; há selvagens, porêm mansos". Apesar destas aparentes dificuldades, solicitou à agremiação carioca subsídios financeiros para a execução da viagem em pelo menos dois contos de réis.
Entraram em cena mais uma vez os poderosos aliados de Benigno. Um parecer realizado pela comissão de história do Instituto estipulou a publicação dos documentos enviados pelo padre, além do pedido imediato de verbas ao governo, para o êxito da expedição12. E caso não fosse possível a realização de um mapa da viagem, que ao menos os responsáveis publicassem um relatório detalhado da mesma. Em julho foi impressa a memória de Benigno na Revista do IHGB, no mesmo mês da coroação do imperador D. Pedro II.
Após este agitado período político, o arcebispo Romualdo Seixas foi efetivado como membro honorário do Instituto, sendo motivado a auxiliar o bom êxito da busca ao interior da Bahia. Com a influência de importantes personalidades, certamente a empresa não demoraria a colocar-se em campo. No mês de outubro Benigno enviou outra carta para a capital, desta vez tratando de minas descobertas recentemente na região da serra da Mangabeira (BA), acreditando que seriam as minas de Muribeca, muito perseguidas pelos bandeirantes. Além de interesses políticos, cada vez mais a planejada viagem a campo do cônego cercava-se de intenções econômicas.
No início de novembro, o presidente do IHGB (visconde de São Leopoldo), realizou uma petição ao imperador, solicitando financiamento para a expedição. A importância desse empreendimento foi ressaltada pelo documento principalmente pelo seu caráter utilitário. Caso falhasse em seu objetivo maior, ao menos a exploração poderia encontrar "terrenos incultos, e ainda não desafiados no interior do Brasil"13. Situando-se em uma região pouco conhecida, a cidade perdida poderia fornecer elementos de ordem mineralógica, como também terrenos para a agricultura. Competindo com o grande tema da Revista do IHGB ? a etnografia indígena ? as pesquisas do espaço geográfico nacional sempre foram muito destacadas. A publicação de narrativas de viagens, explorações, novas delimitações cartográficas e territoriais, contribuiriam para a construção do império tropical. Todo estudo para desmantelar o incógnito e o vazio de conhecimento era sempre muito incentivado pela elite.
É evidente que as regiões próximas à capital tiveram um interesse imediato por suas importâncias econômicas ou políticas. Em uma carta remetida ao secretário perpétuo, um viajante mineiro enviou dados do
(...) deserto que separa as povoações da provincia de Minas Geraes, e às povoações do littoral nas Provincias do Rio de Janeiro, Espirito Sancto, e Bahia (...) derramando algumas luzes sobre os pontos pouco conhecidos dessa interessante porção de territorio ainda oculto14.
A província da Bahia, nesse contexto, tinha uma situação estratégica. Somente o seu litoral era bem conhecido nesse período, e a expedição de Benigno coincidia com essa necessidade de desvendar o que se denominou de deserto: tudo aquilo que não foi ainda explorado, abrangendo florestas, matas, rios e montanhas. Na realidade, estamos tratando aqui de uma categoria cultural muito mais ampla, a imagem do sertão. Mais do que simples locais interiores do império, são "espaços desconhecidos, inacessíveis, isolados, perigosos, dominados pela natureza bruta e habitados por bárbaros, hereges, infiéis, onde não haviam chegado as benesses da religião, da civilização e da cultura"15. Extraviada no incógnito, a cidade perdida da Bahia esteve associada com a imagem do sertão. Um exemplo pode ser percebido com o coronel Ignácio Aciolli Silva. Especialista nos temas da província baiana, estava inserido nesse contexto de elucidação do espaço geográfico e, ao mesmo tempo, no estudo da cidade perdida. Em 1840 recolheu informações populares sobre esse tema, e tencionava descobrir outros dados sobre os vestígios de antigas habitações, que teriam sido ultimamente encontrados nas escavações de diamantes da serra do Assuruá. O sertão torna-se, ao mesmo tempo, um empecilho para a civilização ? por seu caráter de nulidade territorial, e um potencial econômico ? pode revelar imensas riquezas. A busca de ruínas implicava solucionar essas duas problemáticas, completando a proposta da unidade territorial: "A motivação para pensar o Brasil é a convicção de uma nação incompleta, por isso o dito sobre o sertão se faz com ares de diagnose e, mais, reveste-se de acusações à sua permanência enquanto fardo para o país"16.
Outro aspecto ressaltado na petição ao imperador foi a respeito da expedição de Benigno como interiorização da civilização. Buscou-se através do avanço científico a dominação do espaço selvagem, mas também a propagação dos ideais de civilidade, moral e religião. Afinal o buscador da cidade esquecida não foi um padre? O mesmo princípio de algumas expedições naturalistas e de pacificação indígena, que além do explorador/cientista sempre participava um religioso. Em Benigno essa função foi unificada dentro do contexto de uma missão heróica semelhante à dos jesuítas, ao interferirem na realidade americana durante o período colonial. Mesmo o documento dirigido ao imperador parece apontar nas entrelinhas esse fato. Para o visconde de São Leopoldo, a civilização estacionou nos locais onde justamente existiram as missões jesuíticas "e que não são de certo as que devem constituir os limites occidentais de nosso império"17.
Quatro dias depois da solicitação, prontamente houve uma resposta positiva por parte do imperador. Novamente se manifestou o presidente do Instituto, muito otimista por certo ao verificar que sua petição fora aceita. Recentemente coroado, D. Pedro II iniciou seu relacionamento com a construção de uma identidade nacional, mas também com a política cultural que se praticava nesse período. Com isso, ao mesmo tempo em que o imperador participava do mais entusiasmado e pretensioso projeto do Instituto na sua primeira década de existência, também refletia sua credibilidade na existência de uma remota civilização esquecida em nosso País. E também, nada mais conveniente ao seu recente governo do que a descoberta de imponentes ruínas no remoto brasílico.
No início de dezembro, finalmente o obstinado padre Benigno colocou-se em campo. Desta vez conseguiu chegar à região pretendida, onde permaneceu por muito tempo. Enquanto a capital aguardava com ansiedade qualquer notícia de seus resultados, a expectativa criava muitas hipóteses favoráveis aos propósitos da agremiação. Na terceira sessão pública de fundação do IHGB, em dezembro de 1841, o imperador novamente compareceu, revelando o prestígio dessa solenidade. Comparados com os anos anteriores, os discursos e conferências foram muito mais exaltados. Depois de três anos de atividades, as pesquisas começavam a formar uma sólida crença em um passado capaz de rivalizar-se com o das grandes nações, inspirando também a formação de novos rumos para o futuro. Totalmente convicto disso, o presidente do Instituto, visconde de São Leopoldo, realizou um discurso incitando a procura de novas fronteiras do conhecimento, pela qual a conquista de descobertas inusitadas inflamariam o espírito humano. O desfecho da palestra glorificou o mecenato imperial18.
Influenciada pelo conceito francês de civilização, a elite imperial procurava demonstrar constantemente a ligação do Brasil com o Velho Mundo e sua cultura. Desta maneira, utilizava um parâmetro de comparação com outras formas de sociedade, como a dos ameríndios, para poder expressar seus próprios valores e se auto-afirmar. Como o próprio visconde afirmou, o imperador conclamou os resultados do Instituto, na expectativa futura da nação alcançar os patamares superiores do mundo contemporâneo. A descoberta da cidade perdida refletiria diretamente nesta imagem do Brasil: uma nação em progresso, portadora de vestígios arqueológicos, conhecimentos científicos, ideais e costumes elevados. A própria imagem de D. Pedro II foi relacionada, mecenas culto que patrocinou o possível desvendar da maior glória pretendida nesse período.
O próximo intelectual a pronunciar-se, o cônego Januário Barbosa, manteve os mesmos ideais. Relatando as principais atividades, projetos e descobertas nos últimos três anos, o secretário perpétuo não omitiu o fato dos temas indígenas terem ocupado a maior parte das preocupações da instituição. Mas qual o motivo desse grande interesse? O próprio Barbosa esclareceu:
(...) investigar o gráo de civilisação a que haviam chegado os povos do novo Mundo antes de apparecerem ás vistas de seus descobridores, força era que nos costumes dos Indios procurassemos o fio, que nos deve conduzir a tempos muitos mais anteriores19.
Se as pesquisas etnográficas e a literatura conduziam a um interesse objetivo pela imagem do indígena heróico, puro e honroso, os estudos arqueológicos tentavam encontrar indícios muito mais promissores. A grande antiguidade desses possíveis vestígios foi sempre mencionada como um indicativo de sua sofisticada civilização. Pois as sociedades pré-cabralinas ? encontradas pelos europeus no período de descobrimento ? eram muito primitivas (aos olhos dos nossos nacionalistas), com os grandes acontecimentos do passado esquecidos pelos seus habitantes, confiantes apenas na tradição oral. Nesta situação, as investigações etnográficas pouco poderiam contribuir para elucidar a questão do fio condutor para a geração dos tempos antigos. Para reforçar suas hipóteses, Januário Barbosa citou Von Martius, repetindo toda a sua longa carta publicada um ano antes no mesmo periódico.
Devemos perceber que esses argumentos procuravam legitimar politicamente a expedição do cônego Benigno, recentemente enviada pelo interior baiano com os custos imperiais. Louvado por Barbosa como gênio da arqueologia, o religioso foi caracterizado como uma espécie de herói por ter-se embrenhado em tão cerradas florestas e ter de atingir serras ainda não devassadas. Ao enaltecer o custeamento por parte de D. Pedro II, Januário Barbosa ainda insistiu nos perigos da empresa ao caracterizá-la como muito arriscada. Ao final, porém, a justificativa foi feita por outros meios, repetindo os argumentos anteriores da petição do IHGB.
Ao mesmo tempo procurando calar as vozes opositoras, que negavam a existência destas civilizações perdidas, essa justificativa atendia ao alargamento das fronteiras econômicas da nação. O conhecimento geográfico propiciava interessantes retornos financeiros sob a forma de minérios valiosos, terras para a agricultura, habitação e a exploração de recursos naturais. E também o melhor controle político das fronteiras entre as províncias, estas com enormes extensões desconhecidas entre as capitais e o interior. As fantásticas ruínas da Bahia ainda foram apontadas como um
(...) perduravel monumento, que marque nas gerações futuras o feliz reinado de nosso Augusto Protector o Senhor D. Pedro II, e que chame as vistas das Academias e dos sabios do mundo a este grande territorio, cuja geographia, ainda mais que sua historia, se acha desgraçadamente confusa, por não dizer ignorada.
Anteriormente, na comentada petição, o visconde de São Leopoldo também havia caracterizado a cidade baiana como um possível monumento histórico desconhecido.
Ao início da formação do novo império, a elite intelectual já demonstrava um interesse objetivo em vincular vestígios monumentais com o reinado de D. Pedro II. E essas tão almejadas ruínas poderiam simbolizar a perenidade da nação brasileira. Ao mesmo tempo, rompendo a nossa vinculação histórica com Portugal, ao demonstrar que outras civilizações européias estiveram em nosso solo muito tempo antes. Mas não podemos limitar o uso simbólico do passado apenas a vestígios arqueológicos e históricos. O próprio espaço físico foi utilizado pela elite imperial para dar credibilidade a uma idéia de nação.
Seguindo seus pensamentos, Barbosa relatou a aprovação de uma comissão que deveria reunir em um único volume todas as informações geográficas disponíveis, formando um grande atlas brasileiro, eternizando a gloria dos trabalhos do império. As características do espaço físico deveriam formar também uma memória, que o historiador José Bittencourt denominou de território largo e profundo, isto é, as simbolizações de espaço e tempo efetuadas pela elite intelectual que, somadas com representações históricas, foram importantes elementos na formação do Estado Imperial20. Com isso, o secretário ao relacionar os objetivos da comissão do atlas como sendo a busca de monumentos, estava mencionando acidentes físicos que poderiam caracterizar a grandeza do império, e assim como as ruínas humanas, poderiam ser transformados em ícones simbólicos da nação. Percebemos que:
(...) todo imaginário social, da mesma forma que possui um forte componente político, possui também um forte componente espacial pelo poder simbólico atribuído aos objetos geográficos, naturais ou construídos, que estão em relação direta com a existência humana. Em outras palavras, todo imaginário social pode revelar-se imaginário geográfico21.
Aqui também verificamos outro conceito, de que a paisagem geográfica é uma construção imaginária, enfim, uma representação cultural de determinada sociedade ou indivíduo. Os planos da elite imperial para a construção de uma nação tropical, necessariamente estavam assentados em determinados símbolos geográficos, sem o qual este imaginário político não teria legitimidade.
Não esgotando estes recursos simbólicos visando à estruturação do poder imperial, a Revista do IHGB mantinha-se aguardando as notícias de seus associados. E a aventura de Benigno de Carvalho estava distante de um fim. Em duas cartas recebidas já no início de 1842, percebemos as dificuldades da expedição. O cônego afirmou que a quantia de 600 réis recebida para os custeios eram insuficientes para realizar o trajeto almejado, obrigando-o a tomar um caminho mais curto. Logo em seguida, em outra carta enviada da mesma província, o nosso conhecido coronel Ignacio Accioli Silva preocupou-se com o sucesso da referida expedição, por acreditar que os recursos eram muito escassos. Quatro meses depois o mesmo coronel enviou outra correspondência noticiando que a expedição ainda não tinha retornado22. Somente em agosto a ansiedade geral seria em parte desfeita, após o recebimento de um novo e detalhado relatório.
Ao contrário do anterior, esse prospecto não era nada animador. O obstinado padre lamentou em todo o documento as privações e dificuldades de concluir a sua missão, além da falta absoluta de recursos financeiros. Aguardando uma possível quantia a ser enviada pelo governador da província, o expedicionário efetuou diversas obras de desmatamento, abertura de estradas e queimadas. Diante de tantas intempéries, o padre adoeceu por diversas vezes de febre e malária, ficando com grande debilidade física. Recebendo uma resposta negativa do governador, o general Andréa, Benigno encontrava-se numa difícil situação. Sem dinheiro e saúde para chegar ao local pretendido, só lhe restava especular ainda mais sobre o instigante assunto antes de retornar para Salvador. Enviou o ordenança do grupo e um negro das redondezas para investigar a região do rio Parassusinho, os quais após 15 dias retornaram sem sucesso23. Não sem antes contatar pessoas no rio Grande, que teriam descoberto um quilombo perdido no Sincorá. Benigno terminou o relatório acreditando que escravos fugidos teriam dominado as antigas ruínas, esperando retornar para verificar a exatidão dessas informações. Para isso necessitava novamente de subsídios do Instituto, que estipulou em 350.000 réis.
Depois de dois anos de buscas infrutíferas, os acadêmicos imperiais começaram a tornar-se mais críticos com relação ao sucesso desse empreendimento. O coronel Ignacio Accioli Silva, ele mesmo anteriormente um caçador de cidades perdidas, enviou uma carta em 1843 com certa ironia. De um início totalmente entusiástico, a descoberta dos gloriosos monumentos baianos começou a revelar-se frustrada. A realidade de nosso panorama pré-histórico e etnográfico parecia querer suprimir todas as fantasias construídas na década anterior. Mas o mito ainda conseguiu sobreviver por algum tempo.
A MIRAGEM CUSTA A DESAPARECER
cperdida3Um ano depois, a persistência do incansável Benigno de Carvalho mais uma vez iria prosseguir na academia. Uma nova correspondência (1844) atualizou suas pesquisas no desconhecido interior baiano. Desistindo da procura pela margem direita do Paraguaçu, agora concentrou seus esforços na região do rio Orobó. Acreditava que a cidade estaria a poucos dias de jornada. Organizando nova expedição com um número maior de pessoas e equipamentos, partiu em direção do local mencionado. Mas em vez de efetuar somente explorações, iniciou a construção de uma ponte e de uma estrada, ligando as margens do rio Tingá com a vila de Santo Amaro24. Qual foi a motivação real desses gastos com tempo e dinheiro, atrasando o objetivo principal do empreendimento? Benigno devia querer aproveitar todo o investimento em soluções concretas para o desenvolvimento da região. Lembremos da anterior petição realizada pelo IHGB ao imperador e dos relatórios do secretário perpétuo, todos aludindo aos interesses econômicos da expedição. Sendo criticado nessa altura dos acontecimentos por alguns opositores, a utilização empírica do dinheiro contribuiria para os objetivos desejados. Outra possibilidade, pequena mas não improvável, é que o padre sofria de diversas doenças na ocasião (reumatismo no braço, malária, inflamação do fígado), que o impossibilitaram de maiores aventuras por regiões selvagens.
No desfecho de sua correspondência, Benigno apresentou provas para a existência da famigerada cidade, entre as quais um testemunho pessoal provindo de um escravo chamado Francisco, que afirmou ter estado nas ditas ruínas! Não descartamos a antiga existência do folclore popular a respeito de cidades encantadas, nem a tradição de quilombos desconhecidos aos quais aludimos anteriormente. Porém, deve-se também ressaltar que os objetivos da missão de Benigno, já há alguns anos internado pelo sertão, deviam ser conhecidos pela maioria dos habitantes dessas regiões. O contato do explorador erudito com as comunidades, nesse caso, deve ter sofrido intenções veladas. O escravo Francisco afirmou que esteve no quilombo quando jovem, vindo a ser cativo na idade adulta. Mas desejoso da alforria, Francisco reforçou o relato com vistas a agradar o entusiasmado pesquisador do Instituto. Se é certo que esses quilombos existiam ainda no período que o padre explorou a região, seus vínculos com a cidade perdida foram puramente imaginários.
O instigante tema da cidade perdida voltou à ordem do dia no IHGB, com a publicação de outra carta de Benigno Cunha, em abril de 1845. Escrita quatro meses antes para o presidente da Bahia, o tenente Andréa, ao mesmo tempo foi um relatório geral de todas as suas expedições, assim como uma espécie de última e desesperada tentativa de credibilidade para o assunto. Afinal, já haviam se passado três anos de explorações sem nenhum resultado concreto. O próprio padre, pela primeira vez apresentou alguns sinais de descrença, porém um novo contato com narrativas de idosos das localidades próximas reanimou suas posteriores convicções ? como a existência de veados brancos (que foram citados no documento bandeirante). Ainda baseado nas descrições do negro Francisco de Orobós (aquele que pedia a alforria), aumentou para três o número de quilombos existentes ao redor da cidade perdida. Já sabemos que o presidente Andréa não partilhava de grandes otimismos quanto a essa expedição. E o pedido de mais soldados, cavalos e dinheiro para Benigno, nunca foi atendido. Nem mesmo sua estupenda afirmação final surtiu efeito: "Eu me animo a affirmar a V.Ex., que a cidade está descoberta"25. É evidente que essa declaração tinha propósitos imediatos para conseguir maiores recursos, mas para o contexto posterior do Instituto, surtiu efeitos avassaladores. Um deles, foi iniciar as contestações acerca da veracidade desse local. O fim da miragem estava próximo.
Benigno Cunha não se comunicou mais com a capital a partir de 1845. Somente no ano seguinte enviou outra carta para o general Andréa, em Salvador, publicada no periódico O Crepusculo, do Instituto Literário de Salvador. A redação da revista inicialmente comentou as pesquisas do padre com extrema ironia. Foram contrários à existência da localidade, principalmente pelo fato de não existirem outros restos de civilização pré-histórica no Estado. Para estes intelectuais, seria um melhor investimento da expedição o levantamento topográfico da Bahia.
E de certa forma foi o que propôs este último relatório, enviado para o também descrente presidente da província. Benigno não citou uma única vez em toda a narrativa o tema da localidade abandonada. Seus estudos foram baseados em um mapa enviado pelo general Andréa, do qual não forneceu maiores detalhes. Basicamente, o padre questionou as bases empíricas de todo o levantamento cartográfico existente a respeito do interior da Bahia, nos mapas de Eschwege, Spix e Von Martius. O relato possui um momento curioso comparado com outras cartas do padre. Dedicou muitas linhas para descrever com grande entusiasmo uma caverna situada no rio Prata, onde percebemos um surgimento de imagens delirantes, típicas de exploradores em situações de extrema dificuldade ou frustração.
Em meados de 1846 o general Andréa, com aprovação da assembléia provincial da Bahia, retirou as ordenanças e o auxílio financeiro ao expedicionário. Benigno permaneceu em campo, provavelmente na região do Sincorá até 1848. Surgiram boatos de que teria ficado louco, escutando sinos e outros sons. Escreveu para o bispo Romualdo Seixas, solicitando faculdades espirituais para beneficiar os habitantes da nova cidade a ser descoberta, onde em breve entraria. Outros rumores desse período diziam que Benigno teria realmente encontrado as almejadas ruínas, e que minérios preciosos estariam sendo explorados por seus superiores hierárquicos26. O que sabemos de concreto é que retornou frustrado para Salvador, vindo a falecer nesta cidade em 1849.
Neste momento refletimos sobre as razões de tanto empenho por parte de Benigno. Seriam apenas fantasias individuais? A fé cega em um mito não pode ser entendida apenas nessa perspectiva, pois como afirmou Girardet, "o mito só pode ser compreendido quando é intimamente vivido, mas vivê-lo impede dar-se conta dele objetivamente"27. Dessa maneira, acreditamos que a análise mítica pode partir de um referencial social de longa duração, mas explicando as atitudes individuais em um contexto histórico. Tanto o comportamento quanto as imagens do desafortunado religioso foram semelhantes às de aventureiros e religiosos que também buscaram outras cidades imaginárias durante a história americana. O maravilhoso ? as imagens que expressam o desconhecido geográfico através do fantástico ? são as estruturadoras básicas dessas aventuras. Os conquistadores coloniais, bandeirantes e arqueólogos modernos, desta maneira, foram impelidos por razões diferenciadas (políticas, econômicas ou culturais), mas seguindo as mesmas diretrizes: a busca por cidades imaginárias, situadas em regiões desconhecidas do incógnito brasileiro. O entusiasmo inicial em ambos os tipos de buscadores não era apoiado em evidências diretas, mas geralmente pelo mecanismo da paralipse. Uma estratégia narrativa que consiste em transferir a autenticidade do relato ou da existência de uma localidade imaginária para outros personagens. O famoso Walter Raleigh, ao tratar do Eldorado, legitimou sua existência com informações de indígenas locais, do mesmo modo que Benigno ao utilizar-se do folclore baiano.
O maravilhoso também foi um reflexo do poder. Os aventureiros coloniais expressaram em seus atos aos indígenas, a imagem do poder imperial europeu. E os representantes do IHGB ampliaram as fronteiras do conhecimento geográfico, ao mesmo tempo em que realizaram atividades de interesse da elite imperial. Se para os conquistadores, as cidades imaginárias estruturavam-se em imagens de abundantes riquezas, atendendo aos interesses mercantilistas do colonialismo, para os arqueólogos do império brasileiro as nossas ruínas irreais atendiam ao ideal da construção de uma nova ordem social e política ? a nação dos trópicos.
E a cidade perdida? Quase findando a década, surgiu uma última e desesperada tentativa de elucidar o mistério. Estamos no ano de 1848. O major Manoel Rodrigues de Oliveira enviou da Bahia para a capital um estudo contestando a localização proposta por Benigno ? região do Sincorá ? e propondo uma nova interpretação do documento, baseada principalmente em indícios encontrados no interior da província. Oliveira chamou a atenção dos intelectuais cariocas para duas regiões em especial, a primeira situada entre a vila de Belmonte (entre os rios Paraguaçu e Una, centro-sul da Bahia), e a outra em Provisão (sudoeste baiano, próximo à cidade de Camamu). Na primeira foram localizados vestígios de móveis antigos, louças, balaústres, ferramentas, vidros, e na segunda, foices, machados e espadas de ferro. Tratava-se, obviamente, de objetos pertencentes a grupos exploradores, mineradores ou antigas guarnições coloniais. Inclusive, no relato original da cidade perdida, não ocorre nenhuma referência a móveis, alfaias ou objetos cotidianos como vidros e louças, pois os bandeirantes encontraram as casas somente em ruínas. Peças de ferro e ferramentas também não faziam parte da Relação. O único e exclusivo ponto em comum com esses objetos coloniais, foi a menção de uma moeda de ouro ao final do manuscrito.
Ao mesmo tempo em que criticou as pesquisas do cônego, Oliveira concebeu hipóteses fantasiosas muito mais ousadas do que seu predecessor. Fez um breve esboço do alcance urbano dessa perdida civilização no centro da Bahia. Teriam construído um ancoradouro às margens do rio Paraguaçu, uma estrada de acesso próximo ao rio Una, e as pedreiras de mármore da serra teriam sido utilizadas para fabricação de estátuas e monumentos. Mas para as vistas da intelectualidade carioca, os pontos levantados pelo major tiveram uma aceitação reservada. Constituíam sem qualquer margem de dúvida provas concretas de que o sertão possuía um passado desconhecido, mas que a exploração empírica falhava em atingir. O documento enviado também recordou o caráter utilitário para a formação de novas expedições de busca: a descoberta de riquezas para o império28.
Mas com a morte do desafortunado cônego Benigno em 1849, morreram também as expectativas do império brasileiro em encontrar o seu "espelho" civilizacional na pré-história. Esse eclipse da cidade perdida no período se deve também em parte aos protestos de intelectuais baianos. O presidente e a assembléia provincial nunca foram favoráveis aos intentos de Benigno. Seu fracasso apenas reforçou essas convicções. Mesmo o estudo do major Manoel Oliveira foi severamente contestado. Outro militar, o brigadeiro José da Costa Bittencourt Camara, publicou em 1849 na revista Razão (Canavieiras, BA), uma crítica às conclusões de Oliveira. O brigadeiro acreditava que o documento bandeirante era apócrifo. Algum explorador esperto teria descoberto diamantes no Sincorá ficando muito rico, mas por remorsos teria fabricado o dito roteiro, baseado nas formas geológicas do local. Também algumas importantes agremiações de Salvador opunham-se à existência dessas ruínas, como a Sociedade Instructiva e o Instituto Literário. Um sócio do IHGB, Theophilo Benedicto Ottoni, concordava em opinião com o brigadeiro José Camara. Tendo também explorado o Sincorá, acreditava que o roteiro bandeirante era uma alegoria das minas de diamante da região, elaborado para disfarçar a sua exata localização. Estabelecia ainda que alguns detalhes do relato realmente eram verdadeiros, porém obras da natureza.
Ao final da década de 40, temos também como opositor ninguém menos que o bispo metropolitano da Bahia, o marquês de Santa Cruz. Acusou o desiludido cônego de ter-se afastado de suas ocupações eclesiásticas básicas, perseguindo uma quimera e efetuando uma "empresa verdadeiramente cômica." Mas sabemos que o próprio bispo foi um dos grandes instigadores da busca dessa controvertida localidade. Assim, dos pontos de vista político, econômico e mesmo cultural, a existência das ruínas baianas passou para segundo plano, sendo o ano de 1849 um divisor das pesquisas arqueológicas no império. Marcou o fim de um período de muito entusiasmo, em que o mito foi um grande atrativo para os pesquisadores.
CONCLUSÃO: AS METAMORFOSES DO MITO
As ruínas buscadas por décadas no império brasileiro possuem uma especificidade histórica bem definida, constituindo um conjunto de imagens relacionadas com o advento da arqueologia moderna. Imagens estas determinadas por parâmetros mediterrânicos, a exemplo das cidades romanas como Pompéia e Herculano. Sabemos hoje que essas ruínas brasileiras nunca existiram, e o que os estudiosos perseguiram foi uma miragem, um mito arqueológico. A cidade perdida da Bahia, concebida através do manuscrito 512, esteve impregnada de elementos culturais setecentistas, como detalhes arquitetônicos, pórticos, pirâmides, estátuas, praças, e principalmente, vestígios epigráficos. Sua interpretação pelos acadêmicos oitocentistas deve ser entendida por meio de teorias arqueológicas vinculadas com esse momento, a exemplo do difusionismo e das recentes descobertas de ruínas maias na América Central.
Mas este contexto histórico não explica a credibilidade e longevidade do mito, apenas sua especificidade temporal. O manuscrito bandeirante despertou inicialmente o interesse acadêmico (1839), mas a sua legitimação ? o primeiro passo efetuado para diferenciar a Relação de uma simples fábula, oposta à razão, o confronto entre mythos e logos ? ocorreu somente quando houve contato com o folclore baiano a respeito das cidades encantadas. Em 1840, intelectuais enviaram de Salvador para a capital notícias desses relatos, e a partir de 1841, o explorador Benigno de Carvalho, já em campo, recolheu inúmeras outras descrições orais. Desta maneira, a palavra concedeu uma legitimidade ao mito, muito maior que a escrita: "a verdadeira vida do mito tem sua fonte em uma palavra viva"29. A literatura e a escrita formam o grande valor demonstrativo do logos, contraposto à palavra do mythos. Com a afirmação de moradores da Bahia terem visto ou visitado tais ruínas, criaram-se condições muito mais profundas de sedução para a imagem da cidade perdida: "a narração oral desencadeia no público um processo de comunhão afetiva com as ações dramáticas que formam a matéria da narrativa"30. Desta maneira, um manuscrito velho, rasgado, quem sabe apócrifo, sozinho não explica porque houve tanto empenho por parte da academia, esta financiando expedições custosas e perpetuando o mito arqueológico por toda a década. A cultura erudita acabou fundindo estruturas narrativas próprias com as mantidas pela cultura popular ? cuja origem, por sua vez, provém de bases míticas muito mais antigas, herdeiras diretas de imagens coloniais.
Após esse momento inicial de legitimação, o mito passou a ter um valor de paradigma, constituindo um modelo de referência para se pensar no passado brasileiro. A partir de 1840, a aceitação da antiga existência da geração perdida ? uma civilização muito avançada, mas desaparecida sem deixar quase nenhum vestígio ? nos demonstra a inclusão do mito na História. Uma narrativa fabulosa, irreal, foi interpretada dentro de um discurso "verdadeiro", autenticando uma forma ideal de como deveria ter sido o Brasil dos tempos antigos, sem nenhuma evidência concreta para confirmá-la:
Dentro do que o saber histórico chama de 'mitoso', o ilusório se nutre da memória antiga, e o fictício se apropria das narrativas dos logógrafos, das investigações dos arqueólogos e das litanias dos genealogistas.
A partir desse pressuposto, toda uma escala de valores sociais foi reforçada, a exemplo do caldeamento racial proposto por Von Martius em 1845. O sentido de civilização que se pretendia criar nos trópicos durante o império foi baseado em um modelo situado na aurora dos tempos, uma sociedade sofisticada, mas que decaiu e cujos resquícios deveriam ser resgatados a todo custo. Um monumento que refletiria o Brasil para o mundo, para as grandes nações do Ocidente, completando todas as ansiedades e ausências simbólicas que o segundo império enfrentava no seu início: "Em sua forma autêntiva, o mito trazia respostas sem jamais formular explicitamente os problemas."
A partir desse momento paradigmático, em que a cidade perdida serviu de referencial ético, social e civilizatório para o império, o mito assumiu conotações muito semelhantes a estruturas míticas universais. Sua busca, neste contexto, foi similar à de outros mitos, em locais e épocas diferentes:
(...) no seio de uma cultura os mitos, quando nos parecem se contradizer, correspondem-se tão bem uns aos outros que fazem referência, em suas próprias variáveis, a uma linguagem comum, que estão todos inscritos no mesmo horizonte intelectual e que só podem ser decifrados no quadro geral onde cada versão particular assume seu valor e seu relevo em relação a todas as outras.
De uma perspectiva histórica e única, podemos então observar semelhanças atemporais com as cidades imaginárias do período colonial, e mesmo com modelos clássicos. Tanto a Atlântida, o Eldorado, o lago Eupana e Parimé, como a cidade perdida da Bahia, foram buscados por propósitos diferentes, sejam motivos de ordem econômica, colonialista, científica, cada um dentro do contexto social de sua época. À medida que essas narrativas prolongam sua existência, modelos míticos básicos surgem em sua elaboração. Assim, aparecem constantes atemporais, como as motivações paradisíacas e o retorno da Idade do Ouro: imagens de uma antiga ordem, de um tempo idílico situado no início da humanidade, que revela a inocência total e a felicidade social absoluta. Outra constante foi o deslocamento geográfico ? toda cidade imaginária foi buscada em diversos locais, movendo-se conforme o devassamento do ignoto e o processo de colonização. Sempre baseadas no mecanismo do maravilhoso, essas narrativas acabaram encontrando suas limitações justamente na esfera territorial. Quando o espaço desconhecido tornou-se esgotado em todos os seus aspectos, o mito arqueológico foi eliminado de seus símbolos básicos, sendo contestado racionalmente. Aqui ocorreu um retorno ao confronto entre mythos e logos: o que era entendido antes como realidade, agora é transportado novamente ao terreno da fantasia, do quimérico, do irreal. As ruínas da Bahia, ao final do império, foram eliminadas do campo acadêmico, relegadas a uma condição de miragem provocada por antigos pesquisadores. Porém, toda elaboração simbólica nunca morre definitivamente, sendo transformada em uma nova narrativa, ocasionando sua sobrevivência para o novo século: "os mitos se respondem mutuamente e o aparecimento de uma versão ou de um mito novo se faz sempre em função daqueles que já existiam anteriormente". Assim, se para a ciência oficial a cidade perdida tornou-se uma aberração fantástica, por sua vez, estrangeiros e amadores brasileiros promoveram dezenas de expedições em sua busca, no início do século XX até nossos dias.
O historiador pode unicamente entender o lugar do mito na História, e nunca o seu significado mais profundo, pois ao racionalizar formas emotivo/imaginárias, penetra no campo da experiência, na ordem do existencial. Seja na forma de cidades feitas de ouro, ou de magníficos resquícios arquitetônicos, o mito assumiu várias páginas fascinantes da história brasileira, e que não podendo ser compreendido em sua totalidade, ao menos pudemos vislumbrar sua importância para o imaginário dos tempos imperiais.
O Manuscrito 512
O manuscrito 512, ou documento 512, consiste em um dos arquivos manuscritos da época Brasil colonianista que está guardado no acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Tal documento, tem caráter expedicionário, e consiste em um relato de um grupo de bandeirantes, embora o nome de seu autor seja desconhecido.
Este manuscrito é a base da maior fábula arqueológica nacional, e um dos mais famosos documentos da Biblioteca Nacional. O acesso ao relato original é extremamente restrito atualmente, embora uma versão digitalizada dele tenha sido disponibilizada recentemente com a atualização digital da biblioteca nacional.
Descoberta e Valorização
Não obstante a datação do anos de 1753, estima-se que a escritura seja realmente setecentista por determinados aspectos relatados, seu descobrimento e noção de relevância, contudo, ocorreram apenas em 1839. De forma um tanto irônica para com a importância do documento, e ainda de maneira a reforçar todo o mito que envolve o objeto, o documento 512 foi encontrado ao acaso, esquecido no acervo da biblioteca da corte (então a biblioteca nacional).
O manuscrito, muito antigo, e já deteriorado pelo tempo, foi descoberto por Manuel Ferreira Lagos, e posteriormente entregue ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB); foi nas mãos de um dos fundadores do instituto que a escritura teve seu real valor reconhecido e e divulgado: após leitura o cônego Januário da Cunha Barbosa publicou uma cópia integral do manuscrito na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, com a adição de um prefácio no qual esboçava uma teoria de ligação entre o assunto do documento e a saga de Roberto Dias, um homem que fora aprisionado pela coroa portuguesa por se negar a fazer revelações a respeito de minas de metais preciosos na Bahia.
Em um contexto de busca da identidade nacional, e valoração dos atributos brasileiros, o documento ganhou um destaque e um enfoque cada vez maiores ao longo dos anos, tanto por parte de aventureiros, como intelectuais, religiosos, e até do próprio imperador Dom Pedro II. O tão investigado relato que faz o documento, e que foi motivo de sua relevância ao longo da história defendido arduamente por muitos, contestado calorosamente por outros, e obsessivamente buscado por alguns: o documento 512 traz o relato do encontro de alguns bandeirantes com as ruínas de uma cidade perdida, uma civilização arruinada em meio à selva brasileira com indícios de desenvolvimento cognitivo, além de riquezas, e um fim desconhecidos.
O Mito da Cidade Perdida
O documento que hoje traz o subtitulo de Relação histórica de uma occulta e grande povoação antiquissima sem moradores, que se descobriu no anno de 1753, narra o encontro do grupo de bandeirantes com ruínas de uma cidade perdida e desconhecida até então.
O relato da expedição, em sua parte mais conhecida, conta que houve quem avistasse de uma grande montanha brilhante, em consequência da presença de cristais e que atraiu a atenção do grupo, bem como seu pasmo e admiração. Tal montanha frustou o grupo ao tentar escalá-la, e transpô-la foi possível apenas por acaso, pelo fato de um negro que acompanhava a comitiva ter feito caça a um animal e encontrado na perseguição um caminho pavimentado em pedras que passada por dentro da montanha rumo a um destino ignorado.
Após atingir o topo da montanha de cristal os bandeirantes avistaram uma grande cidade, que a princípio confundiram com alguma pole já existente da costa brasileira e devidamente colonizada e civilizada, todavia ao inspecioná-la verificaram uma lista de estranhezas entre ela e o estilo local, além do fato de estar em alguns trechos completamente arruinada, e absoluta e totalmente vazia: seus prédios, muitos deles co mais de um andar jaziam abandonados e sem qualquer vestígio de presença humana, como móveis ou outros artefatos.
A entrada da cidade era possível apenas por meio de somente um caminho, macadamizado, e ornado na entrada com três arcos, o principal e maior ao centro, e dois menores aos lados; o autor do texto expedicionário observa que todos traziam inscrições em uma letra indecifrável no alto, que lhes foi impossível ler dada a altura dos arcos, e menos ainda reconhecer.
O aspecto da cidade narrada no documento 512 mescla caracteres semelhantes aos de civilizações antigas, porém traz ainda outros elementos inidentificados ou sem associação; o cronista observa que todas as casas do local semelhavam à apenas uma, por vezes ligadas entre si em uma construção simétrica e uníssona.
Há descrição de diversos ambientes observados pelos bandeirantes, admirados e confusos com seu achado, todos relatados com associações do narrador, tais como: a praça na qual se erguia uma coluna negra e sobre ela uma estátua que apontava o norte, o pórtico da rua que era encimado por uma figura despida da cintura para cima e trazia na cabeça uma coroa de louros, os edifícios imensos que margeavam a praça e traziam em relevo figuras de alguma espécie de corvos e cruzes.
Segundo a narrativa transcrita no documento, próximo a tal praça haveria ainda um rio que foi seguido pela comitiva e que terminaria em uma cachoeira, que aparentemente teria alguma função semelhante a de um cemitérios, posto que estava rodeada de tumbas com diversas inscrições, foi neste local que os homens encontraram um curioso objeto que segue descrito a seguir.
Entrementes, quando a expedição seguiu adiante e encontrou os rios Paraguaçu e Una, o manuscrito foi confeccionado em forma de carta, com o respectivo relato, e enviado às autoridades no Rio de Janeiro; a identidade dos bandeirantes do grupo aparentemente foi perdida, restando apenas o manuscrito enviado, e a localização da cidade supostamente visitada tornou-se um mistérios que viria atrair atenção de renomadas figuras históricas.
A Moeda de Ouro e O Rapaz Ajoelhado
O único objeto mencionado pela expedição de bandeirantes, que foi encontrado ao acaso, e descrito cuidadosamente na carta consiste em uma grande moeda confeccionada em ouro. Tal objeto, de existência e destino incógnitos, trazia emblemas em sua superfície: cravados na peça havia em uma face o desenho de um rapaz ajoelhado, e no reverso combinados permaneciam as imagens de um arco, uma coroa, e uma flecha.
Trechos Integrais do Manuscrito 512
(...) collumna de pedra preta de grandeza extraordinaria, e sobre ella huma Estatua de homem ordinario, com huma mao na ilharga esquerda, e o braço direito estendido, mostrando com o dedo index ao Polo do Norte; em cada canto da dita Praça está uma Agulha, a imitação das que uzavão os Romanos, mas algumas já maltratados, e partidos como feridas de alguns raios. (...)
Documentos
cperdida1A cidade perdida do sertão baiano passou por uma pesquisa minuciosa entre os anos de 1840 e 1847. Tudo porque, um ano antes, fora encontrado pelo naturalista português Manoel Ferreira Lagos um documento envelhecido, esquecido num canto da Livraria Pública da Corte (Atual Biblioteca Nacional). Era um velho manuscrito carcomido pela passagem do tempo que hoje é catalogado com o número 512, de 10 páginas com o título: “RELAÇÃO HISTÓRICA E OCCULTA, E GRANDE POVOAÇÃO ANTIQUÍSSIMA SEM MORADORES”. A região é inóspita. Os depoimentos nem sempre coincidem mas há vários pontos que confirmam relatos de uns e outros sobre ruínas espantosas. Apesar de não haver comprovação da realidade, os intelectuais e entusiastas acreditam que todos os esforços devem ser dedicados, pois que esses vestígios podem conduzir às grandes descobertas de um passado misterioso, não só do Brasil, mas envolvente para todo o continente sul-americano.
A lenda
Os relatos que falam da “Lenda da Montanha de Cristal” descreve uma montanha muito brilhante. Os bandeirantes não conseguiram escalá-la, mas um negro descobrira o caminho todo calçado de pedras por dentro da montanha. Do alto, dizia o relato, avistava-se uma enorme povoação. O local mostrava-se despovoado, assim, iniciaram sua exploração.
Esse único caminho de pedra levava até a entrada da fantástica cidade (prossegue o relato) até chegar à entrada com um portal que possuía três arcos de grande altura. Havia letras que não poderiam ser copiadas devido à grande altura do portal.
As casas eram construídas de forma simétrica e a cidade parecia uma só propriedade. As coberturas das casas eram, algumas de teto de ladrilho requeimado e outras de laje.
No final da rua, surgia uma praça regular com algo extraordinariamente grande: uma coluna de pedra preta bem ao centro com a estátua de um homem que apontava com o dedo indicador para o Pólo Norte. Em cada canto da praça, ao estilo romano, ficava uma agulha, algumas já destruídas pelo efeito de raios.
O relato continua
Outra grande figura encontrada sobre o pórtico principal da mesma rua, era coroada de louros e despida da cintura para baixo, trazendo estranhas inscrições abaixo do escudo. De ambos os lados da praça, edifícios grandiosos, sendo que o primeiro parecia um templo com figuras em relevo tais como corvos e cruzes. Muitos escombros e ruínas completava o cenário que era encontravado, parecendo que havia acontecido um terremoto.
Um grande rio passava do lado da praça, por onde os bandeirantes navegaram durante três dias até atingirem uma cachoeira. Também foi encontrada uma moeda de ouro desconhecida que trazia a gravura de um homem de joelhos. No verso da moeda, um arco, uma coroa e uma flecha.
A carta fez a lenda
De volta da expedição, os bandeirantes enviaram uma carta ao Rio de Janeiro, o que originou os manuscritos encontrado em 1839.
A autoria do manuscrito, segundo o pesquisador Heman Kruse e o historiador Pedro Calmon, foi conferida ao bandeirante João da Silva Guimarães, que teria percorrido os sertões da Bahia entre 1752 e 1753.
Estranho é que as autoridades brasileiras, depois de todos os esforços dos tempos do império, jamais se pronunciaram sobre essa miragem fantástica que desafia nossa imaginação. Parte dela ainda pode estar lá, envolvida pela vegetação, contando uma história bem diferente do que nos é ensinada nos livros escolares.
Por que seus vestígios teriam desaparecido, ficando apenas o mito?
Mito e Arqueologia no Império
Em um canto esquecido da Livraria Pública da Corte (atual Biblioteca Nacional), um manuscrito muito antigo e carcomido foi descoberto em 1839 pelo naturalista Manuel Ferreira Lagos, e entregue ao IHGB. Tratava-se do documento hoje conhecido como 512, com o título de Relação historica de uma occulta, e grande povoação antiquissima sem moradores. Sem saber, Lagos havia desencadeado o surgimento da mais conhecida fábula arqueológica do Brasil. Uma miragem fantástica, pela qual diversos intelectuais dedicariam todos os esforços para tentar solucioná-la.
Sapiente da enorme importância desse documento, o cônego Januário Barboza logo o publicou integralmente na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Não sem antes realizar um pequeno prefácio, onde apelou para o estudo das antigas tradições, reconstituindo a saga de Robério Dias, o Muribeca ? preso por não revelar ao governo português a localização de ricas minas de prata na Bahia. Mesmo sem nenhuma comprovação da realidade desta cidade, para os entusiasmados intelectuais tal Relação histórica era um vestígio que poderia conduzir a grandes descobertas. É muito importante a análise deste documento na conjuntura de sua época, também para entendermos mais a fundo a receptividade por parte do Instituto no Oitocentos. Inicialmente resumiremos a narrativa, definindo em seguida algumas hipóteses sobre o tema.
A ORIGEM DO MITO
O subtítulo da Relação esclarece o motivo da expedição pelos bandeirantes, a busca das minas de prata de Muribeca, na qual ficaram dez anos vagando nos sertões da Bahia. A estrutura da aventura não possui praticamente nenhum elemento fantástico, típico dos relatos quinhentistas sobre o Eldorado amazônico. Nem seres extraordinários, nem uma geografia pela qual o maravilhoso ditava totalmente as regras.
O início do relato descreve o encontro de uma montanha muito brilhante, devido à existência de cristais. Admirados pelo local, os bandeirantes no entanto não conseguiram escalar a formação rochosa. Um negro da expedição, ao tentar alcançar um veado branco (albino?), encontrou um caminho calçado por dentro da montanha, pelo qual a excursão seguiu adiante. Do alto da montanha, avistaram adiante uma "povoação grande, persuadindo-nos pelo dilatado da figura ser alguma cidade da Costa do Brazil"1. Após certificarem-se de que o local estava despovoado, iniciaram sua exploração.
O acesso para a cidade era feito por um único caminho de pedra. A entrada da urbe era formada por "tres arcos de grande altura, o do meio he maior, e os dous dos lados são mais pequenos: sobre o grande, e principal devizamos Letras que se não poderão copiar pela grande altura". Na cidade, as casas eram feitas com muita regularidade e simetria, parecendo "huma só propriedade de cazas, sendo em realidade muitas, e algumas com seus terrados descubertos, e sem telha, porque os tectos são de ladrilho requeimado huns, e de lages outros". Percorrendo o interior destas habitações, os bandeirantes não encontraram nenhum vestígio de móveis ou qualquer outro objeto. Ao final da rua, depararam com uma praça regular, que possuía em seu interior uma:
(...) collumna de pedra preta de grandeza extraordinaria, e sobre ella huma Estatua de homem ordinario, com huma mao na ilharga esquerda, e o braço direito estendido, mostrando com o dedo index ao Polo do Norte; em cada canto da dita Praça está uma Agulha, a imitação das que uzavão os Romanos, mas algumas já maltratados, e partidos como feridas de alguns raios.
Sobre o pórtico principal da rua, também situava-se uma "figura de meio relevo talhada da mesma pedra, e despida da cintura para cima, coroada de louro" e com inscrições abaixo do escudo. Nos lados esquerdo e direito da praça existiam edifícios imensos. O primeiro parecia, segundo os narradores, um templo com muitas figuras em relevo nas suas laterais, como cruzes e corvos. Outras partes da povoação, jaziam em grande escombro e muita ruína, que teria sido causado por um terremoto. Próximo à praça descrita, também havia um grande rio. Seguindo por ele, os bandeirantes após três dias encontraram uma enorme catadupa (cachoeira). Neste local, ocorriam grandes quantidades de furnas, muitas cobertas com lages e inscrições. Ainda entre as ruínas foi encontrada uma moeda de ouro muito grande, com "a imagem, ou figura de hum moço posto de Joelhos, e da outra parte hum arco, huma coroa, e huma sétta". Após chegarem na região entre os rios Paraguaçu e Una, os expedicionários enviaram uma carta ao Rio de Janeiro, originando o manuscrito original.
Inicialmente, devemos perceber que estas ruínas não pertencem ao modelo urbanístico colonial português ou espanhol. A possibilidade de terem encontrado algum centro de mineração, abandonado após o término da exploração, também é muito remota. Na metade do século XVIII, a maioria dos complexos mineradores ainda estava em atividade na Bahia. Inscrições, templos, pórticos e estátuas nos levam ao encontro de uma origem mediterrânea clássica, portanto, imaginária do relato. O problema principal é determinar como foi o contato com esse modelo europeu. A primeira metade do Setecentos foi marcada por uma grande efervescência clássica na Europa, antecipando uma matriz cultural para a data do manuscrito: a comparação das praças com as construídas pelos romanos; estátuas com coroa de louros; pórticos grandiosos; moedas de ouro e citações de acidentes geográficos ocidentais ("Alpes e Pyrinéos"; "Nillo"). Tudo isso nos leva a crer que o autor do relato estava profundamente inserido no contexto das descobertas arqueológicas e culturais que estavam sendo efetuadas na Europa ao início do séc. XVIII.
Mas existem também dois elementos na narrativa que fazem parte de tradições folclóricas muito mais antigas, advindas do séc. XVI. A primeira é referente aos montes de cristais reluzentes, no início do relato. Aventureiros descreveram pelo interior brasileiro a existência de montanhas e serras resplandescentes, associadas a metais e pedras preciosas. Essa tradição formou, a partir do Setecentos, o fundamento para alguns folclores bandeirantes, como a Lagoa Dourada (Eupana e Sabaroboçu). O historiador Buarque de Hollanda acreditava que essa tradição esteve intimamente relacionada com o mito do Paraíso Perdido, para o qual funcionaria como uma espécie de antecipação do maravilhoso: "da montanha que refulge passa-se muitas vezes sem dificuldade aos castelos, cidades, casas e igrejas de cristal, tão freqüentes nas clássicas visões do paraíso"2. Graças ao avistamento dessa montanha fascinante, os bandeirantes puderam localizar as ruínas baianas. Também muitas narrativas de cidades imaginárias possuíam uma estreita vinculação com montanhas feitas com metal precioso, como por exemplo o Eldorado. Outra tradição de origem colonial diz respeito a certa estátua, encontrada na Ilha dos Corvos (Açores), cujo folclore sobreviveu até o séc. XVIII, em forma literária ou poética. Segundo Damião de Góes, em sua Chronica do Principe D. Joam (1567), durante o reinado de D. Manuel, navegadores em incursão pela mencionada ilha descobriram, no cume de uma serra, uma imensa estátua de um homem vestido de bedém (túnica mourisca), sem barrete, com o braço estendido e a mão apontando para o poente. Abaixo da estátua foram ainda avistadas inscrições misteriosas, sem possibilidades de tradução. Já o poema Caramuru, de José de Santa Rita Durão (1781), também mencionou a célebre estátua: "E na ilha do Corvo, de alto pico (...) Onde acena o país do metal rico (...) Voltado estava ás partes do occidente, d'onde o aureo Brazil mostrava a dedo"3. Na cidade perdida da Bahia também existiria uma estátua central, cujo braço estendido apontava o dedo para o norte, com certas inscrições indecifráveis no mesmo local. Percebemos com essas duas tradições que o autor do manuscrito estava perpetuando um folclore mais antigo, incorporado ao universo dos bandeirantes e exploradores. Mas os elementos da arqueologia setecentista foram muito mais determinantes na estrutura do texto, como já mencionamos.
A descoberta e escavação de Herculanum iniciou-se em 1710, mas foi com a confirmação de seu nome e origem (1738) que estas ruínas romanas tornaram-se muito famosas. Pompéia foi escavada, por sua vez, a partir de 1748, e sua identificação ocorreu apenas em 1768. Podemos também estabelecer uma relação destas ruínas romanas, principalmente Herculanum, com a cidade do manuscrito, ao perceber que o terremoto citado pelo bandeirante é uma catástrofe natural semelhante ao vulcão (no caso, o Vesúvio). A natureza interferindo na obra humana. Outra questão é identificar como essas matrizes foram conhecidas no Brasil. A primeira publicação em larga escala dos vestígios romanos apareceu somente em 1756, com o livro L'antichità romana de Piranese, três anos após a descoberta da cidade baiana. É possível, deste modo, que o autor da imaginária cidade tenha estado anteriormente na própria Europa em contato com esse panorama cultural.
O pesquisador Hermann Kruse e o historiador Pedro Calmon estabeleceram como autor do manuscrito em questão, o bandeirante João da Silva Guimarães. Percorrendo os desconhecidos sertões da Bahia entre 1752-53, ele teria noticiado a descoberta das muito procuradas minas de prata de Robério Dias, justamente na região dos rios Paraguaçu e Una4. Uma similaridade de data e localização com a prescrita na Relação da cidade abandonada. Exames efetuados pela Casa da Moeda dois anos depois, porém, declararam que as minas não passavam de minérios sem nenhum valor. Aturdido, Guimarães foi conviver com os índios, desaparecendo após 1764. A obra de Pedro Calmon nos forneceu outra pista valiosa para a elucidação da origem histórica deste mito. Um dos auxiliadores das buscas de Guimarães foi o governador da província mineira, Martinho de Mendonça de Pena e de Proença. Examinando sua biografia, descobrimos que ele tinha sido bibliotecário, poliglota e filólogo, membro da Real Academia de Lisboa.
Além de ter proferido uma palestra sobre megalitismo português (Discurso sobre a significação dos altares rudes e antiquissimos, 1733), Proença também realizou, em 1730, uma investigação sobre as misteriosas inscrições de São Tomé das Letras, em Minas Gerais. A partir de 1738, estes caracteres se tornaram muito famosos, circulando cópias por toda a província. Ao analisarmos uma dessas reproduções, percebemos grande semelhança de alguns glifos com os da cidade perdida, principalmente cruzes e letras latinas. Além disso, foram interpretados por um dos autores da reprodução, Mateus Saraiva, como sendo caracteres romanos. No período em que circulavam as cópias, o bandeirante João Guimarães abandonara Vila Rica e partira em missão exploratória para as regiões dos rios São Mateus, Doce e Pardo, todos na província mineira. Atacado por índios, foi então auxiliado pelo governador Martinho Proença. Talvez a origem do mito esteja nesse antigo contato, entre um bandeirante ávido por ouro e um acadêmico interessado em arqueologia. Proença tinha todas as condições para criar a imagem de uma cidade em ruínas semelhante às romanas, repleta de inscrições, enquanto Guimarães desejava a todo custo encontrar riquezas sem fim. O acadêmico morreu em Lisboa (1743), e João Guimarães anunciou oficialmente, em 1752, a descoberta de minas de prata pelo interior baiano, escrevendo em seguida o manuscrito da cidade perdida.
O INÍCIO DAS BUSCAS
Os investigadores do Instituto Histórico não conheciam os autores do manuscrito, mas mesmo assim a narrativa foi encarada como um fato totalmente verdadeiro. Ao contrário das tribos indígenas, habitantes de rudimentares choupanas, essas ruínas aventavam a possibilidade de uma antiga civilização muito adiantada ter ocupado a jovem nação. Imediatamente, todos os esforços em encontrar esses maravilhosos vestígios foram efetuados. Em uma reunião do IHGB, o autor da descoberta do manuscrito, Manuel Lagos, oferecera-se para litografar e doar 500 exemplares das inscrições da cidade perdida.
Ao completar uma ano de fundação em 1839, o Instituto Histórico apresentava sob a forma do relatório de seu secretário os resultados obtidos durante esse percurso. Se não eram completos, ao menos revelavam uma franca esperança no cumprimento das suas metas básicas de recuperar as origens da nação. Ao citar estupendas descobertas arqueológicas em países muito próximos do Brasil, como Palenque no México e fortificações no Peru, Januário Barboza deixou claro que tais vestígios também podiam ser encontrados no império. A Europa recentemente maravilhara-se com publicações sobre ruínas maias, como Vues des Cordillères et Monuments deus Peuples Indigènes de l'Amérique (1810, de Humboldt), Antiquites of México (1831, de Lord Kingsborough), e Voyage pittoresque et archéologique dans la province d'Yucatan et aux ruines d'Itzalane (1838, de Jean Waldeck). É claro que os intelectuais brasileiros também esperavam encontrar indícios tão promissores nas desconhecidas florestas do Brasil5.
Advindo o novo ano de 1840, surgiram novas referências sobre o intrigante tema. Dois eruditos, o cel. Ignacio Accioli Silva e A. Moncorvo, residentes na Bahia, enviaram dados baseados em descrições regionais:
(...) sobre a cidade abandonada nos sertões desta província (...) que não parece ser fabuloso, pelas coincidentes noticias de varios antigos moradores, e exploradores dos sertões, pois por tradição se falla em uma grande Povoação, ou Cidade desprezada e que dizem a habitáram Indios e negros fugidos6.
Na tentativa de conseguir informações sobre a antiga cidade, os investigadores acabaram por contatar manifestações do folclore de muitos séculos. Conhecidas pela denominação de cidades encantadas por toda a América Latina, foram metamorfoses de antigos mitos coloniais, como o Eldorado e tradições bandeirantes, formando um rico e elaborado imaginário popular. Muitas destas tradições de cidades encantadas sobrevivem até os dias de hoje por meio da transmissão oral, mas algumas também foram incorporadas à literatura e à poesia, como Maiundeua e Axuí (Pará e Maranhão). Sendo um campo praticamente inexplorado pelos historiadores, é muito difícil elaborar análises sem maiores conhecimentos de fontes. Resta apenas tentar criar hipóteses entre essa aludida entrevista dos eruditos com os populares, ou seja, como as tradições coloniais sobreviveram na forma folclórica do século XIX. Essas cidades encantadas teriam sofrido influências do relato de Guimarães?
Voltamos novamente ao livro de Pedro Calmon.
Nele, o historiador afirmou que após a morte do bandeirante João Guimarães em 1766, rumores sobre ruínas já tinham sido criados por populares. Quando se iniciou a grande extração de diamantes na Bahia, a partir de 1844 na região da Chapada Diamantina, o folclore estava bem consolidado. Mas também não podemos descartar a interferências de outras tradições antigas, como as de redutos indígenas e quilombos pela província, como a própria entrevista dos membros do IHGB deixou claro.
Na Bahia ocorrem diversos vestígios de antigos quilombos, como nas regiões de Bom Jesus da Lapa e Rio das Rãs. Relatos imaginários também são muito freqüentes por toda a região. Em Lagoa Santa (MG), existe a fábula de uma cidade submersa através de uma catástrofe, muito similar ao mito de uma cidade submarina de esmeraldas que ocorre na área do médio rio São Francisco, na Bahia. Percebemos, desta maneira, que o mito popular foi reinterpretado pelo imaginário erudito, reforçando as convicções vigentes sobre um passado grandioso prestes a ser revelado.
cperdida2Nesse início de 1840, para além do entusiasmo dos eruditos filiados ao Instituto, também os estrangeiros estavam profundamente interessados na confirmação das enigmáticas ruínas. Uma expedição naturalista provinda de Copenhague, a bordo da fragata Bellone, teve como passagem o porto de Salvador. Composta pelos militares Suenson e Schultz, além do botânico Kruger, encarregados de examinar a misteriosa localidade. Não chegaram nem a concretizar a expedição ao local, por falta de maiores informações geográficas: "Mais rien ne fut exécuté, et nous en sommes encore réduits aux conjectures sur cette antique cité"7. O grupo também obteria informações do arcebispo da Bahia, Romualdo Seixas, que no ano anterior fora citado como membro do IHGB na categoria de sócio correspondente. Mais tarde viria a ser conhecido como marquês de Santa Cruz. Importante personagem no cenário político daquele momento, como primaz do Brasil, foi quem presidiu em 1841 a solenidade de sagração de D. Pedro II. Ainda durante os anos 40, Seixas seria admitido como sócio na Sociedade Real dos Antiquários do Norte, demonstrando seu grande interesse por assuntos arqueológicos.
Os dados trazidos do interior da Bahia por Moncorvo e Accioli, além do interesse do arcebispo Romualdo, seriam reforçados por uma inesperada carta de Munique, assinada por Carl Von Martius. Constituindo-se na gênese da futura dissertação Como se deve escrever a História do Brasil, o documento foi lido com muito interesse na sessão realizada em agosto de 1840. No periódico da agremiação, publicaram-se determinados trechos do manuscrito, procedimento que segundo nossa interpretação, procurava demonstrar somente as idéias mais importantes para as metas projetadas nesta época.
A primeira imagem esboçada por Von Martius foi a respeito de um passado muito remoto para os primeiros brasileiros. A confirmação das diferenças civilizacionais entre essa povoação e os indígenas contemporâneos se fez através da idéia de contingente populacional e padrões de nobreza. Essa primeira idéia já havia sido levantada, de maneira oposta, pelos deflagadores da inferioridade americana durante o Setecentos. Para Buffon, Raynal e De Pauw, as informações dos cronistas e viajantes sobre as sociedades ameríndias eram falsas, pois a população das cidades pré-colombianas seria muito pequena, com os índios espalhados pelo campo. A concepção geológica de um continente novo contrariava a idéia de uma grande população urbana na América. Com isso, uma remota ancestralidade e uma grande população seriam fundamentais para definir a outrora sociedade que existiu no Brasil.
As provas desse suposto tempo antigo, segundo Von Martius, seriam encontradas na mitologia indígena e em vestígios arqueológicos nesta região central do nosso País. Nada mais conveniente para as metas do Instituto do que essas hipóteses que encaminhavam para uma formidável descoberta em solo brasileiro. Na mesma sessão, o historiador Varnhagen declarou: "uma proposta para methodicamente serem recolhidas pelo Instituto as possiveis noticias sobre essa grande geração decadente"8. Conciliando dessa maneira as pesquisas sobre as inscrições fenícias da pedra da Gávea (dessa mesma época), a cidade da Bahia e as observações do sábio alemão, o Instituto sentia-se seguro para estabelecer um panorama otimista de nossos vestígios, determinando para todos os agremiados a busca dessa geração perdida.
UM VIAJANTE DO MARAVILHOSO
Conscientes de que a glorificação monumental só poderia ocorrer através de explorações, os membros do Instituto nomearam em 1840 o cônego Benigno José de Carvalho e Cunha para encontrar a cidade perdida da Bahia. Quais foram os motivos da escolha deste religioso? As pistas nos levam a um contexto externo ao IHGB. Benigno era professor, poliglota, especialista em línguas orientais e padre subordinado ao arcebispo Romualdo Seixas na Bahia. Suas ligações eram muito profundas, tanto que em 1840 dedicou um de seus livros (A religião da razão) a este arcebispo. As razões para o interesse de Seixas para com a cidade perdida são obscuras. O mais provável é que mantivesse um controle sobre todos os fatos científicos e culturais reinantes em sua província, indicando desta maneira o cônego Benigno para encontrar as tão almejadas ruínas.
Ainda no ano de 1840, em princípios de novembro, Benigno de Carvalho chegou a Salvador em seu período de férias. Neste local, recolheu informações de viajantes que estiveram no interior da Bahia, como o desembargador Mascarenhas de Assis e o dr. Remigio Andrade. O cônego encontrou algumas contestações da legitimidade de sua expedição. A credibilidade da cidade perdida, apesar de sua grande aceitação acadêmica, não era um fato absolutamente genérico. Sem desanimar, negou o caráter fabuloso das ruínas baseado principalmente na estrutura narrativa do documento bandeirante. Percebe-se que Benigno concebia o manuscrito como um autêntico diário de campo, onde os fatos descobertos foram sendo narrados fielmente. Ao mesmo tempo uma história muito simples e ingênua, o documento incluiria detalhes estranhos ao universo bandeirante, como as supostas inscrições avistadas: "como lembrariam a mineiros os caracteres gregos, ou runnos" 9? Essa lógica interna, também percebida pelos outros membros do Instituto e até alguns estrangeiros, constituiu a prova mais tangível da existência do fascinante local.
A primeira problemática colocada em campo por Benigno foi a localização exata do sítio. Concentrando-se no único detalhe geográfico mencionado no documento, que relata a existência de um riacho de frente à cidade, pelo qual os aventureiros desceram e após três dias chegaram aos rios Paraguassu e Una, firmou sua hipótese, na qual o lugar indicado pelo documento seria a serra do Sincorá. Em seguida passou a obter maiores referências sobre essa serra com os moradores das regiões litorâneas. Ainda na cidade de Salvador, o cônego realizou diversos estudos hidrográficos, todos baseados apenas nos mapas do período. Acreditava o cônego que gastaria 14 dias seguindo o mesmo trajeto dos bandeirantes até a cidade, mas como estava no final das férias, começou a abandonar a idéia de concretizar efetivamente a busca no distante recanto. Planejava ir somente até a cidade de Valença, a maior vila da região, onde obteria maiores informações sobre o rio Braço do Sincorá, se possuía cachoeiras e minas ao seu redor, confirmando o relato dos bandeirantes.
Chegando na cidade de Valença em 5 de fevereiro de 1841, o padre foi acompanhado de um rapaz chamado Ordinando, recebendo um salvo conduto do presidente da província. Que não chegou a ser utilizado, pois devido à grande quantidade de chuvas na região, a expedição foi cancelada. O resto de sua estada na cidade histórica de Valença foi ocupado recolhendo tradições orais dos antigos moradores. O primeiro entrevistado foi Antonio Joaquim da Cruz, que tinha viajado pelas regiões interioranas da Bahia. Afirmava que teria subido o Sincorá e que a cidade perdida ficaria localizada em uma mata na direção leste, mas não teve coragem para adentrá-la. Confirmou ainda a existência de uma grande cachoeira e de profundas minas que emitiriam um estranho estampido. De outros moradores de avançada idade recolheu informações sobre uma cidade muito antiga destruída por um
(...) terremoto, outros que por alluvião (inundação): alguns affirmam que ella existe, mas que nella está um dragão que traga quem lá se approxima; outros dizem que quem lá vai não volta; e a este respeito me contaram uma anedocta de certo coadjutor (sacerdote) que foi a desobriga (visita clerical) para aquelles sitios, e nunca mais appareceu, etc. etc.10.
Observamos aqui alguns exemplos de cidades encantadas presentes no folclore baiano. Todos estes aspectos sugerem uma origem muito mais antiga, anterior à bandeira de João Guimarães no séc. XVIII. Isso pode ser conferido, por exemplo, com o desfecho catastrófico sugerido para a cidade. Terremotos e inundações foram muito comuns em outras cidades imaginárias, como a Atlântida grega. Também tiveram grande influência simbolismos bíblicos, a exemplo do dilúvio universal, por sua vez muito populares nas teorias eruditas a partir do Setecentos, explicando a origem da humanidade. O aspecto do desaparecimento de pessoas que visitaram a cidade também é percebido em outras localidades imaginárias sul-americanas, como a Ciudad de los Césares. No Brasil, temos os casos de Maiandeua (Maranhão) e Grozongo (Pernambuco), cidades fabulosas que desaparecem sem deixar vestígios. No Estado da Bahia, o folclore de taperas abandonadas que se afundam no chão ainda é muito comum11.
Todos estes testemunhos colhidos por Benigno reforçaram suas convicções e hipóteses, confirmando a situação da cidade perdida na região do Sincorá. Planejando a futura expedição para o final de 1841, esclareceu em uma carta enviada em fevereiro ao Instituto, que essa jornada seria muito "longa e perigosa por causa das serpentes e onças, em que abundam aqueles sitios; há selvagens, porêm mansos". Apesar destas aparentes dificuldades, solicitou à agremiação carioca subsídios financeiros para a execução da viagem em pelo menos dois contos de réis.
Entraram em cena mais uma vez os poderosos aliados de Benigno. Um parecer realizado pela comissão de história do Instituto estipulou a publicação dos documentos enviados pelo padre, além do pedido imediato de verbas ao governo, para o êxito da expedição12. E caso não fosse possível a realização de um mapa da viagem, que ao menos os responsáveis publicassem um relatório detalhado da mesma. Em julho foi impressa a memória de Benigno na Revista do IHGB, no mesmo mês da coroação do imperador D. Pedro II.
Após este agitado período político, o arcebispo Romualdo Seixas foi efetivado como membro honorário do Instituto, sendo motivado a auxiliar o bom êxito da busca ao interior da Bahia. Com a influência de importantes personalidades, certamente a empresa não demoraria a colocar-se em campo. No mês de outubro Benigno enviou outra carta para a capital, desta vez tratando de minas descobertas recentemente na região da serra da Mangabeira (BA), acreditando que seriam as minas de Muribeca, muito perseguidas pelos bandeirantes. Além de interesses políticos, cada vez mais a planejada viagem a campo do cônego cercava-se de intenções econômicas.
No início de novembro, o presidente do IHGB (visconde de São Leopoldo), realizou uma petição ao imperador, solicitando financiamento para a expedição. A importância desse empreendimento foi ressaltada pelo documento principalmente pelo seu caráter utilitário. Caso falhasse em seu objetivo maior, ao menos a exploração poderia encontrar "terrenos incultos, e ainda não desafiados no interior do Brasil"13. Situando-se em uma região pouco conhecida, a cidade perdida poderia fornecer elementos de ordem mineralógica, como também terrenos para a agricultura. Competindo com o grande tema da Revista do IHGB ? a etnografia indígena ? as pesquisas do espaço geográfico nacional sempre foram muito destacadas. A publicação de narrativas de viagens, explorações, novas delimitações cartográficas e territoriais, contribuiriam para a construção do império tropical. Todo estudo para desmantelar o incógnito e o vazio de conhecimento era sempre muito incentivado pela elite.
É evidente que as regiões próximas à capital tiveram um interesse imediato por suas importâncias econômicas ou políticas. Em uma carta remetida ao secretário perpétuo, um viajante mineiro enviou dados do
(...) deserto que separa as povoações da provincia de Minas Geraes, e às povoações do littoral nas Provincias do Rio de Janeiro, Espirito Sancto, e Bahia (...) derramando algumas luzes sobre os pontos pouco conhecidos dessa interessante porção de territorio ainda oculto14.
A província da Bahia, nesse contexto, tinha uma situação estratégica. Somente o seu litoral era bem conhecido nesse período, e a expedição de Benigno coincidia com essa necessidade de desvendar o que se denominou de deserto: tudo aquilo que não foi ainda explorado, abrangendo florestas, matas, rios e montanhas. Na realidade, estamos tratando aqui de uma categoria cultural muito mais ampla, a imagem do sertão. Mais do que simples locais interiores do império, são "espaços desconhecidos, inacessíveis, isolados, perigosos, dominados pela natureza bruta e habitados por bárbaros, hereges, infiéis, onde não haviam chegado as benesses da religião, da civilização e da cultura"15. Extraviada no incógnito, a cidade perdida da Bahia esteve associada com a imagem do sertão. Um exemplo pode ser percebido com o coronel Ignácio Aciolli Silva. Especialista nos temas da província baiana, estava inserido nesse contexto de elucidação do espaço geográfico e, ao mesmo tempo, no estudo da cidade perdida. Em 1840 recolheu informações populares sobre esse tema, e tencionava descobrir outros dados sobre os vestígios de antigas habitações, que teriam sido ultimamente encontrados nas escavações de diamantes da serra do Assuruá. O sertão torna-se, ao mesmo tempo, um empecilho para a civilização ? por seu caráter de nulidade territorial, e um potencial econômico ? pode revelar imensas riquezas. A busca de ruínas implicava solucionar essas duas problemáticas, completando a proposta da unidade territorial: "A motivação para pensar o Brasil é a convicção de uma nação incompleta, por isso o dito sobre o sertão se faz com ares de diagnose e, mais, reveste-se de acusações à sua permanência enquanto fardo para o país"16.
Outro aspecto ressaltado na petição ao imperador foi a respeito da expedição de Benigno como interiorização da civilização. Buscou-se através do avanço científico a dominação do espaço selvagem, mas também a propagação dos ideais de civilidade, moral e religião. Afinal o buscador da cidade esquecida não foi um padre? O mesmo princípio de algumas expedições naturalistas e de pacificação indígena, que além do explorador/cientista sempre participava um religioso. Em Benigno essa função foi unificada dentro do contexto de uma missão heróica semelhante à dos jesuítas, ao interferirem na realidade americana durante o período colonial. Mesmo o documento dirigido ao imperador parece apontar nas entrelinhas esse fato. Para o visconde de São Leopoldo, a civilização estacionou nos locais onde justamente existiram as missões jesuíticas "e que não são de certo as que devem constituir os limites occidentais de nosso império"17.
Quatro dias depois da solicitação, prontamente houve uma resposta positiva por parte do imperador. Novamente se manifestou o presidente do Instituto, muito otimista por certo ao verificar que sua petição fora aceita. Recentemente coroado, D. Pedro II iniciou seu relacionamento com a construção de uma identidade nacional, mas também com a política cultural que se praticava nesse período. Com isso, ao mesmo tempo em que o imperador participava do mais entusiasmado e pretensioso projeto do Instituto na sua primeira década de existência, também refletia sua credibilidade na existência de uma remota civilização esquecida em nosso País. E também, nada mais conveniente ao seu recente governo do que a descoberta de imponentes ruínas no remoto brasílico.
No início de dezembro, finalmente o obstinado padre Benigno colocou-se em campo. Desta vez conseguiu chegar à região pretendida, onde permaneceu por muito tempo. Enquanto a capital aguardava com ansiedade qualquer notícia de seus resultados, a expectativa criava muitas hipóteses favoráveis aos propósitos da agremiação. Na terceira sessão pública de fundação do IHGB, em dezembro de 1841, o imperador novamente compareceu, revelando o prestígio dessa solenidade. Comparados com os anos anteriores, os discursos e conferências foram muito mais exaltados. Depois de três anos de atividades, as pesquisas começavam a formar uma sólida crença em um passado capaz de rivalizar-se com o das grandes nações, inspirando também a formação de novos rumos para o futuro. Totalmente convicto disso, o presidente do Instituto, visconde de São Leopoldo, realizou um discurso incitando a procura de novas fronteiras do conhecimento, pela qual a conquista de descobertas inusitadas inflamariam o espírito humano. O desfecho da palestra glorificou o mecenato imperial18.
Influenciada pelo conceito francês de civilização, a elite imperial procurava demonstrar constantemente a ligação do Brasil com o Velho Mundo e sua cultura. Desta maneira, utilizava um parâmetro de comparação com outras formas de sociedade, como a dos ameríndios, para poder expressar seus próprios valores e se auto-afirmar. Como o próprio visconde afirmou, o imperador conclamou os resultados do Instituto, na expectativa futura da nação alcançar os patamares superiores do mundo contemporâneo. A descoberta da cidade perdida refletiria diretamente nesta imagem do Brasil: uma nação em progresso, portadora de vestígios arqueológicos, conhecimentos científicos, ideais e costumes elevados. A própria imagem de D. Pedro II foi relacionada, mecenas culto que patrocinou o possível desvendar da maior glória pretendida nesse período.
O próximo intelectual a pronunciar-se, o cônego Januário Barbosa, manteve os mesmos ideais. Relatando as principais atividades, projetos e descobertas nos últimos três anos, o secretário perpétuo não omitiu o fato dos temas indígenas terem ocupado a maior parte das preocupações da instituição. Mas qual o motivo desse grande interesse? O próprio Barbosa esclareceu:
(...) investigar o gráo de civilisação a que haviam chegado os povos do novo Mundo antes de apparecerem ás vistas de seus descobridores, força era que nos costumes dos Indios procurassemos o fio, que nos deve conduzir a tempos muitos mais anteriores19.
Se as pesquisas etnográficas e a literatura conduziam a um interesse objetivo pela imagem do indígena heróico, puro e honroso, os estudos arqueológicos tentavam encontrar indícios muito mais promissores. A grande antiguidade desses possíveis vestígios foi sempre mencionada como um indicativo de sua sofisticada civilização. Pois as sociedades pré-cabralinas ? encontradas pelos europeus no período de descobrimento ? eram muito primitivas (aos olhos dos nossos nacionalistas), com os grandes acontecimentos do passado esquecidos pelos seus habitantes, confiantes apenas na tradição oral. Nesta situação, as investigações etnográficas pouco poderiam contribuir para elucidar a questão do fio condutor para a geração dos tempos antigos. Para reforçar suas hipóteses, Januário Barbosa citou Von Martius, repetindo toda a sua longa carta publicada um ano antes no mesmo periódico.
Devemos perceber que esses argumentos procuravam legitimar politicamente a expedição do cônego Benigno, recentemente enviada pelo interior baiano com os custos imperiais. Louvado por Barbosa como gênio da arqueologia, o religioso foi caracterizado como uma espécie de herói por ter-se embrenhado em tão cerradas florestas e ter de atingir serras ainda não devassadas. Ao enaltecer o custeamento por parte de D. Pedro II, Januário Barbosa ainda insistiu nos perigos da empresa ao caracterizá-la como muito arriscada. Ao final, porém, a justificativa foi feita por outros meios, repetindo os argumentos anteriores da petição do IHGB.
Ao mesmo tempo procurando calar as vozes opositoras, que negavam a existência destas civilizações perdidas, essa justificativa atendia ao alargamento das fronteiras econômicas da nação. O conhecimento geográfico propiciava interessantes retornos financeiros sob a forma de minérios valiosos, terras para a agricultura, habitação e a exploração de recursos naturais. E também o melhor controle político das fronteiras entre as províncias, estas com enormes extensões desconhecidas entre as capitais e o interior. As fantásticas ruínas da Bahia ainda foram apontadas como um
(...) perduravel monumento, que marque nas gerações futuras o feliz reinado de nosso Augusto Protector o Senhor D. Pedro II, e que chame as vistas das Academias e dos sabios do mundo a este grande territorio, cuja geographia, ainda mais que sua historia, se acha desgraçadamente confusa, por não dizer ignorada.
Anteriormente, na comentada petição, o visconde de São Leopoldo também havia caracterizado a cidade baiana como um possível monumento histórico desconhecido.
Ao início da formação do novo império, a elite intelectual já demonstrava um interesse objetivo em vincular vestígios monumentais com o reinado de D. Pedro II. E essas tão almejadas ruínas poderiam simbolizar a perenidade da nação brasileira. Ao mesmo tempo, rompendo a nossa vinculação histórica com Portugal, ao demonstrar que outras civilizações européias estiveram em nosso solo muito tempo antes. Mas não podemos limitar o uso simbólico do passado apenas a vestígios arqueológicos e históricos. O próprio espaço físico foi utilizado pela elite imperial para dar credibilidade a uma idéia de nação.
Seguindo seus pensamentos, Barbosa relatou a aprovação de uma comissão que deveria reunir em um único volume todas as informações geográficas disponíveis, formando um grande atlas brasileiro, eternizando a gloria dos trabalhos do império. As características do espaço físico deveriam formar também uma memória, que o historiador José Bittencourt denominou de território largo e profundo, isto é, as simbolizações de espaço e tempo efetuadas pela elite intelectual que, somadas com representações históricas, foram importantes elementos na formação do Estado Imperial20. Com isso, o secretário ao relacionar os objetivos da comissão do atlas como sendo a busca de monumentos, estava mencionando acidentes físicos que poderiam caracterizar a grandeza do império, e assim como as ruínas humanas, poderiam ser transformados em ícones simbólicos da nação. Percebemos que:
(...) todo imaginário social, da mesma forma que possui um forte componente político, possui também um forte componente espacial pelo poder simbólico atribuído aos objetos geográficos, naturais ou construídos, que estão em relação direta com a existência humana. Em outras palavras, todo imaginário social pode revelar-se imaginário geográfico21.
Aqui também verificamos outro conceito, de que a paisagem geográfica é uma construção imaginária, enfim, uma representação cultural de determinada sociedade ou indivíduo. Os planos da elite imperial para a construção de uma nação tropical, necessariamente estavam assentados em determinados símbolos geográficos, sem o qual este imaginário político não teria legitimidade.
Não esgotando estes recursos simbólicos visando à estruturação do poder imperial, a Revista do IHGB mantinha-se aguardando as notícias de seus associados. E a aventura de Benigno de Carvalho estava distante de um fim. Em duas cartas recebidas já no início de 1842, percebemos as dificuldades da expedição. O cônego afirmou que a quantia de 600 réis recebida para os custeios eram insuficientes para realizar o trajeto almejado, obrigando-o a tomar um caminho mais curto. Logo em seguida, em outra carta enviada da mesma província, o nosso conhecido coronel Ignacio Accioli Silva preocupou-se com o sucesso da referida expedição, por acreditar que os recursos eram muito escassos. Quatro meses depois o mesmo coronel enviou outra correspondência noticiando que a expedição ainda não tinha retornado22. Somente em agosto a ansiedade geral seria em parte desfeita, após o recebimento de um novo e detalhado relatório.
Ao contrário do anterior, esse prospecto não era nada animador. O obstinado padre lamentou em todo o documento as privações e dificuldades de concluir a sua missão, além da falta absoluta de recursos financeiros. Aguardando uma possível quantia a ser enviada pelo governador da província, o expedicionário efetuou diversas obras de desmatamento, abertura de estradas e queimadas. Diante de tantas intempéries, o padre adoeceu por diversas vezes de febre e malária, ficando com grande debilidade física. Recebendo uma resposta negativa do governador, o general Andréa, Benigno encontrava-se numa difícil situação. Sem dinheiro e saúde para chegar ao local pretendido, só lhe restava especular ainda mais sobre o instigante assunto antes de retornar para Salvador. Enviou o ordenança do grupo e um negro das redondezas para investigar a região do rio Parassusinho, os quais após 15 dias retornaram sem sucesso23. Não sem antes contatar pessoas no rio Grande, que teriam descoberto um quilombo perdido no Sincorá. Benigno terminou o relatório acreditando que escravos fugidos teriam dominado as antigas ruínas, esperando retornar para verificar a exatidão dessas informações. Para isso necessitava novamente de subsídios do Instituto, que estipulou em 350.000 réis.
Depois de dois anos de buscas infrutíferas, os acadêmicos imperiais começaram a tornar-se mais críticos com relação ao sucesso desse empreendimento. O coronel Ignacio Accioli Silva, ele mesmo anteriormente um caçador de cidades perdidas, enviou uma carta em 1843 com certa ironia. De um início totalmente entusiástico, a descoberta dos gloriosos monumentos baianos começou a revelar-se frustrada. A realidade de nosso panorama pré-histórico e etnográfico parecia querer suprimir todas as fantasias construídas na década anterior. Mas o mito ainda conseguiu sobreviver por algum tempo.
A MIRAGEM CUSTA A DESAPARECER
cperdida3Um ano depois, a persistência do incansável Benigno de Carvalho mais uma vez iria prosseguir na academia. Uma nova correspondência (1844) atualizou suas pesquisas no desconhecido interior baiano. Desistindo da procura pela margem direita do Paraguaçu, agora concentrou seus esforços na região do rio Orobó. Acreditava que a cidade estaria a poucos dias de jornada. Organizando nova expedição com um número maior de pessoas e equipamentos, partiu em direção do local mencionado. Mas em vez de efetuar somente explorações, iniciou a construção de uma ponte e de uma estrada, ligando as margens do rio Tingá com a vila de Santo Amaro24. Qual foi a motivação real desses gastos com tempo e dinheiro, atrasando o objetivo principal do empreendimento? Benigno devia querer aproveitar todo o investimento em soluções concretas para o desenvolvimento da região. Lembremos da anterior petição realizada pelo IHGB ao imperador e dos relatórios do secretário perpétuo, todos aludindo aos interesses econômicos da expedição. Sendo criticado nessa altura dos acontecimentos por alguns opositores, a utilização empírica do dinheiro contribuiria para os objetivos desejados. Outra possibilidade, pequena mas não improvável, é que o padre sofria de diversas doenças na ocasião (reumatismo no braço, malária, inflamação do fígado), que o impossibilitaram de maiores aventuras por regiões selvagens.
No desfecho de sua correspondência, Benigno apresentou provas para a existência da famigerada cidade, entre as quais um testemunho pessoal provindo de um escravo chamado Francisco, que afirmou ter estado nas ditas ruínas! Não descartamos a antiga existência do folclore popular a respeito de cidades encantadas, nem a tradição de quilombos desconhecidos aos quais aludimos anteriormente. Porém, deve-se também ressaltar que os objetivos da missão de Benigno, já há alguns anos internado pelo sertão, deviam ser conhecidos pela maioria dos habitantes dessas regiões. O contato do explorador erudito com as comunidades, nesse caso, deve ter sofrido intenções veladas. O escravo Francisco afirmou que esteve no quilombo quando jovem, vindo a ser cativo na idade adulta. Mas desejoso da alforria, Francisco reforçou o relato com vistas a agradar o entusiasmado pesquisador do Instituto. Se é certo que esses quilombos existiam ainda no período que o padre explorou a região, seus vínculos com a cidade perdida foram puramente imaginários.
O instigante tema da cidade perdida voltou à ordem do dia no IHGB, com a publicação de outra carta de Benigno Cunha, em abril de 1845. Escrita quatro meses antes para o presidente da Bahia, o tenente Andréa, ao mesmo tempo foi um relatório geral de todas as suas expedições, assim como uma espécie de última e desesperada tentativa de credibilidade para o assunto. Afinal, já haviam se passado três anos de explorações sem nenhum resultado concreto. O próprio padre, pela primeira vez apresentou alguns sinais de descrença, porém um novo contato com narrativas de idosos das localidades próximas reanimou suas posteriores convicções ? como a existência de veados brancos (que foram citados no documento bandeirante). Ainda baseado nas descrições do negro Francisco de Orobós (aquele que pedia a alforria), aumentou para três o número de quilombos existentes ao redor da cidade perdida. Já sabemos que o presidente Andréa não partilhava de grandes otimismos quanto a essa expedição. E o pedido de mais soldados, cavalos e dinheiro para Benigno, nunca foi atendido. Nem mesmo sua estupenda afirmação final surtiu efeito: "Eu me animo a affirmar a V.Ex., que a cidade está descoberta"25. É evidente que essa declaração tinha propósitos imediatos para conseguir maiores recursos, mas para o contexto posterior do Instituto, surtiu efeitos avassaladores. Um deles, foi iniciar as contestações acerca da veracidade desse local. O fim da miragem estava próximo.
Benigno Cunha não se comunicou mais com a capital a partir de 1845. Somente no ano seguinte enviou outra carta para o general Andréa, em Salvador, publicada no periódico O Crepusculo, do Instituto Literário de Salvador. A redação da revista inicialmente comentou as pesquisas do padre com extrema ironia. Foram contrários à existência da localidade, principalmente pelo fato de não existirem outros restos de civilização pré-histórica no Estado. Para estes intelectuais, seria um melhor investimento da expedição o levantamento topográfico da Bahia.
E de certa forma foi o que propôs este último relatório, enviado para o também descrente presidente da província. Benigno não citou uma única vez em toda a narrativa o tema da localidade abandonada. Seus estudos foram baseados em um mapa enviado pelo general Andréa, do qual não forneceu maiores detalhes. Basicamente, o padre questionou as bases empíricas de todo o levantamento cartográfico existente a respeito do interior da Bahia, nos mapas de Eschwege, Spix e Von Martius. O relato possui um momento curioso comparado com outras cartas do padre. Dedicou muitas linhas para descrever com grande entusiasmo uma caverna situada no rio Prata, onde percebemos um surgimento de imagens delirantes, típicas de exploradores em situações de extrema dificuldade ou frustração.
Em meados de 1846 o general Andréa, com aprovação da assembléia provincial da Bahia, retirou as ordenanças e o auxílio financeiro ao expedicionário. Benigno permaneceu em campo, provavelmente na região do Sincorá até 1848. Surgiram boatos de que teria ficado louco, escutando sinos e outros sons. Escreveu para o bispo Romualdo Seixas, solicitando faculdades espirituais para beneficiar os habitantes da nova cidade a ser descoberta, onde em breve entraria. Outros rumores desse período diziam que Benigno teria realmente encontrado as almejadas ruínas, e que minérios preciosos estariam sendo explorados por seus superiores hierárquicos26. O que sabemos de concreto é que retornou frustrado para Salvador, vindo a falecer nesta cidade em 1849.
Neste momento refletimos sobre as razões de tanto empenho por parte de Benigno. Seriam apenas fantasias individuais? A fé cega em um mito não pode ser entendida apenas nessa perspectiva, pois como afirmou Girardet, "o mito só pode ser compreendido quando é intimamente vivido, mas vivê-lo impede dar-se conta dele objetivamente"27. Dessa maneira, acreditamos que a análise mítica pode partir de um referencial social de longa duração, mas explicando as atitudes individuais em um contexto histórico. Tanto o comportamento quanto as imagens do desafortunado religioso foram semelhantes às de aventureiros e religiosos que também buscaram outras cidades imaginárias durante a história americana. O maravilhoso ? as imagens que expressam o desconhecido geográfico através do fantástico ? são as estruturadoras básicas dessas aventuras. Os conquistadores coloniais, bandeirantes e arqueólogos modernos, desta maneira, foram impelidos por razões diferenciadas (políticas, econômicas ou culturais), mas seguindo as mesmas diretrizes: a busca por cidades imaginárias, situadas em regiões desconhecidas do incógnito brasileiro. O entusiasmo inicial em ambos os tipos de buscadores não era apoiado em evidências diretas, mas geralmente pelo mecanismo da paralipse. Uma estratégia narrativa que consiste em transferir a autenticidade do relato ou da existência de uma localidade imaginária para outros personagens. O famoso Walter Raleigh, ao tratar do Eldorado, legitimou sua existência com informações de indígenas locais, do mesmo modo que Benigno ao utilizar-se do folclore baiano.
O maravilhoso também foi um reflexo do poder. Os aventureiros coloniais expressaram em seus atos aos indígenas, a imagem do poder imperial europeu. E os representantes do IHGB ampliaram as fronteiras do conhecimento geográfico, ao mesmo tempo em que realizaram atividades de interesse da elite imperial. Se para os conquistadores, as cidades imaginárias estruturavam-se em imagens de abundantes riquezas, atendendo aos interesses mercantilistas do colonialismo, para os arqueólogos do império brasileiro as nossas ruínas irreais atendiam ao ideal da construção de uma nova ordem social e política ? a nação dos trópicos.
E a cidade perdida? Quase findando a década, surgiu uma última e desesperada tentativa de elucidar o mistério. Estamos no ano de 1848. O major Manoel Rodrigues de Oliveira enviou da Bahia para a capital um estudo contestando a localização proposta por Benigno ? região do Sincorá ? e propondo uma nova interpretação do documento, baseada principalmente em indícios encontrados no interior da província. Oliveira chamou a atenção dos intelectuais cariocas para duas regiões em especial, a primeira situada entre a vila de Belmonte (entre os rios Paraguaçu e Una, centro-sul da Bahia), e a outra em Provisão (sudoeste baiano, próximo à cidade de Camamu). Na primeira foram localizados vestígios de móveis antigos, louças, balaústres, ferramentas, vidros, e na segunda, foices, machados e espadas de ferro. Tratava-se, obviamente, de objetos pertencentes a grupos exploradores, mineradores ou antigas guarnições coloniais. Inclusive, no relato original da cidade perdida, não ocorre nenhuma referência a móveis, alfaias ou objetos cotidianos como vidros e louças, pois os bandeirantes encontraram as casas somente em ruínas. Peças de ferro e ferramentas também não faziam parte da Relação. O único e exclusivo ponto em comum com esses objetos coloniais, foi a menção de uma moeda de ouro ao final do manuscrito.
Ao mesmo tempo em que criticou as pesquisas do cônego, Oliveira concebeu hipóteses fantasiosas muito mais ousadas do que seu predecessor. Fez um breve esboço do alcance urbano dessa perdida civilização no centro da Bahia. Teriam construído um ancoradouro às margens do rio Paraguaçu, uma estrada de acesso próximo ao rio Una, e as pedreiras de mármore da serra teriam sido utilizadas para fabricação de estátuas e monumentos. Mas para as vistas da intelectualidade carioca, os pontos levantados pelo major tiveram uma aceitação reservada. Constituíam sem qualquer margem de dúvida provas concretas de que o sertão possuía um passado desconhecido, mas que a exploração empírica falhava em atingir. O documento enviado também recordou o caráter utilitário para a formação de novas expedições de busca: a descoberta de riquezas para o império28.
Mas com a morte do desafortunado cônego Benigno em 1849, morreram também as expectativas do império brasileiro em encontrar o seu "espelho" civilizacional na pré-história. Esse eclipse da cidade perdida no período se deve também em parte aos protestos de intelectuais baianos. O presidente e a assembléia provincial nunca foram favoráveis aos intentos de Benigno. Seu fracasso apenas reforçou essas convicções. Mesmo o estudo do major Manoel Oliveira foi severamente contestado. Outro militar, o brigadeiro José da Costa Bittencourt Camara, publicou em 1849 na revista Razão (Canavieiras, BA), uma crítica às conclusões de Oliveira. O brigadeiro acreditava que o documento bandeirante era apócrifo. Algum explorador esperto teria descoberto diamantes no Sincorá ficando muito rico, mas por remorsos teria fabricado o dito roteiro, baseado nas formas geológicas do local. Também algumas importantes agremiações de Salvador opunham-se à existência dessas ruínas, como a Sociedade Instructiva e o Instituto Literário. Um sócio do IHGB, Theophilo Benedicto Ottoni, concordava em opinião com o brigadeiro José Camara. Tendo também explorado o Sincorá, acreditava que o roteiro bandeirante era uma alegoria das minas de diamante da região, elaborado para disfarçar a sua exata localização. Estabelecia ainda que alguns detalhes do relato realmente eram verdadeiros, porém obras da natureza.
Ao final da década de 40, temos também como opositor ninguém menos que o bispo metropolitano da Bahia, o marquês de Santa Cruz. Acusou o desiludido cônego de ter-se afastado de suas ocupações eclesiásticas básicas, perseguindo uma quimera e efetuando uma "empresa verdadeiramente cômica." Mas sabemos que o próprio bispo foi um dos grandes instigadores da busca dessa controvertida localidade. Assim, dos pontos de vista político, econômico e mesmo cultural, a existência das ruínas baianas passou para segundo plano, sendo o ano de 1849 um divisor das pesquisas arqueológicas no império. Marcou o fim de um período de muito entusiasmo, em que o mito foi um grande atrativo para os pesquisadores.
CONCLUSÃO: AS METAMORFOSES DO MITO
As ruínas buscadas por décadas no império brasileiro possuem uma especificidade histórica bem definida, constituindo um conjunto de imagens relacionadas com o advento da arqueologia moderna. Imagens estas determinadas por parâmetros mediterrânicos, a exemplo das cidades romanas como Pompéia e Herculano. Sabemos hoje que essas ruínas brasileiras nunca existiram, e o que os estudiosos perseguiram foi uma miragem, um mito arqueológico. A cidade perdida da Bahia, concebida através do manuscrito 512, esteve impregnada de elementos culturais setecentistas, como detalhes arquitetônicos, pórticos, pirâmides, estátuas, praças, e principalmente, vestígios epigráficos. Sua interpretação pelos acadêmicos oitocentistas deve ser entendida por meio de teorias arqueológicas vinculadas com esse momento, a exemplo do difusionismo e das recentes descobertas de ruínas maias na América Central.
Mas este contexto histórico não explica a credibilidade e longevidade do mito, apenas sua especificidade temporal. O manuscrito bandeirante despertou inicialmente o interesse acadêmico (1839), mas a sua legitimação ? o primeiro passo efetuado para diferenciar a Relação de uma simples fábula, oposta à razão, o confronto entre mythos e logos ? ocorreu somente quando houve contato com o folclore baiano a respeito das cidades encantadas. Em 1840, intelectuais enviaram de Salvador para a capital notícias desses relatos, e a partir de 1841, o explorador Benigno de Carvalho, já em campo, recolheu inúmeras outras descrições orais. Desta maneira, a palavra concedeu uma legitimidade ao mito, muito maior que a escrita: "a verdadeira vida do mito tem sua fonte em uma palavra viva"29. A literatura e a escrita formam o grande valor demonstrativo do logos, contraposto à palavra do mythos. Com a afirmação de moradores da Bahia terem visto ou visitado tais ruínas, criaram-se condições muito mais profundas de sedução para a imagem da cidade perdida: "a narração oral desencadeia no público um processo de comunhão afetiva com as ações dramáticas que formam a matéria da narrativa"30. Desta maneira, um manuscrito velho, rasgado, quem sabe apócrifo, sozinho não explica porque houve tanto empenho por parte da academia, esta financiando expedições custosas e perpetuando o mito arqueológico por toda a década. A cultura erudita acabou fundindo estruturas narrativas próprias com as mantidas pela cultura popular ? cuja origem, por sua vez, provém de bases míticas muito mais antigas, herdeiras diretas de imagens coloniais.
Após esse momento inicial de legitimação, o mito passou a ter um valor de paradigma, constituindo um modelo de referência para se pensar no passado brasileiro. A partir de 1840, a aceitação da antiga existência da geração perdida ? uma civilização muito avançada, mas desaparecida sem deixar quase nenhum vestígio ? nos demonstra a inclusão do mito na História. Uma narrativa fabulosa, irreal, foi interpretada dentro de um discurso "verdadeiro", autenticando uma forma ideal de como deveria ter sido o Brasil dos tempos antigos, sem nenhuma evidência concreta para confirmá-la:
Dentro do que o saber histórico chama de 'mitoso', o ilusório se nutre da memória antiga, e o fictício se apropria das narrativas dos logógrafos, das investigações dos arqueólogos e das litanias dos genealogistas.
A partir desse pressuposto, toda uma escala de valores sociais foi reforçada, a exemplo do caldeamento racial proposto por Von Martius em 1845. O sentido de civilização que se pretendia criar nos trópicos durante o império foi baseado em um modelo situado na aurora dos tempos, uma sociedade sofisticada, mas que decaiu e cujos resquícios deveriam ser resgatados a todo custo. Um monumento que refletiria o Brasil para o mundo, para as grandes nações do Ocidente, completando todas as ansiedades e ausências simbólicas que o segundo império enfrentava no seu início: "Em sua forma autêntiva, o mito trazia respostas sem jamais formular explicitamente os problemas."
A partir desse momento paradigmático, em que a cidade perdida serviu de referencial ético, social e civilizatório para o império, o mito assumiu conotações muito semelhantes a estruturas míticas universais. Sua busca, neste contexto, foi similar à de outros mitos, em locais e épocas diferentes:
(...) no seio de uma cultura os mitos, quando nos parecem se contradizer, correspondem-se tão bem uns aos outros que fazem referência, em suas próprias variáveis, a uma linguagem comum, que estão todos inscritos no mesmo horizonte intelectual e que só podem ser decifrados no quadro geral onde cada versão particular assume seu valor e seu relevo em relação a todas as outras.
De uma perspectiva histórica e única, podemos então observar semelhanças atemporais com as cidades imaginárias do período colonial, e mesmo com modelos clássicos. Tanto a Atlântida, o Eldorado, o lago Eupana e Parimé, como a cidade perdida da Bahia, foram buscados por propósitos diferentes, sejam motivos de ordem econômica, colonialista, científica, cada um dentro do contexto social de sua época. À medida que essas narrativas prolongam sua existência, modelos míticos básicos surgem em sua elaboração. Assim, aparecem constantes atemporais, como as motivações paradisíacas e o retorno da Idade do Ouro: imagens de uma antiga ordem, de um tempo idílico situado no início da humanidade, que revela a inocência total e a felicidade social absoluta. Outra constante foi o deslocamento geográfico ? toda cidade imaginária foi buscada em diversos locais, movendo-se conforme o devassamento do ignoto e o processo de colonização. Sempre baseadas no mecanismo do maravilhoso, essas narrativas acabaram encontrando suas limitações justamente na esfera territorial. Quando o espaço desconhecido tornou-se esgotado em todos os seus aspectos, o mito arqueológico foi eliminado de seus símbolos básicos, sendo contestado racionalmente. Aqui ocorreu um retorno ao confronto entre mythos e logos: o que era entendido antes como realidade, agora é transportado novamente ao terreno da fantasia, do quimérico, do irreal. As ruínas da Bahia, ao final do império, foram eliminadas do campo acadêmico, relegadas a uma condição de miragem provocada por antigos pesquisadores. Porém, toda elaboração simbólica nunca morre definitivamente, sendo transformada em uma nova narrativa, ocasionando sua sobrevivência para o novo século: "os mitos se respondem mutuamente e o aparecimento de uma versão ou de um mito novo se faz sempre em função daqueles que já existiam anteriormente". Assim, se para a ciência oficial a cidade perdida tornou-se uma aberração fantástica, por sua vez, estrangeiros e amadores brasileiros promoveram dezenas de expedições em sua busca, no início do século XX até nossos dias.
O historiador pode unicamente entender o lugar do mito na História, e nunca o seu significado mais profundo, pois ao racionalizar formas emotivo/imaginárias, penetra no campo da experiência, na ordem do existencial. Seja na forma de cidades feitas de ouro, ou de magníficos resquícios arquitetônicos, o mito assumiu várias páginas fascinantes da história brasileira, e que não podendo ser compreendido em sua totalidade, ao menos pudemos vislumbrar sua importância para o imaginário dos tempos imperiais.
O Manuscrito 512
O manuscrito 512, ou documento 512, consiste em um dos arquivos manuscritos da época Brasil colonianista que está guardado no acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Tal documento, tem caráter expedicionário, e consiste em um relato de um grupo de bandeirantes, embora o nome de seu autor seja desconhecido.
Este manuscrito é a base da maior fábula arqueológica nacional, e um dos mais famosos documentos da Biblioteca Nacional. O acesso ao relato original é extremamente restrito atualmente, embora uma versão digitalizada dele tenha sido disponibilizada recentemente com a atualização digital da biblioteca nacional.
Descoberta e Valorização
Não obstante a datação do anos de 1753, estima-se que a escritura seja realmente setecentista por determinados aspectos relatados, seu descobrimento e noção de relevância, contudo, ocorreram apenas em 1839. De forma um tanto irônica para com a importância do documento, e ainda de maneira a reforçar todo o mito que envolve o objeto, o documento 512 foi encontrado ao acaso, esquecido no acervo da biblioteca da corte (então a biblioteca nacional).
O manuscrito, muito antigo, e já deteriorado pelo tempo, foi descoberto por Manuel Ferreira Lagos, e posteriormente entregue ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB); foi nas mãos de um dos fundadores do instituto que a escritura teve seu real valor reconhecido e e divulgado: após leitura o cônego Januário da Cunha Barbosa publicou uma cópia integral do manuscrito na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, com a adição de um prefácio no qual esboçava uma teoria de ligação entre o assunto do documento e a saga de Roberto Dias, um homem que fora aprisionado pela coroa portuguesa por se negar a fazer revelações a respeito de minas de metais preciosos na Bahia.
Em um contexto de busca da identidade nacional, e valoração dos atributos brasileiros, o documento ganhou um destaque e um enfoque cada vez maiores ao longo dos anos, tanto por parte de aventureiros, como intelectuais, religiosos, e até do próprio imperador Dom Pedro II. O tão investigado relato que faz o documento, e que foi motivo de sua relevância ao longo da história defendido arduamente por muitos, contestado calorosamente por outros, e obsessivamente buscado por alguns: o documento 512 traz o relato do encontro de alguns bandeirantes com as ruínas de uma cidade perdida, uma civilização arruinada em meio à selva brasileira com indícios de desenvolvimento cognitivo, além de riquezas, e um fim desconhecidos.
O Mito da Cidade Perdida
O documento que hoje traz o subtitulo de Relação histórica de uma occulta e grande povoação antiquissima sem moradores, que se descobriu no anno de 1753, narra o encontro do grupo de bandeirantes com ruínas de uma cidade perdida e desconhecida até então.
O relato da expedição, em sua parte mais conhecida, conta que houve quem avistasse de uma grande montanha brilhante, em consequência da presença de cristais e que atraiu a atenção do grupo, bem como seu pasmo e admiração. Tal montanha frustou o grupo ao tentar escalá-la, e transpô-la foi possível apenas por acaso, pelo fato de um negro que acompanhava a comitiva ter feito caça a um animal e encontrado na perseguição um caminho pavimentado em pedras que passada por dentro da montanha rumo a um destino ignorado.
Após atingir o topo da montanha de cristal os bandeirantes avistaram uma grande cidade, que a princípio confundiram com alguma pole já existente da costa brasileira e devidamente colonizada e civilizada, todavia ao inspecioná-la verificaram uma lista de estranhezas entre ela e o estilo local, além do fato de estar em alguns trechos completamente arruinada, e absoluta e totalmente vazia: seus prédios, muitos deles co mais de um andar jaziam abandonados e sem qualquer vestígio de presença humana, como móveis ou outros artefatos.
A entrada da cidade era possível apenas por meio de somente um caminho, macadamizado, e ornado na entrada com três arcos, o principal e maior ao centro, e dois menores aos lados; o autor do texto expedicionário observa que todos traziam inscrições em uma letra indecifrável no alto, que lhes foi impossível ler dada a altura dos arcos, e menos ainda reconhecer.
O aspecto da cidade narrada no documento 512 mescla caracteres semelhantes aos de civilizações antigas, porém traz ainda outros elementos inidentificados ou sem associação; o cronista observa que todas as casas do local semelhavam à apenas uma, por vezes ligadas entre si em uma construção simétrica e uníssona.
Há descrição de diversos ambientes observados pelos bandeirantes, admirados e confusos com seu achado, todos relatados com associações do narrador, tais como: a praça na qual se erguia uma coluna negra e sobre ela uma estátua que apontava o norte, o pórtico da rua que era encimado por uma figura despida da cintura para cima e trazia na cabeça uma coroa de louros, os edifícios imensos que margeavam a praça e traziam em relevo figuras de alguma espécie de corvos e cruzes.
Segundo a narrativa transcrita no documento, próximo a tal praça haveria ainda um rio que foi seguido pela comitiva e que terminaria em uma cachoeira, que aparentemente teria alguma função semelhante a de um cemitérios, posto que estava rodeada de tumbas com diversas inscrições, foi neste local que os homens encontraram um curioso objeto que segue descrito a seguir.
Entrementes, quando a expedição seguiu adiante e encontrou os rios Paraguaçu e Una, o manuscrito foi confeccionado em forma de carta, com o respectivo relato, e enviado às autoridades no Rio de Janeiro; a identidade dos bandeirantes do grupo aparentemente foi perdida, restando apenas o manuscrito enviado, e a localização da cidade supostamente visitada tornou-se um mistérios que viria atrair atenção de renomadas figuras históricas.
A Moeda de Ouro e O Rapaz Ajoelhado
O único objeto mencionado pela expedição de bandeirantes, que foi encontrado ao acaso, e descrito cuidadosamente na carta consiste em uma grande moeda confeccionada em ouro. Tal objeto, de existência e destino incógnitos, trazia emblemas em sua superfície: cravados na peça havia em uma face o desenho de um rapaz ajoelhado, e no reverso combinados permaneciam as imagens de um arco, uma coroa, e uma flecha.
Trechos Integrais do Manuscrito 512
(...) collumna de pedra preta de grandeza extraordinaria, e sobre ella huma Estatua de homem ordinario, com huma mao na ilharga esquerda, e o braço direito estendido, mostrando com o dedo index ao Polo do Norte; em cada canto da dita Praça está uma Agulha, a imitação das que uzavão os Romanos, mas algumas já maltratados, e partidos como feridas de alguns raios. (...)
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